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“O ano que decorreu, o do 40º aniversário do regionalismo colmealense, pareceu apostado em se mostrar deveras simpatizante com a nossa terra, caso da electrificação – a maior benesse que nos podia ser dada como brinde de Natal – e outros empreendimentos estão encaminhados de forma a revelar novos rumos a este escondido e desconhecido recanto do Vale do Ceira.
Nesta parcela do «Portugal Desconhecido» com cheirinho a serra, que tem o acolhedor Colmeal, terra onde têm nascido inúmeros homens de vontade indomável e rija têmpera, os quais através do regionalismo têm assegurado um futuro melhor e mais risonho aos que, por circunstâncias várias, militam e ao qual vão transmitindo alguma vida. Entre aqueles nossos conterrâneos de vontade férrea encontra-se João de Deus Duarte, um colmealense que honra a sua terra e é credor de grande estima entre a numerosa colónia na capital. Durante vários anos foi tesoureiro da União Progressiva e pela forma como exerceu o cargo, com competência, zelo e honestidade – sem esquecer que foi na sua época que as depauperadas finanças da colectividade foram equilibradas – é merecedor da nossa admiração.
É um dos baluartes do regionalismo colmealense. E, por uma questão de justiça, não podemos deixar de referir que quando das inúmeras deslocações efectuadas à nossa sede de freguesia durante a sua gerência, a casa dos seus pais, foi sempre colocada à disposição das gentes que a este movimento se encontram ligadas através da colectividade que representa a aldeia.
Ao seu espírito arrojado de homem decidido e de excepcionais qualidades de trabalho, se deve a sua óptima situação industrial. À custa de uma perseverança e tenacidade admiráveis, conseguiu João de Deus Duarte uma posição prestigiosa no meio em que exerce a sua extraordinária actividade – uma actividade metódica e constante que começou sempre de baixo para cima, pelos alicerces, cuidando sempre de consolidar o princípio antes de chegar ao meio e revigorando este antes de atingir o fim.
A par das suas invulgares qualidades de trabalho e de exemplar chefe de família, como regionalista é sempre dos da primeira linha e vários cargos tem ocupado na direcção, conselho fiscal e Assembleia-Geral da União Progressiva, porque João de Deus Duarte já faz parte da «mobília» da colectividade.
Desde os primeiros anos da sua vida lisboeta, até ao presente, é um exemplo edificante de quanto pode realizar, com dignidade, esforço metódico, tenacidade, inteligência e critério – a vontade forte duma alma nobre admirada por toda a gente de bem.
É natural que o vamos ferir na sua modéstia e simplicidade, mas, embora ligeiramente, não podíamos deixar de, nesta secção, fazermos referência a quem ao longo de mais de vinte anos tem sido um trabalhador indómito e dedicado a tudo quanto diga respeito ao progresso do Colmeal.”
in Boletim Paroquial “O Colmeal”, Nº 114, de Março de 1972
João de Deus Duarte é eleito pela primeira vez na Assembleia-Geral de 25 de Janeiro de 1952 (dia em que morre um grande Homem da União, António Domingos Neves) para o lugar de Vogal no Conselho Fiscal. Integra a Comissão de Assistência de Abril de 1954 a Março de 1958, quando passa a Tesoureiro e onde se mantém até Março de 64. Passa então a Primeiro Vogal na Direcção de António Santos Almeida (Fontes).
Em 23 de Abril de 1967 passa a Segundo Secretário da Assembleia-Geral, voltando à Direcção, como Vogal Suplente na eleição seguinte. Assume a Vice-Presidência da Direcção com Armando Nunes dos Reis, em 9 de Março de 1969 e até 21 de Março de 1971. Regressa à Assembleia-Geral como Primeiro Secretário e assume este cargo até 9 de Março de 75, quando assume a Vice-Presidência do mesmo órgão.
Preside à Assembleia-Geral realizada em 21 de Julho de 1976, secretariado por António Domingos Santos e Maria Cecília Oliveira Barata.
Terá sido esta a sua última participação a nível regionalista.
A morte, num brutal acidente de viação, ficou assim registada na imprensa regional.
JOÃO DE DEUS DUARTE – Um colmealense, um amigo
Faleceu João de Deus Duarte. A notícia, que nos surgiu seca, cerca das 19:15 horas do passado dia 16, surpreendeu-nos, surpreendeu especialmente todos os colmealenses, e nomeadamente os conterrâneos que durante determinado período com ele trabalharam na direcção da União Progressiva da Freguesia do Colmeal, em cujas reuniões semanais cimentaram e ampliaram a amizade que os unia desde a mais tenra idade.
João de Deus Duarte, um regionalista, um amigo pessoal, um amigo da terra, faleceu ainda jovem aos 52 anos de idade.
Ficam, pois, o Colmeal e o regionalismo mais pobres.
FERNANDO COSTA
in "Jornal de Arganil", 23 de Setembro de 1976
do espólio de Fernando Costa
O seu nome está perpetuado numa rua do Colmeal.
Recolha de A. Domingos Santos
Foto cedida por Lurdes Iria
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