01 abril 2011

A Vila do Burel

A Vila do Burel é o título do livro que Adriano Pacheco acaba de publicar. Desta vez, a narrativa não acontece na diáspora, que lhe serviu de contexto e motivo em obras anteriores, mas no âmago da serra e na mítica vila do burel. A serra dificultava a vida, castigando e açoitando (p. 98), a vila estendia-se no frondoso vale verdejante, acompanhando a curvatura da ribeira … (p. 16), o burel era um pano encorpado, espesso e de cor acastanhada … (p. 49).
Tudo se passa à volta da fabricação do burel e da sua comercialização, que servem de pretexto ao autor para falar da vida então pujante naquela terra promissora. Por lá, uns sobreviviam da agricultura, outros de pequenas indústrias como a do burel ou da resina, a maior parte, do trabalho mal pago por conta dos primeiros. A propósito da atividade económica, Adriano Pacheco fala-nos da organização social e dos valores que lhe subjazem, dos percursos e feiras da serra, de partidas para Coimbra numa região onde quase todos vieram a partir para Lisboa, de inovação e mudança, da esperança no progresso que o êxodo da população veio a interromper.
Antecipando-se, Adriano Pacheco transporta para o livro, nomeadamente através das protagonistas femininas, posturas, convicções e preocupações sociais que só vieram a encetar caminho décadas mais tarde. Acontece isso em relação aos direitos dos mais vulneráveis, à família, à felicidade e ao amor, à necessidade da preservação do ambiente e do património edificado. Talvez porque na serra devemos estar sempre prevenidos contra os lobos e contra o mau tempo … (p. 100).
Vale a pena ler o livro, uns recordando, outros conhecendo! Pessoalmente, comovo-me e pasmo com o engenho e a determinação do autor, que já vai no seu décimo terceiro livro. Uma produção invejável! Como referi em outras ocasiões, a escrita é um poder que poucos continuam a exercer, sobretudo de alguns segmentos da população. Mas que Adriano Pacheco tem agarrado para intervir socialmente, para dizer ele próprio da sua experiência e realidade social, para registar e guardar memória. Cultivando a ficção que torna a leitura mais apetecível.
Citando, uma vez mais, Maria Irene Sousa Santos, escrever a vida da gente é um primeiro passo para a compreensão do mundo irrecusável em que vivemos e para a compreensão necessária à vontade de mudar a vida .
Lisete de Matos
Açor, Colmeal, Março de 2011
[1] Maria Irene Ramalho de Sousa Santos, “A Escrita na Vida da Gente: Sobre Autobiografias Operárias”, in Revista Crítica das Ciências Sociais nº 4/5, Coimbra, 1980, p. 126-127.

2 comentários:

Analu disse...

Onde consigo comprar este livro?
Aguardo resposta, se possível, por email... nalu.moda@gmail.com
Muito obrigada
Att
Analu

Unknown disse...

Olá. Como poderia adquirir este livro?
Assim que possível dê-me uma resposta.
Muito obrigada!

O meu contacto: rita.maximoap@gmail.com