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As aldeias do interior do País, sobretudo as da Beira Interior, foram ao longo destas últimas cinco décadas despovoadas por aqueles que nelas nasceram, mas que nelas não encontraram o sustento que precisavam para viver.
Portugal, em meados deste século, era um país pobre e eminentemente rural, que apesar de não ter participado na II Guerra Mundial sofreu as suas consequências indirectas. Salazar continuou a defender a tese “orgulhosamente sós”, negando qualquer ajuda económica do estrangeiro, nem mesmo a ajuda económica que os norte-americanos ofereceram à Europa destruída pela guerra em 1947, o célebre Plano Marshall.
A solução para muitos portugueses foi deixar a sua terra natal e partir, emigrar para os grandes centros urbanos do País ou para outros países como a Alemanha, França, Brasil, Venezuela, Austrália, entre outros, de forma a encontrar mais facilmente o sustento de cada dia que a sua aldeia lhe parecia negar.
Este êxodo na busca de melhores condições de vida generalizou-se um pouco por todo o País. O litoral aos poucos tornou-se cada vez mais povoado, invertendo-se a tendência que se vinha verificando até ao início deste século, em que a grande maioria da população vivia no campo.
Esta população, muitas vezes pobre, oriunda do interior do País onde as condições de vida eram miseráveis e as vias de comunicação precárias ou praticamente não existiam, deu a sua força de trabalho nos portos, nas fábricas, no comércio e nos serviços, contribuindo para o desenvolvimento de todo o litoral português e para o desenvolvimento do País em geral. Assim, rapidamente no litoral as aldeias se transformaram em vilas, as vilas em cidades, e as grandes cidades como Lisboa e Porto, transformaram-se em grandes metrópoles.
O campo foi, assim, o alfobre da mão-de-obra que proporcionou o desenvolvimento e crescimento económico do País que hoje vivemos e usufruímos. Perdeu a sua melhor riqueza, a sua população, e até hoje ainda não foi devidamente compensado por isso. Está agora, na sua maioria, abandonado ao desprezo da maioria dos nossos políticos e da nossa população, que não vê nele perspectivas de futuro para a sua vida. Só os mais idosos, com ajuda de uma magra reforma, continuam teimosamente a resistir, ali vivendo o resto dos seus dias.
Hoje, em muitas das nossas aldeias, podemos dizer em milhares delas, a média de idade dos seus habitantes cifra-se entre os 60 e os 70 anos, nalguns casos entre os 65 e os 75 anos, o que dá uma esperança de vida para essas aldeias de 10 a 15 anos, quando muito de 20 anos. Ainda nalguns casos o número de casas de habitação é bastante superior ao número de habitantes, no dobro ou no triplo, o que é uma situação paradoxal quando comparada com a falta de habitação e com a habitação precária que afecta gravemente os grandes centros urbanos do país. Prevejo, assim, nas próximas duas décadas o desaparecimento de milhares de aldeias, se entretanto nada continuar a ser feito para debelar esta situação. É preciso compensar o campo. É preciso agir de imediato porque a situação é bastante grave. É preciso fazer renascer as nossas aldeias, sob pena que o desequilíbrio entre o litoral e o interior, que é já agora bastante grande, se torne abissal, levando progressivamente à criação de vastas áreas desertas da presença humana.
O que proponho a todos os políticos e autarcas, com estas modestas linhas, é a criação de um plano, a nível nacional, que revitalize as nossas aldeias, onde as zonas do interior no nosso país possam ser locais apetecíveis para viver e trabalhar.
Pedro Freire (Cacém)
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Publicado no Correio da Manhã de 10/1/98, secção “Correio dos leitores”.
Recolhido no espólio de Fernando Costa
1 comentário:
Pedro,
o teu artigo continua actual.
Há que salvar as nossas aldeias.
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