É engraçado o número de
vezes que me perguntam “Como é que tem tanta energia?”, eu costumo dar uma
resposta muito simples que é, tenho vontade de viver.
Aos 87 anos continuo a
considerar-me uma pessoa extremamente activa, capaz de caminhar várias horas,
conhecer o meu país em pequenas viagens e dedicar-me aos meus hobbies
favoritos, pintar e restaurar objectos. Mas não pensem que a idade passou por
mim e não deixou marcas.
A velhice trouxe-me
problemas cardíacos e renais, mas eu não deixo que esses obstáculos definam o
rumo que a minha vida deve tomar.
Vim ao mundo para
aproveitar ao máximo o que a vida tem para oferecer, por isso cuido da minha
saúde o melhor que posso. Sem ela, nunca terei capacidade de fazer tudo aquilo
que quero.
Defendo que nos devemos
preocupar, prevenir e ter os cuidados necessários para prolongar o nosso
caminho. Mas que caminho é esse se eu viver a lamentar as minhas limitações? Apenas
farei com que pareçam barreiras maiores. Há mais de 10 anos que vivo com elas e
o que aprendi foi a adaptar-me às circunstâncias…
Hoje já não faço
maratonas, apenas caminho… Mas é esse caminhar que vai mantendo o meu corpo
activo. A mente é a minha bengala, é nela que eu me apoio quando estou a ir-me
abaixo e é ela que me dá forças para ultrapassar todos os pequenos e grandes
obstáculos.
Cada vez mais se ouve
falar do envelhecimento activo e da sua importância. Mas para mim essa não é
uma novidade, mas sim a realidade que eu quis tornar filosofia. Envelhecer é um
processo natural da vida, não vale a pena omitir a idade, negar o óbvio, porque
não voltamos atrás no tempo. Eu olho para o presente e sinto-me feliz.
Realizo-me todos os dias quando faço o que gosto, depois de 50 anos a trabalhar
em algo que não tinha qualquer paixão.
A reforma permitiu-me
começar a viver e não sobreviver. E não pertenço ao grupo de pessoas com
reformas acima dos mil euros. Quando digo que passei a viver é porque agora tenho
tempo livre, tempo esse que ocupo como eu quero e da maneira que me dá prazer.
As minhas doenças não me impedem de ter um envelhecimento activo.
A maioria da população
idosa portuguesa está perdida, pois só lhes apresentam textos de doenças,
programas de drama e informações negativas. Mas a vida está muito mais além
daquilo que a TV passa…
Temos que aprender a
equilibrar a balança, aprender a viver com as nossas limitações e viver o
presente. Em vez de lamentar o que lhe aconteceu, pense… o que é que eu
gostaria de fazer que está ao meu alcance e nunca fiz? Aí encontrará a
motivação para começar a ter um envelhecimento activo sem ter que descuidar-se
da sua saúde. Nunca se esqueça que “ a vida é feita de pequenos nadas”.
Francisco de Almeida Teles
in
Revista REVIVER, Nº 3 –
Junho de 2013
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