Minha terra é o Colmeal,
Não nego a freguesia,
aonde eu fui baptizada
naquele sagrado dia.
Adeus terra do Colmeal,
no meio tens um chorão,
por causa das raparigas
é que os rapazes lá vão.
Assim começa Lisete de Matos um dos capítulos do seu livro “Gente da Serra Do seu Quotidiano e Costumes”. (Edição da Autora, 1990)
A freguesia do Colmeal é uma das freguesias do concelho de Góis, no distrito de Coimbra.
O tipo beirão desta zona serrana distingue-se sensivelmente do do resto da Beira. É alto, enxuto, claro ou moreno, às vezes citrino, de olhos castanhos ou azuis, aparecendo também o gordo simpático e bonacheirão que parece ter acabado de chegar da orla pirenaica francesa e falando todos um português nítido, sem converter os ss em x, como é jeito da pronúncia das gentes das duas Beiras interiores. Este tipo aparece entre Pampilhosa da Serra e Arganil, mas é no Vale do Ceira, de Góis ao Piódão, pela Cabreira, Sandinha, Colmeal, Fajão e Porto da Balsa, descendo sobre a vertente norte das serras sobre o Alva, desde a nascente deste rio até Arganil e daqui outra vez a Góis – que ele é mais acentuado. …À mulher, forte, esbelta, rústica e naturalmente elegante, corresponde tipo idêntico… (Guias de Portugal – Beira I. Beira Litoral, 3º vol. – F.C. Gulbenkian. Lisboa, 1984, 2ª Ed., pág. 395).
Um pouco por toda a região, a população jovem abalou, a partir dos anos cinquenta, à procura de melhores condições de vida em Lisboa e também no estrangeiro.
População por demais apegada ao torrão natal, ao seu esforço se ficou a dever, durante décadas, a abertura de estradas, mais tarde o seu alcatroamento, a construção de lavadouros e fontenários, a existência de telefone, água e luz nas aldeias.
Organizada em Comissões de Melhoramentos, Ligas de Melhoramentos, Ligas de Amigos, Uniões Progressivas, etc., e estas, por sua vez, filiadas na Casa do Concelho de Góis, Casa da Comarca de Arganil, Casa das Beiras e outras agremiações regionalistas.
… Esses têm sido os lutadores incansáveis pela implantação daquele sublime ideal (o regionalismo) e do seu enraizamento popular, numa acção conjugada com as populações dos diversos aglomerados e, mais recentemente, através duma colaboração estreita e profícua com as autarquias, sempre norteados por dois objectivos que poderemos considerar principais. Por um lado a criação dum espírito de entreajuda e de sã convivência entre as várias comunidades serranas que se encontram dispersas e, por outro, a unificação de esforços e a congregação de boas vontades no sentido dum contributo eficaz para o desenvolvimento dessas tão genuínas povoações do Centro-Interior do País, até há pouco tempo condenadas ao abandono por parte dos poderes instituídos e onde a vida, sendo ainda difícil, constituía permanente sacrifício para toda a população… – (Pacheco, Aníbal – Regionalismo Serrano (XC): um tema inesgotável e sempre actual. In “A Comarca de Arganil”, de 1 de Agosto de 1989.)
… A freguesia é hoje constituída por cerca de onze lugares ainda habitados.
Entre esses lugares conta-se o do Açor, a 6 km da sede da freguesia por estrada de terra batida que, seguindo por Ádela, vai ligar à estrada que vem de Arganil para os Cepos ou Teixeira. Aliás, olhando para o mapa, percebe-se que as localidades de Açor e Ádela se encontram incrustadas no concelho de Arganil, com o qual sempre mantiveram uma grande ligação, por razões de maior proximidade e outras.
O Açor são dezasseis casas alinhadas de um outeiro ao outro da serra. De um lado a Avesseira, do outro a Soalheira.
…
Como diz Lisete de Matos na Introdução, “Gente da Serra – Do seu Quotidiano e Costumes”, é um trabalho de grande singeleza que concebeu como uma homenagem às pessoas, e onde procurou, sobretudo, falar das vivências, ressaltando a interdependência entre o homem e a natureza, o dia-a-dia longo, pesado e difícil.
E só para finalizar:
“Toda a gente ia à fonte, mas as mulheres mais do que os homens. Ia-se ao fim da tarde, depois do Sol-posto, quando já se podia dispor de algum tempo para conversar pelo caminho ou enquanto se esperava que a bica desse vazão aos cântaros todos. Nos tempos em que havia mocidade, também se namorava.”
Com este apontamento para aguçar a sua curiosidade e o levar a procurar este interessante livro nas estantes da nossa Biblioteca da União, terminamos este pequeno contributo a uma preciosa autora da nossa freguesia do Colmeal.
A. Domingos Santos
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