“Pela etimologia do termo que deu nome à terra, pela toponímia, por uma série de vestígios encontrados na região, e, até, dando crédito a inúmeras lendas que circulam ainda nas bocas do povo, vários autores quiseram já situar o seu aparecimento em determinada data. Como consequência, surgiram várias hipóteses mas apenas uma certeza: a povoação é muito antiga, possivelmente anterior a D. Afonso Henriques e à Fundação do Reino de Portugal, mas não é possível determinar com exactidão a sua origem.
Pertenceu durante muito tempo à Comarca de Coimbra e em 1560 a pequena povoação da margem direita do Ceira deve ter atingido certo valor pois mereceu do então Bispo de Coimbra, D. João Soares, a promoção a sede de freguesia por documento que concedia idêntica regalia à vizinha aldeia de Cadafaz.
Para isso, a pequena capela que ao tempo existia dedicada a S. Sebastião (S. Sebastião do Colmeal) foi aumentada e transformou-se em Igreja Matriz.
Os lugares que passaram a fazer parte da nova freguesia foram, além do Colmeal: Carvalhal, Souto, Aldeia Velha, Sobral e Ádela. O cura era da Apresentação do Vigário de Góis e seus Beneficiados. Tinha destes 4.000 réis, e dos seus paroquianos mais 4.000 réis, 40 alqueires de trigo e ainda o pé de altar.
Como os habitantes da nova freguesia de Cadafaz, também os de Colmeal eram obrigados a ir três vezes no ano à Igreja Matriz de Góis, sob pena de pagarem igualmente um arrátel de cera para essa Igreja por cada falta. Isto, porque também a recém construída Igreja de Colmeal era dependente da Matriz de Góis. Do mesmo modo eram pertença dos Prelados do Bispado, pagando pela respectiva visitação «meia colheita das colheitas gerais, ao preço de 250 réis, à custa dos dízimos e rendas da matriz e anexas».
E, ainda, como em Cadafaz, também as capelas da freguesia teriam de possuir obrigatoriamente «Caixa dos Santos Óleos, com as suas Ambulas, Pia Baptismal, Campanários com sinos ou campas e todas as demais insígnias…».
Diz Pinho Leal que a freguesia tinha 1757 habitantes em 117 fogos em meados do século XIX; o ilustre goiense, J. A. Baeta Neves diz que em 1897 são 340 fogos com uma população total de 1465 habitantes.
A vida dos habitantes da freguesia tem sido difícil. Os terrenos são muito pobres, inacessíveis à maioria das culturas. Como recurso surgia a caça que era muito «abundante e variada quer grossa quer miúda», segundo Pinho Leal, e as pequenas indústrias caseiras, tipo artesanal, sem significado digno de realce. Mais tarde, surgiu um outro de melhor resultado mas que exigia maiores sacrifícios: as migrações periódicas para sítios onde as culturas exigiam muitos trabalhadores em determinadas épocas do ano. A apanha da azeitona no Ribatejo ou Beira Baixa, as ceifas no Alentejo ou Espanha, as mondas nos arrozais, etc.
Para isto saíam de casa por períodos de semanas ou meses e regressavam com um pequeno pecúlio que lhes permitia ou garantia a subsistência até chegar nova época em que eram requisitados para outros trabalhos.
Hoje ainda a emigração é particularmente sentida nessa zona, existindo só em Lisboa uma colónia numerosíssima.
A freguesia é, agora, diferente da que D. João Soares criou em 1560. Além dos lugares já citados que a constituem desde início, o Colmeal, Carvalhal, Souto, Aldeia Velha, Sobral e Ádela, passaram a fazer parte dela o Açor, Carrimá, Boiças, Foz da Cova, Loural, Malhada, Quinta de Bolide, Roçaio, Saião, Salgado e Vale de Asna. Estes lugares situam-se numa área que vai de 22 a 40 quilómetros de distância da sede do concelho, para os mais próximo e afastado, respectivamente. A sua população total é de 951 habitantes, segundo o censo de 1960.
O orago da freguesia continua a ser S. Sebastião, a quem já a primitiva capela era dedicada. No entanto, é maior a devoção popular pelo «Senhor da Amargura» em cuja honra se celebra a festa anual da terra no 2.º ou 3.º domingo de Agosto.
O pároco da freguesia é o rev. Padre Anselmo Ramos Dias Gaspar, que tomou posse da freguesia no dia 29 de Outubro de 1967. De então para cá tem exercido acção notável em prol do bem-estar físico e espiritual do povo da freguesia. É natural da freguesia de Janeiro de Baixo, do vizinho concelho de Pampilhosa da Serra e, por isso, conhece desde pequeno a terra e as suas gentes. Além disso, é dotado de excepcional dinamismo e determinação. Daí o muito que já fez na freguesia apesar do curto espaço de tempo que aí passou. Ordenou-se pelo Seminário de Coimbra com 25 anos de idade, e nesse ano, 1967, celebrou a sua primeira missa no Santuário de Fátima, no dia 27 de Agosto. Veio pouco depois paroquiar o Colmeal e desde logo se impôs à admiração dessa gente. A Igreja Matriz e a Capela do Carvalhal dedicada a S. João Baptista foram reparadas por sua iniciativa. Agora, tem em mente – e esperamos vê-lo realidade em pouco tempo – construir dentro de uma velha capela existente na sede de freguesia, um salão paroquial onde possam efectuar-se reuniões, convívios, etc. É ainda director e editor do jornal paroquial «O Colmeal» que serve de elo de união entre a freguesia e muitos dos seus filhos espalhados pelo mundo.
A Igreja Matriz, bem como as demais capelas da freguesia não têm valor artístico que mereça distinção. No entanto, a primeira possui uma cruz de prata, artisticamente trabalhada, que é muito valiosa.
Ultimamente, sob orientação da actual Junta de Freguesia a que preside o Sr. António Costa de Almeida, que tem como secretário o Sr. Acácio Francisco Maria de Paula e por tesoureiro, o senhor José Brás da Silva, têm-se efectuado algumas obras de grande interesse local. Assim, a freguesia possui já telefone público, distribuição diária de correio ao domicílio na sede da freguesia e em dias alternados nos restantes lugares, foi aberta uma estrada de Colmeal a Cepos, reparado o cemitério, calcetado o Carvalhal, etc.
Na sua agenda, muitas outras realizações aguardam vez… pois as necessidades são muitas e poucos os recursos. De entre elas, merecem destaque: a electrificação geral da freguesia; a abertura da estrada do Vale do Ceira, velha ambição dos povos da área e que uniria Góis a Colmeal; há tempos já, que chega a Capelo, mas pretende-se que se alongue até ao Colmeal no que começa a desacreditar-se…, a construção de novo edifício escolar e de uma casa para a professora, para o que a Junta já comprou terreno; calcetamentos nas ruas, alcatroamento da estrada e a ligação Colmeal-Ádela, são outras necessidades.
Acreditamos que em breve o povo e os seus representantes consigam os seus intentos. A sua determinação e o apoio das Ligas de Melhoramentos irão avante.
Das Ligas e Comissões de Melhoramentos merece destaque a de Malhada e Casais, pela acção extraordinária que já desenvolveu. Fundada em 1953, no dia 25 de Novembro, manteve-se até 1960 em actividade constante quer angariando fundos quer promovendo a realização de várias obras, sob a presidência do Sr. João Nunes de Almeida. Datam deste período e a ela devem a sua existência o edifício escolar, o chafariz, o lavadouro e a estrada que mereceu da Comissão a comparticipação de cerca de 100.000$00. Ficou à Comissão um saldo de 30.000$00 que aplicou no início da construção de uma sede para a colectividade.
De 1960 a 1969 houve uma interrupção na sua actividade. Nesta data reestruturou-se e reiniciou o seu benemérito labor. Dos seus planos de acção, constam: construção de uma estrada de Malhada ao Colmeal, seguindo a Casais, Foz da Cova e Carrimá, e uma outra de Malhada a Bolide; electrificação e construção de marcos fontanários em Malhada e Casais; construção de um cemitério, dado que é enorme a distância a que fica o da sede de freguesia – 5 kms! – e o estado deplorável dos caminhos, reparação do actual edifício escolar, de uma ponte na ribeira de Carrimá e outra na ligação Bolide-Boiças, e muitas outras.
Na direcção de tão benemérita colectividade, encontram-se: o Sr. João Nunes de Almeida; como presidente; o Sr. Alberto Fernandes da Luz, vice-presidente; 1.º secretário, o Sr. Armando Nunes dos Reis; 2.º secretário, Sr. Acácio Ramos da Natividade; e como vogais, os Srs. Américo de Almeida, Arlindo de Almeida Nunes, Abílio Olivença, Arnaldo Moreira dos Santos e José Nunes Baeta. O Conselho Fiscal é presidido pelo Sr. Manuel Nunes de Almeida e a Assembleia-Geral pelo Sr. António dos Santos Duarte.”
In “O Concelho de Góis” – Concelhos de Portugal – Monografias, número único, Novembro de 1970. Edição de Raul de Carvalho
O editor, Raul de Carvalho, ao apresentar este número, diz que “Não foi por acaso que Góis surgiu no nosso roteiro de terras a visitar e dar a conhecer nos eus aspectos mais característicos. A sua história, o pitoresco das suas tradições, a singularidade da sua situação geográfica, o seu povo simples, acolhedor e laborioso e, sobretudo o valor inestimável do seu património artístico, justificavam o nosso interesse e exigiam a nossa colaboração para o registo dessas virtudes.”
As fotografias que acompanham a notícia transcrita sobre a freguesia do Colmeal recordam-nos António da Costa Almeida – Presidente da Junta de Freguesia, Padre Anselmo Ramos Dias Gaspar – Pároco da Freguesia e Arménio Marques – Regedor da Freguesia. Das outras, uma mostra-nos um “Aspecto da moderna ponte sobre o rio Ceira no Colmeal” e outra, o “Moderno lavadouro”.
Ao encontrarmos nas nossas estantes e recordarmos esta edição com cerca de quarenta anos, apenas o fazemos por querermos dar a conhecer aos mais novos um pouco da história e dos primórdios das nossas aldeias e manter vivo um passado recente que ajudou ao desenvolvimento da nossa região e de que todos nos orgulhamos.
Neste momento em que se comemoram os 80 Anos do Regionalismo no Concelho de Góis, todos os contributos não serão demais para recordar e dignificar o trabalho que foi desenvolvido ao longo dos tempos, por homens simples e de pouca cultura, mas com uma enorme estatura moral e um grande amor pelas suas terras.
A. Domingos Santos
21 de Novembro de 2008
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