Com
o título “Presidentes de pouca gente” o diário Correio da Manhã (CM) publicou
hoje, 18 de Novembro de 2012, três histórias
de três presidentes de outras tantas freguesias que vão ser extintas.
Freguesias pequenas de Bigorne (concelho de Lamego), de São Bento da Ana Loura
(concelho de Estremoz) e do Colmeal, a nossa freguesia, uma das cinco do
concelho de Góis.
Nesta
fotografia vemos Carlos de Jesus, presidente da Junta de Freguesia do Colmeal,
que parece querer dizer ao secretário José Victor, que a freguesia do Colmeal é
pequena e que a querem esmagar, tirar do mapa… mas porquê?
“Entre as serras da Lousã e do Açor, a 20
quilómetros de Góis, uma estrada serpenteia monte acima até à freguesia do
Colmeal. Integra nove aldeias, 195 pessoas, é uma das freguesias apagadas pela
reforma administrativa de Passos Coelho. Com uma população envelhecida, onde os
serviços públicos escasseiam, a Junta é também aqui vista como fundamental.”
Assim começa o CM por se referir à nossa freguesia que o é desde 1560, quando o
Bispo de Coimbra D. João Soares entendeu por bem, face ao seu valor, elevá-la a
esse estatuto. Já lá vão 452 anos.
“Há pessoas que choram por causa disto.
Perdemos a escola, o centro de saúde, não temos transportes públicos e agora
vamos perder a freguesia. É uma injustiça para uma população envelhecida, onde
este serviço faz toda a diferença” refere Carlos de Jesus, de 60 anos, o
presidente da Junta que protesta ainda de uma decisão “traçada em Lisboa”. Continuando, Carlos de Jesus é bem claro quando
afirma que “Vamos lutar até ao fim contra
esta lei penalizadora. As pessoas procuram a Junta para preencher documentos,
para pedir lenha, apoios sociais, limpezas de terrenos, apoios a instituições e
ajuda na questão da TDT. Somos o apoio da população.”
Está
prevista no concelho de Góis a junção de Colmeal à freguesia vizinha do Cadafaz
passando as duas a ter a designação de União das Juntas de Freguesia de Colmeal
e Cadafaz.
Lisete
de Matos, moradora numa das aldeias mais afastadas da freguesia, utiliza com
frequência a Internet no edifício da Junta. “Faço nove quilómetros para aceder à Internet, pois o serviço que tenho
em casa tem falhas. O fim desta freguesia é uma machadada nas espectativas da
população. Vai contribuir para o abandono do território.”
A
freguesia do Colmeal tem sofrido ao longo dos anos o afastamento dos seus
filhos que procuram melhores condições de vida em outras paragens. Sempre foi
assim. Apenas vão ficando os mais idosos que resistem até ao dia de uma partida
que todos temos como certa. Isto passa-se nas nossas aldeias. Na cidade, na
capital, nos centros de decisão, nada nem ninguém sabe e conhece o interior do
país. De Góis, apenas sabem que em Agosto há uma concentração de motas.
Desertificação? O que é isso? Isolamento? Velhice? Solidariedade? Necessidades?
Dificuldades? Não sabem e não querem saber.
O
Correio da Manhã esteve no Colmeal no passado dia 13 a falar com as pessoas e a
ouvir a indignação nas suas reclamações choradas e sentidas. A tirar
fotografias para preparar esta reportagem para as “histórias” que hoje nos
apresentou no seu Suplemento. Daqui a uns anos é provável que o CM volte ao
Colmeal para uma nova reportagem. Talvez que esta rua que demorou tantos anos a
ficar melhorada no seu piso já não tenha quem por ela passe. A desertificação
também se nota nos que desistiram de pisar as pedras que tanto desejaram. A
eliminação da freguesia a tudo isto ajudará.
O processo polémico que
agrega, funde ou extingue mais de 1100 freguesias deverá estar concluído até
Dezembro. Mas as vozes não se calarão. E as dos Colmealenses serão certamente
as últimas.
Na próxima terça-feira,
dia 20 de Novembro, pelas 17 horas, haverá uma reunião extraordinária da
Assembleia Municipal de Góis, a fim de debater os problemas relacionados com a
proposta da Unidade Técnica para a Reorganização Administrativa do Território
(UTRAT), no sentido de proceder à agregação da freguesia do Colmeal com a do
Cadafaz.
Será uma oportunidade para
todos os Colmealenses fazerem ouvir a sua voz de descontentamento e de oposição
a este extermínio feito com a régua e o esquadro nos gabinetes do poder, onde
curiosamente, já se trabalha no projecto de um novo regime jurídico das
autarquias locais, que prevê a criação de novos órgãos e cargos, de nível
intermunicipal.
A. Domingos Santos