Ao lermos o recente
livro sobre a vida de José Maria Alves Caetano deparámo-nos a páginas 263, no
capítulo Regional – Viagens, com um seu
artigo publicado em 6 de Setembro de 1922 em A Comarca de Arganil, que a seguir tomamos a liberdade de
transcrever na parte que se refere a uma visita que fez a Arganil e à feira dos
bois.
“Depois, uma visita mais detalhada à feira
que, apesar de me não ter desagradado, me pareceu não ter progredido. Bem pode
ser que me enganasse, visto que havia 39 anos que não via a feira e a nossa
vista das 19 primaveras vê as coisas com cores mais vivas, predominando a
cor-de-rosa.
Pareceu-me, no entanto, que naquele tempo
havia mais entusiasmo e que a feira era mais comercial e mesmo mais abundante
em diversos artigos.
Enfim, como já disse, é provável que os meus
olhos me tivessem enganado.
Gostei imenso da feira dos bois pela
abundância e pelos belos exemplares que vi expostos, alguns bastante
corpulentos e belamente tratados, ficando-me especialmente na retina uma junta
do lugar de Ádela.
Noutro tempo falava-se na feira dos bois em
moedas (4$800 réis) e os preços oscilavam, para juntas de bezerros e bois de
trabalho, entre 10 e 15 moedas; agora falava-se em centos de mil réis e em
contos. Aquela junta de belos exemplares a que especialmente me referi, ouviu, se me não engano, um conto e
duzentos mil réis, e os donos não aceitaram a oferta.”
Não pudemos deixar de
associar esta passagem com um excelente trabalho da Dr.ª Lisete de Matos que recordávamos
ter lido no extinto/suspenso Jornal de
Arganil (29 de Setembro de 2011) e que tinha por título “Os bois de trabalho”.
“Mostravam-se, uma vez mais, garbosos como
os donos, na Feira do Mont’Alto. Não seriam mais de vinte, mas eram os suficientes
para permitir aos muitos observadores mais ou menos nostálgicos ou interessados
pelas espécies bovinas – sempre mais homens do que mulheres – o prazer do
reencontro com aqueles antigos e pachorrentos companheiros de trabalho duro e
andar vagaroso.
Alguns eram reincidentes: lindos e
gigantescos, são animais de exposição e concurso, hoje que as máquinas fazem
com eficiência acrescida o trabalho que lhes competia, e que as estradas, por
onde os respectivos carros chiavam gemendo de esforço e lonjura, foram
substituídas por outras, infelizmente nem sempre compatíveis com as exigências
do presente.
Outros não: eram bezerros para
comercialização, e cada junta custava a módica quantia de 2.000,00€.
Precisamente o dobro do que custava há catorze anos, quando o meu tio Acácio me
dizia, esperando que eu concretizasse o sonho que a idade já não lhe consentia:
“Ó menina, que lindos animais! E baratos! Por duzentos contos leva-se para casa
uma junta de bois de luxo!”
Como serão futuramente as
feiras dos bois e quais os preços de mercado? Estamos certos de que alguém nos
dará notícia e de preferência… na nossa imprensa regional.
A.
Domingos Santos
Sem comentários:
Enviar um comentário