21 fevereiro 2021

BELEZAS E RIQUEZAS DA SERRA: FLORES DE INVERNO

Estão mais quietos e silenciosos os caminhos sossegados. Faltam as pessoas que antigamente os trilhavam andando em fila carregadas “pialém” e “piaquém” ou as que, mais recentemente, os afagam caminhando solitárias ou solidárias com a União Progressiva da Freguesia do Colmeal; ou pedalando com os ciclistas do Passeio dos Reis, sem magos que lhes devolvam o encanto. Até os pássaros os abandonaram, possivelmente desgostosos com a dupla tristeza que se avista lá de cima. Só as árvores os povoam, finalmente vencidas por anos de resistência ao fim traiçoeiro em pé. Eram árvores! Muitas continuando, no entanto, a florir de inverno, teimosas.





De vez em quando, um murmúrio, um riso discreto, um queixume: “Chega para lá, estás a pisar-me”; “Olha o distanciamento …”; “ó mãe … ó pai …”

O que será? Pois, só podem ser os fungos, isto é, os cogumelos em que aqueles se manifestam, numa espécie de frutificação, eles que não são plantas! Em inícios de fevereiro, tortulhos igualmente belos e surpreendentes, mas bem diferentes dos que partilhava em tempos (Um Abraço de Tortulhos e Ainda os Tortulhos, upfc-colmeal-gois.blogspot.pt, 19 nov. e 31 dez. de 2009)!




Ao contrário da maioria, estes têm em comum a atração pelos troncos enfermos e inertes de árvores, preferindo as de fruto, os eucaliptos e sobreiros. Muito dados a ajuntamentos e atrevidos, uns trepam pelos troncos eretos acima, subindo, subindo, outros estendem-se pelos deitados abaixo, outros, ainda, juntam-se em tufos aconchegantes e nichos protetores. Todos em busca do melhor lugar e de um lugar ao sol!





Já passados ou ressentidos da idade e do tempo desabrido que fez, há-os de várias formas, feitios e cores. No entanto, predominam os bem-apessoados orelhas-de-pau e afins, instalados em densas colónias de famílias alinhadas, e desalinhadas, que fazem orelhas moucas às ordens para formar! Mas também há os que lembram flores exuberantes, e massas trementes e fofas de gelatina e algodão doce. Um fascínio! Embora semelhantes, variam tanto na disposição que parecem diferentes!







Do ponto de vista do feitio, sempre sedutores e enfeitiçantes, uns são parasitas inveterados que dão cabo do hospedeiro, outros, amigos íntimos que vivem com organismos distintos simbioses idealmente vantajosas para ambas as partes. No caso vertente, a maior parte são decompositores dedicados e laboriosos, muito se lhes ficando a dever. Perante o chão atapetado de troncos acamados que o mato e os arbustos vão cobrindo, muito trabalho os espera! Com as bactérias, os fungos são os principais agentes transformadores da matéria orgânica. Os predadores não são para aqui chamados!

Em termos de cor, cuja pujança vão perdendo, sobressaem os amarelos a caminho do castanho, mas também há cinzentos, laranjas, brancos, e discretas combinações multicolores.







Enfim, seres fantásticos e peculiares, que contribuem para o equilíbrio ecológico e para a beleza natural, fazendo parte da biodiversidade e do estimado milhão e meio de espécies de fungos existente. Distribuídos por cogumelos, leveduras, bolores, mofos e entre bons e maus, servem múltiplos fins. Chamo maus aos que funcionam como agentes patogénicos, inclusive do homem, e aos que, como referia antes, são tão gostosos, tão gostosos, que só se degustam uma vez. É o caso da cicuta verde, (amanita phalloides), também chamado chapéu-da-morte e outros menos comuns por aqui!

Para uma próxima oportunidade ficam os líquenes e musgos, fungos e plantas que também são fãs dos troncos das árvores.

Lisete de Matos

Açor, Colmeal, 2 de fevereiro de 2021.