04 janeiro 2009

As tabernas: tertúlias do passado

“As tabernas foram, ao longo de séculos, as tertúlias dos nossos idosos. Local de relevo onde, nas tardinhas de Verão ou nas longas noites de Inverno, se ouvia o trinar de uma guitarra e de uma viola, assim como a voz, por vezes já cansada, do aldeão, recitando com nostalgia o Fado Chorado, Corrido ou Mouraria. Tínhamos também o fado cantado ao desafio que por vezes terminava até com mal entendidos. Era nas Tabernas/Mercearias, que o cidadão se abastecia dos produtos de primeira necessidade, havendo alguns que deixavam atrás de si elevados calotes; era nestes estabelecimentos que se divulgavam todas as notícias das aldeias, uma verdadeiras, outras por vezes falseadas. Hoje, as tabernas estão em vias de extinção nas nossas aldeias serranas. A primeira causa é a desertificação das mesmas. A segunda, é o seu abandono pelos nossos idosos que ao atingirem uma certa idade, vão passar os seus últimos anos de vida num Lar, levando consigo apenas a saudade dos que vão partindo, e dos amigos com quem conviviam e repartiam os seus tempos de veraneio. Em Carvalhal do Sapo, o Sr. Moreira, com a bonita idade de 87 anos, já encerrou as portas da sua velhinha Taberna/Mercearia, que foi ao longo de muitas gerações local por excelência de cavaqueira entre o cidadão comum, assim como ponto de encontro de tocadores de concertina, guitarra e viola, acompanhados de vozes castiças, por vezes magoadas que, com mestria, cantavam o Fado Chorado. Segundo os critérios dos senhores da ASAE, este estabelecimento não possuía as condições que a Lei exige para se manter de portas abertas ao público. Portanto ao Sr. Moreira, que não pode suportar o custo das obras que a Lei exige, restou-lhe apenas uma alternativa – encerrar definitivamente as suas portas. Nesta tarde de Verão, ao passar pelo Carvalhal do Sapo, não podia deixar de visitar este velho e simpático Amigo. Verifiquei a sua tristeza, o seu desalento, por ter que encerrar as portas da sua Taberna /Mercearia, estabelecimento que manteve aberto ao público durante cerca de 54 anos.” Com a devida vénia transcrevemos parte da Crónica de Férias publicada em 24 de Julho de 2008, no Jornal de Arganil e de autoria de Victor de Jesus Almeida. Ao trazermos este apontamento ao nosso blogue, fazemo-lo por nos ter chegado a notícia do falecimento inesperado do Sr. Moreira. Este Homem, que conhecemos desde os nossos tempos de miúdo, era um marco e uma figura inquestionável e respeitada na aldeia do Carvalhal e na nossa freguesia. Todos ficamos mais pobres sem a sua presença. A. Domingos Santos

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