09 novembro 2008

Pregões de Lisboa

“Quem mora nos bairros antigos sabe que é dia de andar a roda antes mesmo de saber se chove ou faz sol. O grito dos vendedores da lotaria é um dos últimos pregões de Lisboa. Poucas horas antes do sorteio, todas as fórmulas são válidas para cativar o freguês: «Está quase a andar!»; «Há horas felizes!»; «São as últimas!». Tempos houve em que gritos de mil pregoeiros cruzavam Lisboa, numa tradição que parecia eterna. O clarim dos pregões anunciava quase tudo o que a cidade consumia: melancias, broas, pinhões, amoras, queijo, favas, marmelos, figos, mexilhão, morangos, azeitonas, ostras, amêijoas, azeite, tremoços, agulhas e alfinetes, garrafas, castiçais, abat-jours, etc., etc. O pregão cantado nasceu com a venda ambulante de produtos, e foi uma constante em todas as cidades da Europa, do século XVI até ao século XIX. Algumas povoações portuguesas tiveram vendedores ambulantes que compunham verdadeiros madrigais. Os rapazes e as raparigas eram destinados, desde cedo, ao futuro que cada voz garantia. Um pregão melodioso podia salvar da fome uma família. Em Lisboa, os pregões eram tantos e tão típicos que ninguém poderia com justeza assinalar interesse maior ou originalidade ímpar em qualquer deles. Pela manhã dentro, os vendedores de fruta, hortaliça, leite e doces chegavam dos arredores saloios. Cabaz à cabeça ou burro pela arreata, eram esperados em todos os bairros.” In “Lisboa Desaparecida”, volume 3, de Marina Tavares Dias Tudo isto e muito mais poderá recordar, neste interessante livro que a partir de agora estará disponível na Biblioteca da União, no Colmeal.
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UPFC

2 comentários:

Anónimo disse...

Só os mais antigos se lembram.
De qualquer modo, a possibilidade de ler o livro e saber mais, vai permitir a muitos de nós, viajar um pouco no tempo do nossos pais e avós, que quando sairam das suas aldeias para labutarem em Lisboa, viviam paredes meias com estes pregões. Boa ideia esta.
Obrigado.

Anónimo disse...

Recordo neste breve apontamento um pouco da minha traquinice de miúdo e dos pregões que ouvia à minha volta, na Mouraria, onde morava com os meus pais.
Sem sermos saudosistas é sempre bom lembrar o passado. Mau ou bom devemos ter orgulho nele.
Quando passar pelo Colmeal tentarei ler um pouco deste livro.
Obrigado.