30 abril 2015

“AS ABELHAS, O MEL E O COLMEAL”, UMA EXPOSIÇÃO DE PINTURA


“As Abelhas, o Mel e o Colmeal” é uma exposição de pintura de Pedro Manuel Gaspar Freire, natural do Colmeal. Esteve patente durante o mês de Abril, na Casa da Cultura de Góis.

É uma exposição fantástica e surpreendente. Desde logo pela obra, tendo em consideração que o autor, conforme consta do folheto de apresentação da mesma, é autodidata e terá começado a pintar recentemente, como ocupação dos tempos livres.


Seguidamente, por se tratar de uma exposição pedagógica, que faz acompanhar as telas de textos explicativos da atividade ou situação a que se referem. Finalmente, pela precisão, encanto e carinho com que retrata uma apicultura que tinha muito de ato de amor, respeito e simbiose com a natureza.



Vendo a exposição de Pedro Freire, revisitei eu própria a minha infância, reencontrando, emocionada, o meu avô paterno José Martins, que era um apicultor apaixonado. Foi com ele, tal como o autor com o seu irmão Fernando, que retomei, agora sem medo e necessidade de toso, as operações descritas e outras. Entre elas: transferir sapos comilões de abelhas dos colmeais para as hortas onde são úteis; batucar os cortiços com duas pedras para as abelhas entrarem; perseguir enxames voadores, na esperança de os ver aterrar; saborear água-mel fresquinha, deliciar-me com o mel espesso, escuro e acidoce das urzes. Conservado durante mais de sessenta anos, em parte, nas tais panelas de barro vidrado por dentro, a que o autor alude, sabia também a saudade o mel do tempo do meu avô, que consumi recentemente!




Expressão de memorias pessoais e suscitadas (obrigada pela experiência), a exposição tem ainda o mérito de abordar uma problemática de grande interesse e atualidade, face à premência de (re)descobrir atividades que possam alavancar e sustentar o desenvolvimento económico, potenciando a atração e a fixação de novas populações.


Gostei muito. Não imaginava o autor, jurista de formação, a falar pictórica e metaforicamente sobre o Colmeal, terra e colmeia de gente e abelhas laboriosas ou sobre o mel doçura dos laços e afetos que prendem aos outros e às origens. A propósito, peço desculpas se as fotografias desvirtuam as cores dos óleos.




Parabéns pela obra e pela determinação em agarrar, na senda de outros colmealenses, uma atividade criativa e estética tão relevante quanto a pintura, desse modo se realizando pessoalmente e contribuindo para o enriquecimento do património cultural local e regional.

Açor, Colmeal, 28 de Abril de 2015

Lisete de Matos

26 abril 2015

Caminhada… é no sábado


Pelas Lendas da Levada dos Mouros” é já no próximo sábado. Os preparativos para a caminhada continuam a bom ritmo. Depois de um percurso exploratório feito no passado domingo identificando pontos de interesse e alguns pormenores a merecerem o indispensável trabalho de limpeza, tudo se conjuga para que esta jornada seja de são convívio entre os participantes e de fortalecimento dos laços já existentes entre as duas “novas” freguesias – Cepos e Teixeira e Cadafaz e Colmeal, bem como entre as associações regionalistas envolvidas, de Açor, Ádela e Colmeal.






Estas fotografias foram obtidas pelos “exploradores” no árduo trabalho de campo que vieram desenvolvendo durante a semana e nos podem dar uma pequena ideia do que se encontrará pelo caminho.




Como já anteriormente havíamos referido há vários algares e minas nas proximidades do percurso e que se encontram abandonados. Admitimos que esta caminhada venha dar alguma visibilidade para a existência do que poderemos considerar futuros polos de atracção e de interesse, caso dos algares e minas, cujo conhecimento e divulgação seria primordial para algum desenvolvimento localizado.
Chamamos a particular atenção para o perigo sempre latente que uma incursão num espaço destes poderá ocasionar pelo que todo o cuidado será pouco.

Reparamos que o seu nome ainda não se encontra na lista de inscritos. Pedimos-lhe que não deixe para o último dia a sua decisão de participar. Como calcula há toda uma logística que temos de preparar atempadamente para que tudo corra pelo melhor.

Contamos consigo! E não se esqueça do cajado… que ajuda muito.
ATÉ SÁBADO!

UPFC

Fotos de Amílcar de Almeida
  

17 abril 2015

Caminhada “Pelas Lendas da Levada dos Mouros”



Estamos apenas a duas semanas da realização da caminhada.
As avós dos Cepos num gesto notável, muito simpático e ternurento vão presentear os participantes com o seu café, o “café d’avó” e também com suas filhós, maravilhosas, como só elas as sabem fazer.

Com café e filhós para começar a jornada quem é que se atreve a ficar em casa?
E um percurso passando por algares e minas por onde andaram mouros e romanos?
E com tanta coisa interessante para descobrir entre os Cepos e o Colmeal…

Não esqueçam que os vários intervenientes na organização – União das Freguesias de Cepos e Teixeira, Comissão de Melhoramentos de Ádela, Associação Amigos do Açor, União Progressiva da Freguesia do Colmeal, União das Freguesias de Cadafaz e Colmeal e a Câmara Municipal de Góis, estão empenhados a desenvolver esforços no sentido de proporcionar aos participantes uma saudável jornada de convívio.

Não deixe para o último dia a decisão de se inscrever.
Recordamos-lhe os números de telefone: José Álvaro, Catarina e Tiago Domingos, 235761490 (noite), 967549505, 933344904 e 965344190.

Contamos com a sua compreensão.


UPFC
  

Notícias de Ádela e do Açor


Durante vinte e dois anos e alguns meses os Colmealenses foram sabendo novidades das suas aldeias através do pequeno Boletim Paroquial “O Colmeal”. No número 152 de Junho-Julho de 1979 encontrámos um apontamento que aqui reproduzimos e onde se dá conta da alegria e da festa que foi “até com foguetes” com a chegada da tão desejada electricidade.


Trinta e seis anos são passados desde que a electricidade chegou ao Açor e que os seus moradores da sua única rua puderam pôr de lado as candeias e os candeeiros a petróleo ou os petromax.
Hoje, no Açor, graças à luz eléctrica já se pode ver televisão e apreciar o trabalho de

Catarina Matos


Filha de Lisete Paula de Almeida de Matos, natural do Açor e de Pedro Adriano de Matos, de Angola, Catarina Matos entra em nossas casas ao serão, em horário nobre, integrada no elenco da telenovela “A Única Mulher”.
Iniciou a sua carreira em 1983 no Musical “ANNIE” e tem já um percurso considerável não só no cinema como em televisão e também no teatro. Em 1 de Dezembro de 2011 dávamos conta neste espaço da sua participação em “As Mulheres de Gil Vicente” então em cena na Casa da Comédia.


Desejamos-lhe as maiores felicidades e os maiores sucessos na sua vida pessoal e profissional. Parabéns aos pais pela filha que têm.

Arquivos da UPFC



Assembleia-Geral da União



No passado dia 24 de Março realizou-se na sua sede social e Casa do Concelho de Góis a Assembleia-Geral da União Progressiva da Freguesia do Colmeal onde foram apresentados o Relatório e Contas do mandato de 2013-2014.

Depois de lida e aprovada a acta da assembleia anterior, o presidente da Direcção leu o Relatório, prestou esclarecimentos adicionais e respondeu às questões suscitadas. O mesmo foi aprovado por unanimidade 

Os Corpos Gerentes eleitos para o período de 2015/2016 são os seguintes:

Assembleia-Geral
Fernando Pinto Caetano (Presidente); António Santos Almeida (Vice-Presidente); Maria Paula Gaspar de Almeida Ramos (1ºSecretário) e Jorge Miguel Domingos da Fonte (2º Secretário).
Direcção
António Domingos Santos (Presidente); Maria Lucília Domingos Pinto carreira da Silva (Vice-Presidente); Diana de Almeida Ramos (1º Secretário); Francisco José Carreira da Silva (2º Secretário); Artur Domingos da Fonte (Tesoureiro); Anabela Cerejeira Almeida Domingos (1º Vogal) e Joaquim Luís Pinto (2º Vogal).
Conselho Fiscal
António Manuel Henriques Mendes Domingos (Presidente); José Manuel da Costa Ramos (Relator) e Álvaro de Jesus Martins (Vogal).
Delegação no Colmeal
José Álvaro Almeida Domingos (Presidente); Catarina Alexandra Cerejeira Domingos (Secretário); Tiago José Cerejeira Domingos (Tesoureiro).

Terminada a sessão procedeu-se à tomada de posse pelos membros eleitos.


A Direcção

13 abril 2015

Notícias do Colmeal


Tomámos conhecimento ocasionalmente em A Comarca de Arganil do passado dia 9 de Abril que Pedro Freire, um filho do Colmeal, apresentava na Casa da Cultura em Góis uma exposição de pintura subordinada ao tema “As abelhas, o mel e o Colmeal”.


A União Progressiva da Freguesia do Colmeal congratula o Pedro Gaspar Freire por ter adoptado a pintura como uma excelente ocupação dos seus tempos livres e assim poder expressar na tela as imagens que desde pequeno guarda na sua memória.

Desejamos-lhe as maiores felicidades e um futuro de sucesso nesta nova vertente.




O Colmeal ficou mais pobre com o desaparecimento de Lucinda Costa de Almeida.
Filha de António Fernandes de Almeida e de Maria Preciosa de Almeida, deixou-nos a poucos meses de completar oitenta e oito anos de idade.
Regressou ontem para o Colmeal, a aldeia que a viu nascer.
À família enlutada a UPFC apresenta as mais sentidas condolências.


UPFC 

10 abril 2015

FESTAS DE VERÃO - Colmeal 2015



CHÁ DANÇANTE


" As Festas de Verão, em honra do Sr. da Amargura, terão lugar nos dias 8 e 9 de Agosto.

A organização dos festejos está a cargo de um grupo de dez senhoras oriundas do Colmeal e conta com a colaboração da UPFC, da Junta de Freguesia Cadafaz/ Colmeal e da Casa do Concelho de Góis.

Para a angariação de fundos realizar-se-á no próximo dia 18 de Abril, das 15 às 19 horas, na Casa do Concelho de Góis, um CHÁ DANÇANTE com a actuação da cantora Adriana.

Espera-se a participação da família Colmealense e amigos neste momento de convivío  onde não faltará a alegria, a boa disposição e algumas surpresas."

Pela Comissão de Festas

Manuela Costa

08 abril 2015

BELEZAS E RIQUEZAS DA SERRA. CABRAS DE ESTIMAÇÃO


Gente e povoações com nome, gente e povoações cujos nomes omito, com pena, por constituírem exemplo de persistência e resiliência, que importa enaltecer e homenagear. Vantagens e desvantagens da internet e dos meios de comunicação social, sinais da incerteza, única certeza em que vivemos. 

Este é um registo sobre pessoas e os seus modos de vida. Agradeço a todos, mulheres e homens meus amigos e concidadãos, que partilharam comigo a sua experiência de criação e tratamento das cabras, afirmando, com sabedoria, conhecimentos e competências que os tornam protagonistas essenciais da identidade e da vida na serra. Independentemente de as palavras, espero ter sido fiel ao seu pensamento, e contribuir para a visibilidade, o reconhecimento social e a valorização das práticas de que são testemunho.



São ainda bastantes as pessoas que têm cabras. Bastantes, porque todos somos poucos, os resistentes do tempo que passa, percursores, talvez, do tempo que vem. A sua idade varia entre os trinta e seis anos e os oitenta e quatro, predominando o escalão etário 50-60. O número de animais, já de si reduzido, é inversamente proporcional à idade. 

A maior parte destas pessoas residiu sempre nas aldeias. Cerca de metade trabalha por conta de outrem, os outros, maioritariamente reformados, ocupam-se de pequenos cultivos para consumo próprio e dos animais. E também para oferecer como lembrança a este ou àquele. A propósito, agradeço muito os queijos que me ofereceram, gesto e sabor que me fizeram lembrar a minha avó Leopoldina. Também por isso, obrigada. No caso dos casais, salvo exceções, as cabras constituem preocupação de ambos os cônjuges, verificando-se, apenas, diferenças que resultam da disponibilidade e da natureza das tarefas.

-“O …trata de tudo, menos ordenhá-las. Às vezes é mais difícil, especialmente no primeiro ano”. 

Uns têm os animais porque precisam do estrume para adubar as hortas, outros porque proporcionam uma ocupação saudável do tempo livre, todos, porque gostam e porque representam, através do autoconsumo, um contributo para a frágil economia das famílias. 


- “Como não tenho emprego e preciso de fazer alguma coisa, as cabras ajudam-me a passar o tempo. A serra é muito bonita, mas não posso ficar o dia todo a olhar para ela, até porque já a conheço! Mas passam-se muitos sacrifícios para trazer as cabras bem tratadas e, se não for para isso, não vale a pena tê-las. A gente também gosta de tudo lavado, da cama bem feita e de uma toalha limpa sobre a mesa”. 

- “Precisamos do estrume para as hortas, mas as cabras, sendo mansinhas, são uma companhia, um entretimento. Vamos aí para as fazendas e elas vão atrás. Dão muito trabalho, mas fazem-nos bem, obrigam-nos a sair de casa, a andar. Converso com elas, ando entretido. Enquanto puder, vou tendo, para nós, para a família … Ao menos sabemos o que comemos, e onde chega o que elas dão, não temos de comprar.”

- “Tenho as cabras porque gosto. Adoro. Parece que nem sei viver sem elas. Vou aí algures na estrada e digo: “olha que rica erva para as minhas cabrinhas.” É claro que também gosto do queijito e um cabritinho dá sempre jeito. Mas, para quem trabalha dificilmente compensa, pois, como não se podem tirar todos os dias, tem de se lhes comprar palha ou ração”. 

- “Gosto disto. Se não as posso tirar devido ao mau tempo ou outro motivo, até fico com saudades. E elas também! Chegada a hora de saírem, é ouvi-las a berrar e a marrar umas nas outras.” Por causa destas tropelias é que algumas portas de antigos currais tinham dois caravelhos ou tranca exterior. 



- “Tenho-as porque gosto. Toda a vida fui criada com isto e gosto. Além disso, faz-se um queijito, tira-se um cabritinho para comer, quem ainda trata fazenda, tem o estrume … Antigamente, é que a sobrevivência dependia do gado.”

- “Não, não é pelo rendimento. A gente afeiçoa-se, gosta delas. Mas é muito trabalho. Trato-as de manhã e à noite, depois do serviço. Quando há leite, faço queijo para nosso consumo, e temos estrume para usar e dar a quem não tem. O pior é serem uma prisão. A pessoa quer sair e não pode. Sim, porque não pode ir passear e deixa-las sozinhas a passar mal!”

- “As cabras pode-se dizer que são uma consequência da crise. Como há cada vez menos trabalho, tive tempo para construir o curral e vai dando para as ajudar a tratar. Não pelo rendimento, que praticamente não existe, mas pelo gosto …” 



Verdadeiramente, as cabras transformaram-se em expressão de afeto e animais de estimação. As motivações apontadas continuam a sugerir a prática da pastorícia como atividade complementar. No passado era complementar e indissociável da agricultura de subsistência, hoje, do trabalho assalariado ou da reforma. Com exceção para a referência à ocupação dos tempos livres e ao lazer, são motivações que remontam a meados do século passado, quando os grandes rebanhos começaram a desaparecer, em parte, por efeito conjugado da florestação dos baldios e do êxodo da população para a cidade. 

As cabras dão realmente muito trabalho. Precisam de água, muita comida, e do mato para a cama, que transformarão em estrume fertilizante da terra. Uns vão ao mato com meios mecânicos, outros de corda e roçadoira ao ombro, trazendo depois o molho às costas. 


Os reformados e desempregados tiram as cabras todos os dias, normalmente à tarde, os empregados, apenas nos dias em que chegam a casa a tempo de o fazer. Tiram-nas para arejarem e para encherem a barriga, roendo a erva e o mato tenro que encontram. Disseram-me que gostam de sair e por isso é que cabriolam de um lado para o outro, de cabeça no ar, antes de começarem a comer devidamente. De qualquer modo, é preciso ter pasto para as alimentar, no curral, dando-lhes a dejua de manhã, e a ceia à noite. As mais sortudas são tratadas várias vezes ao dia.


- “Para mim, o mais importante é o estrume e este ano nem lhes cheguei o chibo. Dão trabalho, mas é tudo uma questão de hábito. Dá-se-lhes bastante comer de manhã e elas aguentam até à noite, sem berrar. O pior mesmo é tirar o esterco e levá-lo para as fazendas, por causa da estreiteza dos acessos. Tem de se andar a transportá-lo com o carro de mão”. Em cesta à cabeça ainda se vê, mas pouco. 

Geneticamente melhoradas, as cabras têm hoje dois e mais cabritinhos. Carinhosamente, depois de os limparem, as mães empurram-nos com o focinho para debaixo do amojo, parecendo dizer: “Vá, mamem! Está quentinho!”. Mas como só têm duas tetas, quando as crias são três, é preciso assegurar que todas se alimentam. A mais frágil pode perder-se. Também há doenças e cabras muito isso, sem ofensa para as próprias, que enjeitam os filhos. Conheci uma que abandonou o filho para adotar um neto. Coisas da natureza! Neste caso, é preciso chegar o cabritinho noutra cabra, segurando-a ou alimentá-lo a biberão, gentileza que ele agradece, chupando sôfrego. Uma ternura, o bichinho e a cena! Se os filhotes não mamam, tem de se tirar o leite à mãe para não desamojar. Para darem mais leite arraçoam-se, isto é, mimam-se com guloseimas como ração, milho, aveia ou outra coisa substancial. Aliás, há quem isole as cabras com cria, de modo a mais facilmente lhes adoçar a boca e a proteger os pequeninos das patas e corpos folgados das restantes. 



Apesar de ser comum recorrer a um macho emprestado, não raro de povoação diferente, verifica-se uma certa tendência para ter um. Representa autonomia no atual contexto de escassez da oferta, mas também um custo acrescido muito elevado, considerando o escasso número de animais. Quando vem em serviço, o animal fica até ter cumprido a sua missão ou ser preciso noutro curral. A figura do comprador ambulante, que andava pelas terras, a emprestar o bode para mais tarde comprar os cabritos, parece ter desaparecido. 

- “Antigamente era melhor. Chegava-se o chibo às cabras em maio, para haver cabritos no Natal. Nessa altura, havendo bom pasto, o leite é melhor e, com quatro ou cinco litros, fazem-se dois bons queijos. Depois, o leite enfraquece, e só se faz aí um queijo e meio. Agora, com ele por perto, é em qualquer altura. Ouve-a a berrar? Quer chibo! Muito gordas, não cobrem, não tomam cabrito.” 

Visando manter as épocas e proteger as fêmeas cheias, há quem aloje o bode separado das cabras. Mas também há os que não prestam e têm de ser substituídos. Enfim: preso por ter cão, preso por não ter … 



A renovação dos efetivos faz-se usando os animais mais velhos para a chanfana, e ficando com uma ou mais crias, fêmeas ou macho, conforme as necessidades. Segundo nos disseram, as cabras têm de crescer juntas, para se darem bem. Há gente que nem assim! É frequente a preferência pelos animais mochos, que são menos marrões e perigosos. 

Caso se vendessem, um cabrito com um mês valeria uns cinquenta euros. Uma vez que o valor anda associado à gastronomia, mais velho já poderia valer menos, talvez oito, nove e meio ou dez euros por quilo. 

Todos gostam da pastorícia e dos animais, sendo evidente o carinho que nutrem por eles. Falam das cabras com enlevo. Sugerindo a própria mobilidade, não raro referem que esta veio daqui ou dali, que é filha, neta, ou bisneta de uma outra ou de um bode afamado. Chamam-lhes nomes que as descrevem, como Bonita, Boneca, Alentejana, Queta, Preta, Branca, Amarela, Riscada, Caiada, Pardusca, Calçadinha, Orelhas, Carriça, Coelha, Mocha, Bita, Estrela, Estrelada, Princesa, Xica, Pomba, Sarenta, Marmilada, Azul. E elas viram ou vêm, obedientes! Se não, levam logo com nomes menos simpáticos, mas igualmente calorosos! 

- “Sabe, há animais teimosos como as pessoas! E até inteligentes à sua maneira! Quando vão à minha frente, esta aqui, se eu me atrasar, põe-se a berrar e a olhar para trás. Se deixa de me ver, volta à minha procura. E, uma vez que eu adormeci, acordei com ela deitada ao meu lado, aí a um metro de distância. É muito mansinha!” 

Para as atrair em conjunto, usam-se chamamentos repetitivos como: “quiá, quiá, quiá …”; “queta, queta, queta…”; “anda, anda, anda … “eivz, eivz, eivz” “méee, méee, méee …” (para os cabritinhos). Algures, encontrei uma cabra que funciona como guia: chama-se a Estrela e as outras seguem-na, como se da estrela polar ou da de Belém se tratasse! 



Já pouco andando na serra, as cabras não correm o risco de se perder, mas várias continuam a usar chocalho ou campainha. Na ternura da companhia que se fazem mutuamente, no campo, há cabras que só comem acompanhadas. Nos fins de semana e férias, esporadicamente, devido à sua raridade, é possível encontrar crianças e jovens a acompanhá-las, enquanto teclam jogos ou SMSs efémeros em telemóveis, smartphones e outras tecnologias sofisticadas. SMSs, quando há rede, claro!

Algumas pessoas fazem queijo e requeijão. Para os fazer, fecham-se os cabritos que já comem no prisco durante a noite, e ordenham-se as cabras de manhã. Durante o dia, os cabritos podem continuar a mamar, pois, quanto mais chupam, mais leite a mãe dá. Quando o leite é pouco, junta-se o de dois dias e o que algum vizinho não usa. Estratégias de poupança e economia de recursos, que os frigoríficos facilitam. O requeijão é feito com o leite almeice, um subproduto do fabrico do queijo, que antigamente se comia com sopas de broa. Chamam a esse soro seca-relvas, mas não consta que secasse estômagos! 

Segundo um dos meus interlocutores, os cabritos desenvolvem-se mais se mamarem o leite todo. Assim, dado que as crias deste ano são para ficar, prescindiu de as empriscar e, consequentemente, de fazer queijo. 



Em geral, os animais não coabitam com as pessoas, como acontecia quando a habitação privilegiava as necessidades da economia de subsistência, em detrimento do conforto. Mas isso não significa menor desvelo ou proximidade afetiva. Estou a pensar nos autores que atribuem o alojamento dos animais, nas lojas e currais do piso térreo da habitação, à necessidade de os proteger e tratar frequentemente, e não ao mítico contributo que dariam para o aquecimento das casas. 

A acompanhar o declínio populacional e a transformação dos modos de vida, os rebanhos desapareceram e, com eles, os meninos e meninas pastores por obrigação e a troco de quase nada. Foram substituídos por uma, duas, três ou umas tantas cabras e por pastores por gosto, cujas motivações já não são de absoluta necessidade. Não representam uma fonte de rendimento significativa, mas continuam a contribuir para a autossuficiência das famílias e, nessa medida, a desempenhar um papel social e económico. Não mantêm a serra limpa dos matagais que a incendeiam, mas sempre vão roendo as ervas, que consomem a terra e as pessoas de a verem assim. Quanta evolução e, ao mesmo tempo, quanta sobreposição de tempos, valores, práticas e costumes! 

Todavia, persistem a vocação da serra para a caprinocultura e as potencialidades da atividade, no âmbito de estratégias atuais de economia empresarial e social. Para já, não se verifica apetência para o setor por parte das camadas mais jovens. Quem sabe, no futuro, em interação com o turismo rural e outras atividades terciárias? 

Lisete de Matos

Açor, Colmeal, 25 de março de 2015