Regionalismo é a ideia, a causa, o sistema ou a doutrina política e social dos que procuram superar as carências ou defender os interesses de uma região, geralmente a sua.
Esta a definição circunstanciada dos dicionários.
Do que eles não falam, é das dificuldades, da dedicação e labuta, da grandeza fraterna e do conteúdo humanístico inerente à Causa Regionalista.
Vamos hoje focar alguns aspectos desta causa, que como todas, poderá ser avaliada de diferentes vértices ou pontos de vista, analisada de diversos parâmetros, sem que uns se sobrelevem aos outros ou os subestimem.
Se não… vejamos.
Um jovem, recentemente «apanhado» nas andanças do Regionalismo, dificilmente poderá imaginar o que foram os tempos primórdios dessa bela ideia; dificilmente poderá avaliar quanto esforço, quanta luta, quanta canseira, vividas na concretização de cada um dos melhoramentos alcançados.
Por cada um deles; a obtenção do telefone ou da corrente eléctrica, a concessão de valores declarados ou encomendas postais, a abertura de uma escola encerrada por falta de regentes escolares, a construção de lavadouros, marcos fontanários e caminhos; quantas solicitações e quantas voltas, entrevistas, quantos passos repetidos, quantos desesperos, quantas incompreensões!...
Nesses tempos, até lutar era mais duro.
Por outro lado, poucos serão os melhoramentos da Freguesia, se é que existem, em que a actuação do Regionalismo e dos regionalistas, não andasse neles empenhada e envolvida.
Consideremos um exemplo: Durante anos e anos, a estrada Rolão-Colmeal, a única via de comunicação então viável, foi o «quebra-cabeças» de Direcções consecutivas.
Ora, um jovem regionalista, dificilmente poderá conceber as dificuldades a superar, os desânimos, a tenacidade, por cada quilómetro conseguido.
Foi incontestavelmente uma luta de gigantes, dadas as dificuldades a vencer, as parcas posses disponíveis e os exíguos recursos da época, luta a que muitos deram denodadamente e durante os seus dias, o melhor de si próprios.
Os tempos tornaram-se entretanto mais fáceis.
Mudam-se os tempos… mudam-se as virtudes!
Se o narrado é uma verdade, teremos igualmente de tomar em conta que um homem de hoje, em plena maturidade e com toda uma existência virada para o Regionalismo, tenha também ele algumas dificuldades em aceitar e compreender os argumentos dos regionalistas mais jovens, quando estes, tocados por uma nova realidade e ambiciosos de horizontes mais vastos, entendem que os melhoramentos deveriam ser confinados aos organismos oficiais, ao poder executivo e autárquico, e o regionalismo teria para si que ambicionar preocupações sociais mais profundas.
Não se trata de negar o Regionalismo e os seus valores de sempre, mas sim a preocupação de senti-lo numa nova dimensão.
Ao fim e ao cabo todos têm razão… e quando todos a têm é o mesmo que não tê-la ninguém; ou ninguém ter pelo menos o seu exclusivo.
Tudo isto impõe um momento de reflexão.
As divergências que possam eventualmente surgir, deverão ser aceites como caracterizadas pela subjectividade pessoal de cada um de nós, sem que o sentido colectivista da Grande Família Regionalista seja afectado.
Assim também, a aparente rivalidade entre localidades da mesma freguesia e o aparecimento de blocos, deverão ser entendidos como a natural competição ou tendência dos que procuram alguma coisa mais para a sua terra, sem que o sentido de Unidade Regional mais vasta se perca.
Todos seremos ainda muito poucos e estará sempre ao alcance de todos nós algo a fazer, por manter essa Coesão Regional.
A diversidade de conclusões e pontos de vista numa análise ou discussão, devem ser consideradas razões da inteligência humana e não fruto de intolerância.
As dificuldades de uma família devem contribuir para a aproximação dos seus membros e não o contrário.
Cremos que isto, ainda e sempre, será também FAZER REGIONALISMO.
JOÃO LISBOA
In Boletim Paroquial “O Colmeal”, Nº 154, de Setembro de 1979
Quando se estão a comemorar os 80 Anos de Regionalismo no Concelho de Góis e se prepara o Dia da Freguesia do Colmeal para 31 de Janeiro, esta análise de”João Lisboa” parece manter toda a actualidade e oportunidade, quase trinta anos depois.
A. Domingos Santos
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