A alusão mais antiga que se conhece ao moinho de água encontra-se num pequeno poema de Antipatros de Salónica, cuja datação é desconhecida, mas que se presume ser de 85 a. C.
O moinho de água, de roda horizontal (rodízio) é originário das zonas montanhosas da Grécia, supondo-se que foram introduzidos pelos Romanos, quando da ocupação, porque foram encontradas várias mós perto de Conimbriga. Além do mais, segundo alguns historiadores os Visigodos, no século V, já os consideravam de uso vulgar na Península.
De facto, o moinho de rodízio não só subsistiu em plena actividade com uma larguíssima difusão, mormente nas zonas rurais, como a nossa, como era o mais usual, em número muito superior ao das azenhas.
A título de curiosidade: por volta de 1968, de cerca de 10 000 ainda em funcionamento no país, cerca de 3 000 eram de vento, e de cerca de 7 000 movidos a água, uns 5 000 provavelmente eram de rodízio.
Tudo isto nos faz pensar no trabalho havido na construção de açudes, levadas e moinhos, e na sua constante manutenção; um profícuo saber especializado que não se aprendia nas escolas nem nos livros, mas sim na experiência própria e das gerações passadas.
Os pequenos moinhos de rodízio, e lembrando-nos do da Quinta, pertenciam às comunidades e eram explorados em bases cooperativas, usados à vez por cada família, dum tanto em tanto tempo, ora de noite ora de dia.
Não dispomos de elementos que permitam situar exactamente a data da construção do moinho comunitário do Colmeal. No entanto, isso sabemos, no «Foral que Gonçalo Vasques Senhor de Gões deo a Villa em Coimbra» em 5 de Janeiro de 1352 (ano de Cristo de 1314) se dizia: «no colmial (…) se fizeram os moinhos no Ribeiro devê dar o quarto da Maquia e se os fizerem no rio devem dar o terço».
Hoje, os velhos moinhos movidos pelos agentes naturais acabaram ou pelo menos estão feridos de morte, porque faziam parte de um sistema tecnológico, económico e social que deixou de constituir resposta adequada às condições do mundo presente; além das causas gerais que explicam esta mutação, a ruptura do modelo da sociedade campesina, com os seus valores tradicionais, a casa, a terra, a agricultura.
O moinho da Quinta, no qual muitos colmealenses possuem alguns avós talvez sem o saberem, não fugiu à regra: encontra-se desactivado há anos, tocado de morte, em degradação. No entanto, ainda é possível e desejável a sua recuperação, pelo menos como «museu» para mostrar aos vindouros e forasteiros algo de um passado muito distante.
Logicamente, não vamos especular se o moinho foi ou não construído no século XIV, mas apelamos à boa vontade da família colmealense e da Autarquia Concelhia para não deixar perder mais esta peça da «arqueologia» goiense.
BIBLIOGRAFIA: - Sistemas de Moagem, I.N.I.C.; Arquivo Histórico de Góis, Mário Paredes Ramos.
FERNANDO COSTA
in “O Varzeense”, N.º 174, de 15 de Março de 1987
1 comentário:
Ao ler este texto apetece lançar o desafio... Vamos reconstruir mais uma vez o "nosso" moinho?
Alguns Colmealenses já manifestaram apoiar esta ideia, mas são precisos muitos mais para que a obra possa avançar.
Manuela Costa
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