27 outubro 2020

Fotógrafo português venceu concurso internacional de fotojornalismo

 Parabéns ao “colmealense” Gonçalo!


O jornal “Expresso” online noticiou, anteontem, que um “Fotógrafo português vence prémio revelação do Leica Oskar Barnak Award”, referindo tratar-se de um dos mais prestigiados concursos de fotografia a nível mundial.

O vencedor foi o Gonçalo Fonseca, filho da nossa conterrânea Manuela Costa. Nasceu Lisboa, em 1993, estudou Jornalismo na Universidade Católica de Lisboa e decidiu dedicar-se totalmente à fotografia, tendo continuado os estudos na Universidade Autónoma de Barcelona, em Espanha. 

Foi um dos 70 jovens talentos, a nível mundial, nomeados para o prémio, por um conjunto de 65 peritos em fotografia, oriundos de 30 países.

Já tinha sido finalista em diversos concursos, nacionais e internacionais, tendo recebido três prémios – prémio Estação Imagem "Vida Quotidiana" 2020, o Young Artist no Educating the Eye Award (Espanha, 2019) e o prémio Allard Prize for International Integrity (Canadá, 2019).

O jornal Expresso, recorda ainda que “as suas fotografias foram expostas em Espanha, Canadá, Eslovénia, Alemanha, Reino Unido, Bélgica e China e publicadas pelo Expresso, TIME, Washington Post, Der Spiegel, El País, entre outros”.

O Gonçalo, além da distinção de vencedor, recebeu uma câmara fotográfica da marca Leica, no valor de 5.000 euros, e irá ainda frequentar um curso, na sede daquela prestigiada marca, na Alemanha.

Em 2018, o Gonçalo esteve a trabalhar na Índia e, quando regressou a Lisboa, ficou impressionado com as bruscas alterações que a capital tinha sofrido na sua ausência.  A sua sensibilidade de fotógrafo obrigava-o a documentar essas transformações.

Este prémio é o reconhecimento do seu valor artístico e da sua sensibilidade, como repórter fotográfico, revelado nesse trabalho que desenvolveu em Lisboa, em que deu rosto aos problemas humanos resultantes da gentrificação da capital. Isto é, ao aumento exagerado do valor das habitações, estimulado pelo aumento do turismo, o que conduziu à deslocação dos residentes com menor poder económico para outros locais e à entrada de novos residentes com maior poder económico. Tal fenómeno, que tanto impressionou o Gonçalo, já provocou a perda de habitações a mais de 10.000 pessoas

Uma imagem vale mais que mil palavras…


© Gonçalo Fonseca

(Imagem gentilmente cedida pelo autor)

 

O êxito do Gonçalo foi registado no site da Presidência da República, com realce para o carácter humano do seu trabalho:

“O Gonçalo Fonseca é um jovem fotógrafo português, pleno de sensibilidade, que alcança assim reconhecimento internacional com uma problemática cujos contornos, por vezes dramáticos, está agora patente aos olhos do mundo.

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa saúda este artista, deixando votos de múltiplos sucessos futuros”

 

Parabéns, Gonçalo! O teu sucesso, conquistado com um trabalho de carácter tão humano, enche-nos de orgulho!

 

Deonilde Almeida

15 outubro 2020

BELEZAS E RIQUEZAS DA SERRA. NO COMEÇO DO OUTONO

De manhã chovia miudinho. Uma chuva irritante que insinuava-se por toda a parte, tocada pelo vento que a ondulava. Ou encordoava, como ouvia dizer em pequena, sem perceber a alusão implícita ao torcido das cordas que atavam os molhos de mato, lenha e outras precisões.



A chuva parou, mas o vento intensificou-se. Fogoso, partiu pernadas de um castanheiro centenário, abriu janelas carentes de manutenção, fustigou oliveiras vergadas sob o peso da azeitona e da molha que as ensopava. Ao mesmo tempo meigo, tanto acariciou a espantalha que a despenteou, e zombou de um “tertulho” envergonhado que o despiu das ervas que o cobriam. Mas não o impediam de crescer, tal a energia com que o fazia, desafiado pelo parceiro que já brilhava, de chapéu aberto, vencedor. Vencedor, porque não é de todo fácil resistir em condições e circunstâncias tão adversas.



De repente, era como se o inverno frio tivesse chegado para revezar o verão quente, quando o outono mal tinha começado. O outono, uma estação de ocaso, por definição, que é suposto ser amena, de continuidade e transição e, nessa medida, calma e agreste, quente e fria, luminosa e sombria. Seguramente, tempo de plenitude, de juventude e velhice, de temporão e serôdio, de precoce e tardio. Propriedades evidentes, por exemplo, nos bandos de pais e filhos que esvoaçam por aí, agitados. Uns são residentes e veraneantes que ainda não partiram, como as felosas, outros, visitas precoces de inverno, como o pisco-de-peito-ruivo, que voltou mais melodioso que nunca.

Propriedades outonais materializadas, igualmente, nas flores e frutos primaveris e estivais que teimam em desabrochar, mais requintados ou desenxabidos, tanto na beleza como no aroma e sabor. Entre outros, é o caso das roseiras, da segurelha – tempero da chanfana de florinha azul minúscula -, das sécias e dálias, dos amores-perfeitos-silvestres, mais que perfeitos e encantadores! No campo das comestíveis sobressaem o fisális e os morangueiros e, no dos matos, a “magurice” (calluna vulgaris). Recém-regressada da destruição que sofreu, esta urze, também chamada ponteira, floresce tarde, avermelhada e agridoce, como o mel para que contribui, através do labor árduo das abelhas.




Finalmente, o outono, tempo maior de maturidade, generosidade e abundância. Refletidas nas colheitas que vemos pela janela da televisão e, por aqui, na infindável quantidade de mimos e promessa deles que ornamentam as espécies recuperadas do incêndio de há três anos. No campo das hortícolas destacam-se as várias aboboreiras, no das oleaginosas, os girassóis. Estes são plantas majestosas, de flores extrovertidas que, a determinada altura, abandonam o sol que as atraía, para se inclinarem cabisbaixas sobre o solo. Imagina-se que o façam para proteger as sementes deliciosas dos gulosos que as cobiçam! Debalde! Avidamente, os passaritos devoram-nas, usando para o efeito complexas e perigosas acrobacias. Nelas são exímios o chapim-real (o azul e o rabilongo ainda não reapareceram), o pintassilgo, o verdelhão e, este ano, até um pica-pau-malhado ou peto. Tendendo esta última ave para ser insetívora, sugeria um amigo que pode estar a tornar-se vegetariana, na senda da opção de muitos, por razões de saúde e ambientais.





No campo das árvores e arbustos, constituem exemplo de produção farta os castanheiros, as oliveiras, os diospireiros, os azevinhos e os ervideiros (medronheiros). Alguns dos primeiros já apresentam ouriços sorridentes, a um mês dos magustos que não vamos poder fazer, os últimos são de uma resiliência espantosa e comovente. Embora pequenos, muitos dos ervideiros que arderam no referido incêndio têm fruto, e flor, uma vez que a dão ao mesmo tempo. Por agora, mostram-se muito adequadamente temporões no fruto, serôdios, na flor para o próximo ano.





Enfim, uma enorme e fascinante diversidade em transformação, a natureza e a singeleza (também do texto) no seu melhor! Só falta mesmo revestir-se da sinfonia de cores que fará silêncio no inverno, para ressoar na primavera.

Não quis falar do outono da vida, da nossa. Mas, sobre ele, dizia o poeta e cardeal José Tolentino de Mendonça que (…) não é, portanto, o fim da história. Se o soubermos agarrar, é sim um ponto de partida avançado, que nos permite essa coisa urgente que é a "transfiguração" da vida, através de um paciente e esperançoso trabalho interior (https://www.snpcultura.org/paisagens_sonata_de_outono.html).


Lisete de Matos

Açor, Colmeal, outubro de 2020.