30 dezembro 2020

UNIÃO PROGRESSIVA DA FREGUESIA DO COLMEAL, NATAL 2020

 

Chuviscava e fazia frio. Pouco passava das nove horas e já estávamos a caminho. Chamava-nos a missão de lembrar aos mais novos que, apesar da situação difícil que vivemos, o Natal persiste como espaço e tempo de celebração, renovação e afeto. E foi uma festa porta a porta muito bonita, esta que a União Progressiva da Freguesia do Colmeal (UPFC) decidiu promover, através da sua delegação no Colmeal, na impossibilidade da realização do convívio entre geracional a que estávamos habituados. Uma iniciativa muito louvável e gratificante, que reflete o carinho das pessoas, o empenho da instituição e a sua capacidade para fazer diferente, em diferentes circunstâncias.

No Carvalhal, por onde começámos, esperavam-nos, entre alguns adultos, o Tiago, o Miguel, o Mikael, o Ulisses e a Frida, os últimos da Ribeira do Carvalhal. A Ester, sua irmã, não compareceu. De poucos meses de idade e protegida pelo abraço caloroso da sua mãe, lembrará, seguramente, o Menino cujo nascimento celebramos! Muitos parabéns e felicidades.





Em Aldeia Velha, onde o frio parecia mais intenso, mas o calor humano compensava, teve-se a grata surpresa de encontrar alguns dos mais velhos, que, como eu, são apreciadores do convívio alargado que este ano a UPFC não pôde fazer. Não menciono nomes, para não correr o risco de esquecer alguém, mas gostei muito de os rever. Como aos “caçulas” do Tomaz, da Quinta das Águias, a Sofia e a Maria, com apenas um ano, que parecia um esquimó delicioso! Todos os nossos concidadãos fossem empreendedores como o Tomaz e não teríamos problemas demográficos!







Na Malhada, para onde seguimos, lá estavam a Ambar e a sua mamã, muito cumpridoras, mantendo-se à porta, acolhedoras mas distantes. Logo ali ao lado, a D. Lurdes queixava-se da falta de telefone: “Não tenho visto ninguém, e nem telefone tenho para me distrair”. De pouco lhe serviu a minha solidariedade, por me queixar do mesmo!



Na Foz da Cova, foi a vez de reencontrar o Salomão e o Loan, que solicitamente vieram ter connosco à entrada da povoação. Muito responsáveis, mãe e filho mais velho com máscara e os maiores cuidados, em benefício próprio e nosso.






No Soito, o Iuri e o André esperavam-nos, no largo. Autênticos homenzinhos, simpáticos e faladores! Olha-se para o Iuri e o coração estremece-nos da lembrança! Tal como no Carvalhal, a constituir um bom sinal, avistámos várias pessoas.






Finalmente, no Colmeal, a Maia e o Diniz aguardavam-nos com expetativa. A Matilde não estava, mas já se agilizou uma forma de a contemplar. Na terra sede da ex freguesia do Colmeal, onde os convívios de Natal tinham lugar, implicando um movimento significativo, foi para mim algo estranha e penosa aquela entrega das lembranças, no largo, e com a presença apenas dos pais das crianças. Tão pouca gente e a necessidade de tanta, saturação do isolamento e do confinamento!






Em geral, as crianças receberam-nos e aos brinquedos com agrado e aparentemente surpreendidas com a visita matinal. Afinal, é cedo de mais para o Menino Jesus descer pela chaminé, e o Pai Natal nem sempre lembra as meninas e meninos que resistem, na serra. Gostei muito. Um ano passado sobre o nosso último encontro, estão todos muito mais crescidos, lindos e desenvoltos. Quando a Catarina lhes perguntava pela escola, os que a frequentam respondiam estar a correr bem. Uma conquista digna de merecido louvor, por parte deles, da escola e dos professores, alguns dos muitos heróis dos tempos exigentes que correm.

Enquanto presidente da assembleia geral da UPFC, agradeço a iniciativa à direção, presidida por António Domingos Santos e aos elementos da delegação local - Catarina Domingos, José Álvaro Domingos, Tiago Domingos e Elizabete Castanheira - o esforço, mas também o gosto e a alegria da sua concretização. Conforme anteriormente referido, não serão esquecidos os sócios e utentes do Lar da Sagrada Família, na Cabreira.

Desejo a todos – colmealenses, amigos e vizinhos - um Natal e um Novo Ano com muita saúde e tão feliz quanto possível.

Açor, Colmeal, 06 de dezembro de 2020.

Lisete de Matos


ROSTOS E SENTIMENTOS

 

Embora não sendo entendida em coisa nenhuma,

Obedecendo apenas ao ensinamento do decorrer dos anos,

Com cadências e desenganos,

Sem consentimento, vou dar a minha opinião,

Podem até julgar que é atrevimento.

Vou falar de alguns rostos que encontro no meu caminho,

E dizer que em cada um vejo amargura, sombra e azedume,

Igualmente medo e tristeza.

Principalmente as pessoas que, como eu, são de idade avançada.

Mais sentimos o peso da solidão,

Muitos de nós andamos em confusão,

Acho mesmo à beirinha da depressão.

Certamente que é devido às restrições relacionadas com a covid.

E não só!...

Seja como for, a verdade é que vivemos em desconforto colectivo,

Amargamente sentido.

Os nossos rostos tinham expressões bem mais bonitas.

Quando estávamos em equilíbrio, demonstrávamos alguma felicidade,

Mesmo sendo na quarta idade.

Deixávamos transparecer a nossa alma, onde se podia ver um lago azul,

De água límpida que brilhava com o Sol.

Faz-nos muita falta ver correr para nós braços abertos, 

A dar um forte e caloroso abraço,

Animando-nos sem cansaço.

E segredando-nos ao ouvido palavras de conforto e amizade,

Demonstrando-nos que estão connosco, disponíveis para ajudar

E compreender sem julgar.

Mostrando-nos, mesmo, a essência de um bom caracter

Disposto a alumiar o nosso caminho, quando há nuvens no céu

Ou noites de breu.

Ajudando, tanto quanto possível, a encontrar maneira

De ainda gostarmos de nós próprios, esquecendo as decadências,

Vivendo bem com as falências.

Seria tão bom se, em vez de sombras, pudéssemos sentir e ver

Este nosso mundo vestido de cores alegres e brilhantes,

Como estrelas no céu composto também com aroma campestre,

Em vez de perfume agreste.

Acredito ainda que todos vamos sorrir, para nos sentirmos mais leves

E, quase sem dar conta, seremos mais felizes.

Para alegria de quantos se cruzarem no nosso caminho.

A vida em sociedade seria bem mais grata, transmitindo simpatia

E sabendo ouvir os outros, porque, afinal, todos temos algo a dizer

Sobre o sentimento e dor que estamos a viver.

Para um mundo mais alegre e mais fácil de entender 

Vamos todos fazer força, para banir os intratáveis donos da verdade,

Os arrogantes, os preconceituosos, assim como os prepotentes.

Vamos ter esperança de encontrar, aqui ou noutro lugar,

A paz que nos encha o coração, sem nunca mais nos faltar.

Ainda vivo a sonhar,

Que um dia vou encontrar,

Quem sempre me vá dar,

Doces favos de mel,

E abraços a granel.


Josefina Almeida

Outubro de 2020


in O Varzeense nº 777 – 30Novembro2020


27 outubro 2020

Fotógrafo português venceu concurso internacional de fotojornalismo

 Parabéns ao “colmealense” Gonçalo!


O jornal “Expresso” online noticiou, anteontem, que um “Fotógrafo português vence prémio revelação do Leica Oskar Barnak Award”, referindo tratar-se de um dos mais prestigiados concursos de fotografia a nível mundial.

O vencedor foi o Gonçalo Fonseca, filho da nossa conterrânea Manuela Costa. Nasceu Lisboa, em 1993, estudou Jornalismo na Universidade Católica de Lisboa e decidiu dedicar-se totalmente à fotografia, tendo continuado os estudos na Universidade Autónoma de Barcelona, em Espanha. 

Foi um dos 70 jovens talentos, a nível mundial, nomeados para o prémio, por um conjunto de 65 peritos em fotografia, oriundos de 30 países.

Já tinha sido finalista em diversos concursos, nacionais e internacionais, tendo recebido três prémios – prémio Estação Imagem "Vida Quotidiana" 2020, o Young Artist no Educating the Eye Award (Espanha, 2019) e o prémio Allard Prize for International Integrity (Canadá, 2019).

O jornal Expresso, recorda ainda que “as suas fotografias foram expostas em Espanha, Canadá, Eslovénia, Alemanha, Reino Unido, Bélgica e China e publicadas pelo Expresso, TIME, Washington Post, Der Spiegel, El País, entre outros”.

O Gonçalo, além da distinção de vencedor, recebeu uma câmara fotográfica da marca Leica, no valor de 5.000 euros, e irá ainda frequentar um curso, na sede daquela prestigiada marca, na Alemanha.

Em 2018, o Gonçalo esteve a trabalhar na Índia e, quando regressou a Lisboa, ficou impressionado com as bruscas alterações que a capital tinha sofrido na sua ausência.  A sua sensibilidade de fotógrafo obrigava-o a documentar essas transformações.

Este prémio é o reconhecimento do seu valor artístico e da sua sensibilidade, como repórter fotográfico, revelado nesse trabalho que desenvolveu em Lisboa, em que deu rosto aos problemas humanos resultantes da gentrificação da capital. Isto é, ao aumento exagerado do valor das habitações, estimulado pelo aumento do turismo, o que conduziu à deslocação dos residentes com menor poder económico para outros locais e à entrada de novos residentes com maior poder económico. Tal fenómeno, que tanto impressionou o Gonçalo, já provocou a perda de habitações a mais de 10.000 pessoas

Uma imagem vale mais que mil palavras…


© Gonçalo Fonseca

(Imagem gentilmente cedida pelo autor)

 

O êxito do Gonçalo foi registado no site da Presidência da República, com realce para o carácter humano do seu trabalho:

“O Gonçalo Fonseca é um jovem fotógrafo português, pleno de sensibilidade, que alcança assim reconhecimento internacional com uma problemática cujos contornos, por vezes dramáticos, está agora patente aos olhos do mundo.

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa saúda este artista, deixando votos de múltiplos sucessos futuros”

 

Parabéns, Gonçalo! O teu sucesso, conquistado com um trabalho de carácter tão humano, enche-nos de orgulho!

 

Deonilde Almeida

15 outubro 2020

BELEZAS E RIQUEZAS DA SERRA. NO COMEÇO DO OUTONO

De manhã chovia miudinho. Uma chuva irritante que insinuava-se por toda a parte, tocada pelo vento que a ondulava. Ou encordoava, como ouvia dizer em pequena, sem perceber a alusão implícita ao torcido das cordas que atavam os molhos de mato, lenha e outras precisões.



A chuva parou, mas o vento intensificou-se. Fogoso, partiu pernadas de um castanheiro centenário, abriu janelas carentes de manutenção, fustigou oliveiras vergadas sob o peso da azeitona e da molha que as ensopava. Ao mesmo tempo meigo, tanto acariciou a espantalha que a despenteou, e zombou de um “tertulho” envergonhado que o despiu das ervas que o cobriam. Mas não o impediam de crescer, tal a energia com que o fazia, desafiado pelo parceiro que já brilhava, de chapéu aberto, vencedor. Vencedor, porque não é de todo fácil resistir em condições e circunstâncias tão adversas.



De repente, era como se o inverno frio tivesse chegado para revezar o verão quente, quando o outono mal tinha começado. O outono, uma estação de ocaso, por definição, que é suposto ser amena, de continuidade e transição e, nessa medida, calma e agreste, quente e fria, luminosa e sombria. Seguramente, tempo de plenitude, de juventude e velhice, de temporão e serôdio, de precoce e tardio. Propriedades evidentes, por exemplo, nos bandos de pais e filhos que esvoaçam por aí, agitados. Uns são residentes e veraneantes que ainda não partiram, como as felosas, outros, visitas precoces de inverno, como o pisco-de-peito-ruivo, que voltou mais melodioso que nunca.

Propriedades outonais materializadas, igualmente, nas flores e frutos primaveris e estivais que teimam em desabrochar, mais requintados ou desenxabidos, tanto na beleza como no aroma e sabor. Entre outros, é o caso das roseiras, da segurelha – tempero da chanfana de florinha azul minúscula -, das sécias e dálias, dos amores-perfeitos-silvestres, mais que perfeitos e encantadores! No campo das comestíveis sobressaem o fisális e os morangueiros e, no dos matos, a “magurice” (calluna vulgaris). Recém-regressada da destruição que sofreu, esta urze, também chamada ponteira, floresce tarde, avermelhada e agridoce, como o mel para que contribui, através do labor árduo das abelhas.




Finalmente, o outono, tempo maior de maturidade, generosidade e abundância. Refletidas nas colheitas que vemos pela janela da televisão e, por aqui, na infindável quantidade de mimos e promessa deles que ornamentam as espécies recuperadas do incêndio de há três anos. No campo das hortícolas destacam-se as várias aboboreiras, no das oleaginosas, os girassóis. Estes são plantas majestosas, de flores extrovertidas que, a determinada altura, abandonam o sol que as atraía, para se inclinarem cabisbaixas sobre o solo. Imagina-se que o façam para proteger as sementes deliciosas dos gulosos que as cobiçam! Debalde! Avidamente, os passaritos devoram-nas, usando para o efeito complexas e perigosas acrobacias. Nelas são exímios o chapim-real (o azul e o rabilongo ainda não reapareceram), o pintassilgo, o verdelhão e, este ano, até um pica-pau-malhado ou peto. Tendendo esta última ave para ser insetívora, sugeria um amigo que pode estar a tornar-se vegetariana, na senda da opção de muitos, por razões de saúde e ambientais.





No campo das árvores e arbustos, constituem exemplo de produção farta os castanheiros, as oliveiras, os diospireiros, os azevinhos e os ervideiros (medronheiros). Alguns dos primeiros já apresentam ouriços sorridentes, a um mês dos magustos que não vamos poder fazer, os últimos são de uma resiliência espantosa e comovente. Embora pequenos, muitos dos ervideiros que arderam no referido incêndio têm fruto, e flor, uma vez que a dão ao mesmo tempo. Por agora, mostram-se muito adequadamente temporões no fruto, serôdios, na flor para o próximo ano.





Enfim, uma enorme e fascinante diversidade em transformação, a natureza e a singeleza (também do texto) no seu melhor! Só falta mesmo revestir-se da sinfonia de cores que fará silêncio no inverno, para ressoar na primavera.

Não quis falar do outono da vida, da nossa. Mas, sobre ele, dizia o poeta e cardeal José Tolentino de Mendonça que (…) não é, portanto, o fim da história. Se o soubermos agarrar, é sim um ponto de partida avançado, que nos permite essa coisa urgente que é a "transfiguração" da vida, através de um paciente e esperançoso trabalho interior (https://www.snpcultura.org/paisagens_sonata_de_outono.html).


Lisete de Matos

Açor, Colmeal, outubro de 2020.