Há olhar e há ver... Li algures que a beleza não está nas coisas mas nos olhos de quem os vê - a correria do dia-a-dia fez-nos perder a capacidade de "ver" a beleza do espaço que nos rodeia. São imagens de grande sensibilidade.
É verdade. Pormenores que nos falam da construção tradicional serrana, nas vertentes de habitação e currais. Como outras, era uma construção que privilegiava o recurso aos materiais localmente disponíveis, o que lhe conferia diversidade no âmbito de uma certa uniformidade.
Essa diversidade pode ver-se no tipo de xisto que é utilizado – pedaços maiores ou mais pequeninos, mais resistentes ou frágeis e mais ou menos faceados ou irregulares – e também nos materiais e nas formas das padieiras e ombreiras das portas e janelas. Sendo em pedra ou madeira, podiam ser diferentes de janela para janela de uma mesma casa e de uma ombreira para a outra de uma mesma janela, conforme pode ver-se numa das fotografias.
Um outro aspeto em que existe uma grande diversidade é nos cravelhos das portas, que podem ser mais simples ou tão criativos como o que consta de uma das fotografias. Neste caso, a diversidade resultava do modo artesanal de produção, isto é, do facto de, em geral, ser cada um a fazer os seus próprios cravelhos, no quadro da grande polivalência e da possível autonomia das pessoas e famílias. Só se usavam nos currais, ao contrário da reinterpretação que foi feita numa Aldeia do Xisto próxima, em que o mesmo modelo de cravelho foi aplicado em todas as casas de habitação que foram objeto de reabilitação.
Algumas fotografias ilustram também o estado degradação da referida construção serrana, nomeadamente dos currais. É uma pena! Vejo todas essas edificações como manifestações do engenho, da paciência e do esforço das pessoas para sobreviverem em condições tão inóspitas quanto as que a serra lhes oferecia.
Numa das casas, abundam os buracos que serviram para encaixar os suportes horizontais dos andaimes. Ficavam abertos para obras futuras, coisa que os passaritos continuam a agradecer, sobretudo se virados a sul!
E, dado que este comentário já vai longo, acrescento apenas que em algumas fotografias são visíveis, nas paredes e no chão, umas plantitas rasteiras de folha arredondada. São umbigos-de-vénus (umbilicus rupestris), que, por aqui, dão pelo nome de conselhos. Descobri há dias que esta denominação corresponderá a uma apropriação de uma palavra desconhecida por uma conhecida, a partir de conchelos, nome por que também são conhecidos e que tem lógica, devido à forma de concha das folhas. É uma planta considerada com grandes propriedades desinfetantes e curativas da pele.
3 comentários:
Excelentes pormenores.
Parabéns.
Há olhar e há ver... Li algures que a beleza não está nas coisas mas nos olhos de quem os vê - a correria do dia-a-dia fez-nos perder a capacidade de "ver" a beleza do espaço que nos rodeia. São imagens de grande sensibilidade.
Deonilde Almeida (Colmeal)
É verdade. Pormenores que nos falam da construção tradicional serrana, nas vertentes de habitação e currais. Como outras, era uma construção que privilegiava o recurso aos materiais localmente disponíveis, o que lhe conferia diversidade no âmbito de uma certa uniformidade.
Essa diversidade pode ver-se no tipo de xisto que é utilizado – pedaços maiores ou mais pequeninos, mais resistentes ou frágeis e mais ou menos faceados ou irregulares – e também nos materiais e nas formas das padieiras e ombreiras das portas e janelas. Sendo em pedra ou madeira, podiam ser diferentes de janela para janela de uma mesma casa e de uma ombreira para a outra de uma mesma janela, conforme pode ver-se numa das fotografias.
Um outro aspeto em que existe uma grande diversidade é nos cravelhos das portas, que podem ser mais simples ou tão criativos como o que consta de uma das fotografias. Neste caso, a diversidade resultava do modo artesanal de produção, isto é, do facto de, em geral, ser cada um a fazer os seus próprios cravelhos, no quadro da grande polivalência e da possível autonomia das pessoas e famílias. Só se usavam nos currais, ao contrário da reinterpretação que foi feita numa Aldeia do Xisto próxima, em que o mesmo modelo de cravelho foi aplicado em todas as casas de habitação que foram objeto de reabilitação.
Algumas fotografias ilustram também o estado degradação da referida construção serrana, nomeadamente dos currais. É uma pena! Vejo todas essas edificações como manifestações do engenho, da paciência e do esforço das pessoas para sobreviverem em condições tão inóspitas quanto as que a serra lhes oferecia.
Numa das casas, abundam os buracos que serviram para encaixar os suportes horizontais dos andaimes. Ficavam abertos para obras futuras, coisa que os passaritos continuam a agradecer, sobretudo se virados a sul!
E, dado que este comentário já vai longo, acrescento apenas que em algumas fotografias são visíveis, nas paredes e no chão, umas plantitas rasteiras de folha arredondada. São umbigos-de-vénus (umbilicus rupestris), que, por aqui, dão pelo nome de conselhos. Descobri há dias que esta denominação corresponderá a uma apropriação de uma palavra desconhecida por uma conhecida, a partir de conchelos, nome por que também são conhecidos e que tem lógica, devido à forma de concha das folhas. É uma planta considerada com grandes propriedades desinfetantes e curativas da pele.
Lisete de Matos
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