“As tabernas foram, ao longo de séculos, as tertúlias dos nossos idosos. Local de relevo onde, nas tardinhas de Verão ou nas longas noites de Inverno, se ouvia o trinar de uma guitarra e de uma viola, assim como a voz, por vezes já cansada, do aldeão, recitando com nostalgia o Fado Chorado, Corrido ou Mouraria. Tínhamos também o fado cantado ao desafio que por vezes terminava até com mal entendidos.
Era nas Tabernas/Mercearias, que o cidadão se abastecia dos produtos de primeira necessidade, havendo alguns que deixavam atrás de si elevados calotes; era nestes estabelecimentos que se divulgavam todas as notícias das aldeias, uma verdadeiras, outras por vezes falseadas.
Hoje, as tabernas estão em vias de extinção nas nossas aldeias serranas.
A primeira causa é a desertificação das mesmas. A segunda, é o seu abandono pelos nossos idosos que ao atingirem uma certa idade, vão passar os seus últimos anos de vida num Lar, levando consigo apenas a saudade dos que vão partindo, e dos amigos com quem conviviam e repartiam os seus tempos de veraneio.
Em Carvalhal do Sapo, o Sr. Moreira, com a bonita idade de 87 anos, já encerrou as portas da sua velhinha Taberna/Mercearia, que foi ao longo de muitas gerações local por excelência de cavaqueira entre o cidadão comum, assim como ponto de encontro de tocadores de concertina, guitarra e viola, acompanhados de vozes castiças, por vezes magoadas que, com mestria, cantavam o Fado Chorado.
Segundo os critérios dos senhores da ASAE, este estabelecimento não possuía as condições que a Lei exige para se manter de portas abertas ao público. Portanto ao Sr. Moreira, que não pode suportar o custo das obras que a Lei exige, restou-lhe apenas uma alternativa – encerrar definitivamente as suas portas.
Nesta tarde de Verão, ao passar pelo Carvalhal do Sapo, não podia deixar de visitar este velho e simpático Amigo. Verifiquei a sua tristeza, o seu desalento, por ter que encerrar as portas da sua Taberna /Mercearia, estabelecimento que manteve aberto ao público durante cerca de 54 anos.”
Com a devida vénia transcrevemos parte da Crónica de Férias publicada em 24 de Julho de 2008, no Jornal de Arganil e de autoria de Victor de Jesus Almeida.
Ao trazermos este apontamento ao nosso blogue, fazemo-lo por nos ter chegado a notícia do falecimento inesperado do Sr. Moreira.
Este Homem, que conhecemos desde os nossos tempos de miúdo, era um marco e uma figura inquestionável e respeitada na aldeia do Carvalhal e na nossa freguesia.
Todos ficamos mais pobres sem a sua presença.
A. Domingos Santos
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