Minha mãe! Minha mãe! Ai que saudade
imensa
Do tempo em que ajoelhava, orando,
ao pé de ti!
Caía mansa a noite, e andorinhas aos
pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus
lares,
Suspensos no beiral da casa onde eu
nasci!
Era a hora em que já sobre o feno
das eiras
Dormia quieto e manso o impávido
lebréu;
Vinham-nos da montanha as canções
das ceifeiras,
E a lua branca, além, por entre as
oliveiras,
Como a alma dum justo, ia em triunfo
ao céu!...
E, mãos postas, ao pé do altar do
teu regaço,
Vendo a lua a subir, muda, alumiando
o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil
oração,
Pedindo ao Deus, que está no azul do
firmamento,
Que mandasse um alívio a cada
sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada
escuridão.
Guerra
Junqueiro
in
“Na Rota das Palavras” Fundação
Calouste Gulbenkian – Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas – Dezembro de
1990
1 comentário:
Muito bonito! Só a sensibilidade e o afeto deste blogue para me recordar coisas que já tinha esquecido,como esta poesia de Guerra Junqueiro. Na saudade que muitos sentem do tempo com a mãe e, sobretudo, da própria mãe, bem que continuamos a precisar de alívio no sofrimento, e estrelas na escuridão.
Lisete de Matos
Açor, Colmeal.
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