Na
cozinha, onde muitos comem as refeições, há os tropeços (bancos de cortiça),
cepos feitos de troncos de árvores, tripeças (bancos com três pernas) todos em
maior ou menor número consoante a cozinha é ou não de cabouco, isto é, tem ou
não tem pavimento mais fundo que o sobrado da casa, porque, em tal caso, este
serve de assento.
No
alto da cozinha, por cima do lume, fica a caniceira ou caniço, estrado de
vergas de castanho, que serve, onde ainda há soutos, para secar as castanhas, e
por baixo do caniço varas para secar o fumeiro (enchidos) de porco. Há sempre
por baixo do caniço, uma estaca forte, espetada na parede, para suportar as
cadeias (de ferro) o caldeirão (Madeirã) de onde pendem as caldeiras da vianda dos
porcos e panelas de ferro com asa, para cozinhar e aquecer água.
O
comprimento das cadeias é regulado por um gancho que se mete nas argolas, mais
abaixo ou mais acima, para se descer ou elevar à altura desejada.
O
trem de cozinha consta de panelas, tachos, sertãs ou certages (Oleiros) de
ferro, para fritos.
Há
sempre uma tenaz para atiçar o lume, um espeto de ferro para os assados, uma
trempe para assento das sertãs e tachos, o saleiro de cortiça ou madeira), a
almotolia, de lata, para o azeite, e uma garrafa, às vezes uma cabaça das que
criam nas hortas, para o vinagre.
Em
muitas casas dos concelhos do sul (Sertã e Oleiros) aproveitam a bexiga de
porco, a que adaptam um bocal das borrachas de vinho, para recipiente do
azeite.
Retirado
de “Etnografia da Beira”, de Dr. Jaime Lopes Dias, etnógrafo, investigador e
regionalista, referido no livro “Sabores da Aldeia”, pág. 26 – Edição da ADXTUR
– Agência de Desenvolvimento Turístico das Aldeias de Xisto.
Foto de A. Domingos Santos
1 comentário:
Estar "à cozinha" era sinónimo de convívio familiar, na zona mais aquecida da casa. Também havia um gato! Quase consigo ver o meu avô, ali sentado, agarrado à sua bengala... e a minha avó, com as suas cinco agulhas, a fazer meias...
Há memórias da infância que funcionam como um cantinho de afectos, onde nos refugiamos nos dias mais cinzentos.
Bem-hajam por estas memórias!
Deonilde Almeida (Colmeal)
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