14 março 2013

Minha mãe!



Minha mãe! Minha mãe! Ai que saudade imensa
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti!
Caía mansa a noite, e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,
Suspensos no beiral da casa onde eu nasci!
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
Dormia quieto e manso o impávido lebréu;
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
E a lua branca, além, por entre as oliveiras,
Como a alma dum justo, ia em triunfo ao céu!...
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a lua a subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus, que está no azul do firmamento,
Que mandasse um alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.

Guerra Junqueiro
in “Na Rota das Palavras” Fundação Calouste Gulbenkian – Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas – Dezembro de 1990

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bonito! Só a sensibilidade e o afeto deste blogue para me recordar coisas que já tinha esquecido,como esta poesia de Guerra Junqueiro. Na saudade que muitos sentem do tempo com a mãe e, sobretudo, da própria mãe, bem que continuamos a precisar de alívio no sofrimento, e estrelas na escuridão.

Lisete de Matos
Açor, Colmeal.