“É caso único no mundo: no mais improvável dos terrenos, a força humana venceu a natureza. Da lava petrificada, brotam pés de vinha, criando uma paisagem com tanto de belo como de rude.”
Assim se refere à ilha do Pico a National Geographic, num suplemento especial que acompanha o seu último número da revista, na edição portuguesa (Maio de 2009).
“No grupo central açoriano, a ilha do Pico é um caso à parte. É agreste, bruta e crua, quiçá pelo vulcão que a formou e que, de quando em vez, dá sinal de vida, talvez pela ruralidade estampada na sua face, provavelmente pelo solo empedernido com ares de paisagem lunar, seguramente pelos escassos habitantes que a adoptaram. E também é tenaz, como se vê pela têmpera dos antigos baleeiros e pelos guardadores de vacas que calcorreiam montes e vales abruptos. Como é no meio que está a virtude, consegue ser simultaneamente doce e simples, como fica patente no acolhimento caloroso dos picarotos (naturais da ilha do Pico) e na textura suave do seu vinho verdelho.
Apesar de a maior demanda de turistas contemplar a componente de natureza, distribuindo-se entre caminhadas, mergulho, observação de cetáceos ou ascensão à mais elevada montanha de Portugal, o Pico poderá ter criado uma nova rota de interessados, a partir do momento em que entrou para a lista da UNESCO como Património da Humanidade. É uma ideia remota, uma tradição antiga, mas também é uma história bonita e que mostra bem a perseverança e a tenacidade dos picarotos.
A ilha do Pico foi uma das últimas a ser povoada. Compreensivelmente. Os relatos apontavam para uma terra negra e cruel, liderada por uma montanha íngreme, assustadora e capaz de despejar a sua ira sobre quem se atrevesse a afrontá-la. Mas houve quem se atrevesse. Sem surpresa, a empreitada coube a alguns desafortunados provenientes da vizinha ilha do Faial e alguns frades. Vinham em busca de terras, algo a que chamassem seu e que pudesse garantir sustento. As condições com que se depararam eram adversas: não existem rios nem ribeiros e a terra mostra-se estéril, imprópria para cultivo – rocha, isso sim, há em abundância.
… A encosta da montanha do Pico está revestida por escoamentos de lava que se agarrou ao solo firmemente, formando tapetes de rocha bruta. À força de braços e com auxílio de rudimentares instrumentos, perfurou-se a rocha. Nessas efémeras fendas, introduziu-se terra e, com ela, um pé de vinha. A missão de florescimento, só por si, já era difícil, mas havia que contar ainda com o cenário envolvente: a proximidade e a força do vento noroeste, que facilmente arrancariam qualquer frágil pé de vinha. Então, com os blocos de lava por ali juncados à solta, construíram-se muros – os currais – de protecção e que serviam como divisórias das parcelas de terreno.”…
Faz precisamente hoje um ano, 25 de Maio, que a União Progressiva da Freguesia do Colmeal regressou dos Açores depois de uma semana memorável em que os excursionistas visitaram quatro das suas ilhas.
Ao termos acesso a este suplemento da National Geographic dedicado aos Açores, achámos por bem trazer aqui um pouco do que nele se escreve sobre estas ilhas e em particular à do Pico, que tanto nos tocou quando a visitámos.
A National Geographic Society foi fundada em 1888 e é a maior organização científica e educativa sem fins lucrativos do mundo. Mensalmente, chega a mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo através das suas revistas, do canal de televisão, documentários, programas de rádio, filmes, músicas, vídeos, DVD, mapas e meios interactivos.
Aqui expressamos o nosso agradecimento à National Geographic por este suplemento e pela ajuda que nos deu para esta recordatória da viagem e também de homenagem ao povo açoriano e, muito em especial, aos picarotos.
A. Domingos Santos
Fotos National Geographic, Suplemento Maio 2009
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