30 março 2016

CONTOS DE FAJÃO



Os «Contos de Fajão» tão oportunamente recolhidos por Monsenhor Nunes Pereira tornam-nos espectadores de tramas movimentadas e pitorescas representadas por uma galeria de personagens finamente recortadas pelo olhar perspicaz, atento e sensível do artista, sobre a cultura e tradições da antiga vila de Fajão. Efectivamente, sem perda do colorido e sabor tradicionais, o recolector soube captar com todo o rigor e expressividade o imaginário da auto-caricatura introspectiva, contrastante na sua ingenuidade e sagacidade jocosa, por vezes brejeira, mas acima de tudo de raiz popular, traduzida no registo escrito dos contos.
O valor pedagógico desta obra é referenciado sobretudo na figura do «almocreve», herói cultural que introduz soluções oportunas e «miraculosas», nem sempre devidamente assimiladas, a exemplo de «A caça aos ratos» ou «Como os de Fajão iam à serra todos os dias buscar a manhã», como ainda na emblemática personagem do «Juiz», tão irreverente quanto protagonista de sentenças justas e prontas.
A obra encontra-se enriquecida pela introdução de reproduções de xilogravuras expressamente executadas por Monsenhor Nunes Pereira para ilustrar a temática de cada um dos contos. (A Direcção do Museu e Laboratório Antropológico 15Mai1989 - Na Nota Prévia à 1ª Edição)

COMO OS DE FAJÃO IAM À SERRA TODOS OS DIAS BUSCAR A MANHÃ


Antigamente os de Fajão não sabiam quando era manhã para se poderem levantar. Então resolveram em assembleia geral, que era na Raseira, escalar cada mês um lavrador para ir à Serra buscar a manhã. O que estava escalado prendia os bois ao carro, punha-lhe uns sacos em cima e abalava para a Serra, ainda de noite, para ir buscar a manhã.
Aconteceu que um dia calhou pernoitar um almocreve em casa dum lavrador. Altas horas da noite ouviu reboliço em casa e perguntou que era aquilo. Disseram-lhe que estavam a prender os bois e a preparar o carro para ir à Serra buscar a manhã, porque aquele mês tinha-lhe calhado na escala.
O almocreve viu logo ali uma boa ocasião de fazer negócio, e perguntou:
Quanto dão vocês a quem vos traz um bichinho que todos os dias vos diz quando é de manhã?
- Trinta mil réis e uma carga de presuntos (era o dinheiro de Fajão).
Eles aceitaram, e o almocreve, à volta, trouxe-lhes um galo. O galo cantava logo de manhã e assim eles escusariam de ter tanto trabalho para ir buscar a manhã.
Mas esqueceram-se de uma coisa: não perguntaram ao almocreve que é que o bicho comia. Lá vai então um a correr a ver se ainda apanhava o almocreve para lhe perguntar que é que o bicho comia. Logo que o avistou perguntou cá de longe: Ó senhor, que é que o bicho come?
- Ora! Que é que o bicho come! Come do que come a gente!
O homem entendeu «o bicho come a gente». Passou parte ao povo, «o bicho come a gente», e todos à uma se atiraram ao pobre bichinho até darem cabo dele, e assim continuaram a ir todos os dias buscar a manhã, cada um conforme a sua escala.

“Os Contos de Fajão”, Edição da Junta de Freguesia de Fajão para o Museu de Fajão
Biblioteca da UPFC 

29 março 2016

BELEZAS E RIQUEZAS DA SERRA. DA ESPANTALHA E DA CARRIÇA


Costumo dizer, sendo muito incompleta, que os espantalhos servem para atrair pássaros e o espanto das pessoas! Muito tempo passado, já nem me lembro se sempre pensei assim ou se apenas depois de ter lido “O Espanta-Pardais” de Maria da Rosa Colaço, uma obra imperdível da literatura para todos! Isto, quando havia searas e milheirais, e os espantalhos ocupavam um lugar cimeiro na sua proteção e no imaginário das crianças! 

Seja como for, gosto de fazer espantalhos, especialmente se em parceria com a minha filha Catarina, autora das caras patuscas que alguns ostentam. De facto, para espanto dos meus vizinhos e dos forasteiros que nos visitam! Com eles, as espantalhas – sim, porque são mulheres - têm corrido mundo, imagino que à procura da Estrada-Larga do livro de Maria Rosa Colaço! 


Sobre o atraírem pássaros, finalmente as provas! Protegido pelo seu xaile, um ninho de carriça nas costas da espantalha! Foi a Elsa que o viu. Não estava lá, em Dezembro, quando a rapariga se vestiu de inverno! 


Por entre o adejar do xaile, fotografei o ninho de longe, para não perturbar. Que maravilha! Uma obra-prima da mais ancestral e moderna arquitetura habitacional! Quanto trabalho! Uma ternura! Também por me lembrar uma brincadeira da minha mãe, envolvendo um ninho de carriça vazio, amêndoas e a Páscoa! 



A carriça (habitante das cavernas) é considerada a espécie mais pequena da avifauna portuguesa. É uma avezita tão ativa e irrequieta, que jamais a consegui “prender” no afago da minha objetiva! Por isso, a fotografia é da internet. 

Foto tirada por Dinis Cortes

Devido à sua vulnerabilidade, não deve divulgar-se a localização de ninhos. Porém, ciente da generosidade e do apreço de todos pela natureza, na diversidade das suas manifestações, partilho o encantamento à laia de folar de Páscoa.

Lisete de Matos
Açor, Colmeal, 26 março 2016.

23 março 2016

Fernando Costa no GÓISARTE 99



O último Góisarte do milénio vai continuar a ser o encontro ritmado de artistas e da população que, em contacto permanente com a natureza, vão ajudar a aprofundar e enriquecer o diálogo interactivo neste espaço geográfico que não tem fronteiras e onde a mãe natureza soube ser tão prodigiosa.

Vão ser seguramente momentos lindos, de grande e rara beleza, aqueles que iremos vivenciar, atendendo à lista de inscritos e seleccionados que vão mostrar, mais uma vez e ao vivo, o fruto do diálogo intimista com a natureza.

E o acontecimento de arte que em tempos foi um desafio é já hoje uma concretização no mundo da arte e da cultura (…) e Ascenção Cabeças, então presidente da Câmara Municipal de Góis terminava “Enfim, é nosso desejo que todos saibamos, renascer em cada Góisarte no equilíbrio perfeito entre o rio e a montanha e no mais verde tom da nossa esperança.”

De acordo com a informação veiculada no Catálogo, mais de uma centena de artistas nacionais e estrangeiros irão estar presentes nos dias 16, 17 e 18 de Julho, em Góis, com os seus livros, os seus quadros, as suas esculturas, a sua dança, o seu teatro, a sua música.

Fernando Costa, do Colmeal, com “Colmeal, freguesia de S. Sebastião”, um óleo sobre platex, foi uma das presenças neste Góisarte 99.


Recordamo-lo neste dia 23 de Março, quando passam 13 anos que nos deixou. Mas, os amigos não morrem, apenas partem primeiro do que nós.

A. Domingos Santos

21 março 2016

CENTRO de CULTURA e CONVÍVIO


Aproxima-se um fim-de-semana em que muitos Colmealenses se dirigem à sua aldeia para participar nas cerimónias pascais.

É do conhecimento geral o investimento feito no Centro após a assinatura do protocolo que nos veio permitir proceder à recuperação daquele espaço.
Sabemos do interesse dos nossos associados em usufruir das condições que agora lhes poderemos propor, interesse que também é nosso, apesar das limitações que se colocam em termos de presença humana para um funcionamento alargado e regular.

Nos próximos dias vão estar no Colmeal alguns dirigentes e muitos associados da União que, voluntariamente e de acordo com a sua disponibilidade irão assegurar a abertura do espaço. Estamos convencidos que as limitações no funcionamento terão a compreensão por parte de todos.

O Centro é um espaço de convívio, de lazer, de ocupação dos tempos livres, onde se pode conversar, ler ou requisitar um livro, jogar às cartas ou ao dominó, ver um pouco de televisão ou aquecer-se no calor da lareira enquanto, por exemplo, poderá debater algumas ideias connosco. Momentos musicais ou de teatro fazem parte dos nossos projectos, mas com a sua ajuda, com as suas sugestões, com a sua participação, poderemos fazer do Centro o espaço que todos desejamos.

Venha ter connosco ao Centro. O Centro é seu. Todos esperamos por si.

A Direcção

05 março 2016

I PASSEIO TT – ROTA DAS COLMEIAS


O dia 28 de Fevereiro de 2016 vai ser recordado como um dia diferente no Colmeal. Movimento anormal de carros e motos, fatos estranhos, cores garridas, escapes algo barulhentos. A União Progressiva da Freguesia do Colmeal realizava o seu I PASSEIO TT - ROTA DAS COLMEIAS.






Pequeno-almoço no Centro de Cultura e Convívio e, antes da partida do Parque de Merendas das Seladas as indispensáveis recomendações com os cuidados a observar durante o percurso. Depois, motos e jeeps arrancaram a caminho de montes e vales, aldeias e casais, subidas e descidas, passando por algumas dificuldades que o tractor e o guincho iam resolvendo. O dia estava bom, temperatura agradável sem chuva e sem a neve que na véspera tudo pintara de branco. Apenas as zonas mais elevadas se mantinham ainda emolduradas. Paisagens de sonho numa envolvente magnífica sarapintada aqui e ali pelo amarelo das mimosas.












Na passagem pelo emblemático Cabeço do Gato, de onde a nossa vista se perde nas lonjuras e a paisagem é simplesmente deslumbrante, a entreajuda dos participantes em certas situações revelou-se fundamental. Em Aldeia Velha, autêntico miradouro para contemplar a Natureza, fez-se o reagrupamento e aconchegou-se o estômago.

























Na parte final do percurso, participantes, acompanhantes e muitos curiosos, dirigiram-se para a Portela, onde uma pista de obstáculos, facultativa, esperava os mais afoitos. E foi interessante ver alguns a conseguir ultrapassar aquelas dificuldades acrescidas.













O jantar, pelo elevado número de inscritos, foi servido nas instalações do sócio Carlos Fontes de Almeida, que com o Tiago Cerejeira Domingos e o Nelson Henriques foram os grandes entusiastas e obreiros desta iniciativa.
No final, o presidente da Direcção da União Progressiva numa curta intervenção, agradeceu os apoios recebidos e a participação de tantos entusiastas da modalidade, enalteceu o civismo e o companheirismo com que tudo decorrera, apelou à divulgação da região e que pelos comentários que ouvira durante o dia, havia que começar já a preparar-se o próximo passeio. Fez entrega de placas alusivas às entidades presentes e aos sócios que se empenharam na organização. Os presidentes da Junta da União das Freguesias e da Liga dos Amigos de Aldeia Velha e Casais congratularam a União pela iniciativa e manifestaram disponibilidade para futuras realizações.





Os participantes receberam lembranças oferecidas por Amílcar de Almeida, Carlos Fontes de Almeida, Câmara Municipal de Góis, Junta da União das Freguesias de Cadafaz e Colmeal e União Progressiva da Freguesia do Colmeal. 


Este Passeio TT só foi possível graças à adesão dos participantes, patrocinadores e apoios que desde a primeira hora recebemos da Câmara Municipal de Góis, Junta da União das Freguesias de Cadafaz e Colmeal, Góis Moto Clube e Liga dos Amigos de Aldeia Velha e Casais. Da Guarda Nacional Republicana e Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, concedendo as respectivas autorizações, comunicação social regional – imprensa e rádio, na divulgação efectuada e Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Góis com a presença de uma ambulância.

UPFC
Fotos de A. Domingos Santos

Por gentileza de Armando Brás Mendes podem ser visionadas fotos do I PASSEIO no link seguinte