08 novembro 2013

Saúde vs Envelhecimento Activo


É engraçado o número de vezes que me perguntam “Como é que tem tanta energia?”, eu costumo dar uma resposta muito simples que é, tenho vontade de viver.

Aos 87 anos continuo a considerar-me uma pessoa extremamente activa, capaz de caminhar várias horas, conhecer o meu país em pequenas viagens e dedicar-me aos meus hobbies favoritos, pintar e restaurar objectos. Mas não pensem que a idade passou por mim e não deixou marcas.

A velhice trouxe-me problemas cardíacos e renais, mas eu não deixo que esses obstáculos definam o rumo que a minha vida deve tomar.

Vim ao mundo para aproveitar ao máximo o que a vida tem para oferecer, por isso cuido da minha saúde o melhor que posso. Sem ela, nunca terei capacidade de fazer tudo aquilo que quero.

Defendo que nos devemos preocupar, prevenir e ter os cuidados necessários para prolongar o nosso caminho. Mas que caminho é esse se eu viver a lamentar as minhas limitações? Apenas farei com que pareçam barreiras maiores. Há mais de 10 anos que vivo com elas e o que aprendi foi a adaptar-me às circunstâncias…

Hoje já não faço maratonas, apenas caminho… Mas é esse caminhar que vai mantendo o meu corpo activo. A mente é a minha bengala, é nela que eu me apoio quando estou a ir-me abaixo e é ela que me dá forças para ultrapassar todos os pequenos e grandes obstáculos.

Cada vez mais se ouve falar do envelhecimento activo e da sua importância. Mas para mim essa não é uma novidade, mas sim a realidade que eu quis tornar filosofia. Envelhecer é um processo natural da vida, não vale a pena omitir a idade, negar o óbvio, porque não voltamos atrás no tempo. Eu olho para o presente e sinto-me feliz. Realizo-me todos os dias quando faço o que gosto, depois de 50 anos a trabalhar em algo que não tinha qualquer paixão.

A reforma permitiu-me começar a viver e não sobreviver. E não pertenço ao grupo de pessoas com reformas acima dos mil euros. Quando digo que passei a viver é porque agora tenho tempo livre, tempo esse que ocupo como eu quero e da maneira que me dá prazer. As minhas doenças não me impedem de ter um envelhecimento activo.

A maioria da população idosa portuguesa está perdida, pois só lhes apresentam textos de doenças, programas de drama e informações negativas. Mas a vida está muito mais além daquilo que a TV passa…

Temos que aprender a equilibrar a balança, aprender a viver com as nossas limitações e viver o presente. Em vez de lamentar o que lhe aconteceu, pense… o que é que eu gostaria de fazer que está ao meu alcance e nunca fiz? Aí encontrará a motivação para começar a ter um envelhecimento activo sem ter que descuidar-se da sua saúde. Nunca se esqueça que “ a vida é feita de pequenos nadas”.

Francisco de Almeida Teles

in Revista REVIVER, Nº 3 – Junho de 2013

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