28 abril 2011

No Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor

Somos livros. Se eu fosse um livro começava por ter páginas grossas. Com duas ou três palavras e muitas cores. Se eu fosse um livro era um livro de aventuras. De piratas. De bons e maus. De pernas de pau. Anos depois seria um livro revolucionário. Proibido. Chamuscado. Passado de mão em mão. Ou então não. Mais tarde tornava-me um livro de poesia. Um livro de amor. Com paixão, tesão e até traição. Um livro resistente. Que suportasse o sal das minhas lágrimas. Se eu fosse um livro era um clássico. Para ler na cama. No silêncio da vida a dois. Depois seria um guia. Que se lê no meio do banho, da tosse e do ranho. Um livro que se trata com todo o carinho. Com o passar do tempo uma autobiografia. Um livro de memórias. Com revelações e confidências. Com rugas na capa. Cheio de páginas. Cheio de vida. Se eu fosse um livro era o ABC do rejuvenescimento. Uma tentação para quando só nos resta a imaginação. Se eu fosse um livro tinha muitos capítulos. Só não queria ter fim.
O Fim é o princípio. Uma página que se vira. Somos a tinta fresca em folha áspera. A capa dura. Aquilo que procura. Somos a História. Desde sempre. O terramoto de 55 e a revolução de 74. Somos todos os nomes. As pessoas do Pessoa. Alexandre Herculano e Ramalho Ortigão. O Mundo na mão. Ponto de encontro. De quem pensa. De quem faz pensar. Temos pele enrugada de acontecimento. As páginas são nossas. E o pó que descansa na capa também. Sabemos falar de guerra e paz, explicar a origem das espécies e dizer qual a causa das coisas. Somos o que temos. A tradição e a vocação. A atenção. A opinião. A história de dor e de amor. Somos o nome do escritor. A mão do leitor. Somos livros. in Expresso, de 22Abril2011 Bertrand Livreiros
O Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor é comemorado desde 1996 a 23 de Abril, por iniciativa da UNESCO e visa promover a leitura e defender os direitos dos autores. É um dia importante para a literatura. O mesmo dia regista os falecimentos de escritores de renome como Cervantes e Shakespeare.
Este ano, a Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas está a promover o Passatempo “Voluntários da Leitura”, que visa incentivar o voluntariado em vários projectos que chamem a atenção de pessoas em situação de isolamento ou de exclusão social, para a importância do livro e da leitura.

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