Inicialmente previa-se um “ataque” implacável destes antigos Comandos à região. Mas, afinal, todos eles acabaram rendidos às nossas belezas naturais, à gastronomia e à simpatia das nossas gentes. Vamos ver por onde eles andaram.
Arganil situa-se numa região predominantemente montanhosa. Sede de concelho, composto por 17 freguesias, a sua existência é muito antiga, como o comprovam vestígios encontrados em explorações arqueológicas. Tornado conhecido em todo o mundo por ser o palco mais característico do Rali de Portugal, o nome de Arganil está associado a aldeias na serra do Açor preservadas, mas também aos belos espaços verdes que se multiplicam em diversidade aos olhos do visitante.
Antes do almoço ainda houve tempo para uma breve visita aos cuidados jardins da Santa Casa da Misericórdia.
O almoço excelentemente servido no Restaurante Impala, no Sarzedo foi o tonificante para depois nos aventurarmos à descoberta da nossa bela e encantadora região.
Com passagem por Folques e Côja atingimos o Piódão que é, sob o ponto de vista turístico, um dos principais pontos de referência de todo o concelho de Arganil.
A típica aldeia em forma de presépio, com casario em xisto e telhados com a mesma laje é propícia a um regresso ao passado bem presente no dia-a-dia dos habitantes da aldeia, que se espalham pelos socalcos, onde praticam uma agricultura de subsistência. O que mais impressiona em Piódão é o casario levantado como escultura, é a simbiose com a montanha de xisto e a floresta, são as casas de miudinho xisto tão sabiamente colocado que durará talvez por mil anos. Homens e animais quase convivem no tempo, uns em baixo, outros em cima, no pequeno resguardo forrado de castanho onde o lume se acendia em lareiras fundas de bancos corridos. Maravilhosa é a cenografia de janelas, às vezes de guilhotina, cujas molduras e grossas torsas de castanho como as das portas sempre se pintaram de azul, cor de céu ressaltando contra o branco que rasga a escuridão do xisto e o ilumina como a tela de pintura feita obra-prima.
Considerada de interesse nacional, a aldeia, localizada em plena serra do Açor, é hoje um local privilegiado para quem procura um turismo rural.
Pensa-se que a povoação tem origem na Idade Média. Em 1679 é criada a freguesia de Piódão e em 1866 o padre Manuel Fernandes Nogueira fundou um colégio que, até ao seu encerramento, em 1906, se tornou um importante pólo cultural da região, por onde passaram cerca de mil alunos.
Em Piódão pode visitar-se não só toda a aldeia, interessante pela particularidade da sua construção numa concepção urbanística tipicamente medieval e dos pormenores das ruas estreitas, onde encontram variadas fontes de água pura e fresca, mas também a bela Igreja Matriz e a Capela de S. Pedro.
Todos os participantes visitaram com muito interesse e visível curiosidade o Núcleo Museológico do Piódão, onde se pode confirmar que as raízes de um povo entroncam na sua memória colectiva.
Conforme se lê no folheto entregue durante a nossa visita “Olvidar o passado significa quase sempre cair na aculturação – resulta em rápida desagregação social e perca de identidade. Uma cultura só permanece viva enquanto houver um conjunto significativo de actos, objectos e histórias reconhecíveis por todos como pertencendo a um legado comum. Esta herança identitária – corpus cultural recebido e transmitido entre pais e filhos – é a base da coesão comunitária, o cimento sobre o qual se podem, com segurança, erguer os alicerces dos dias que estão para vir.
Este Museu pertence por isso, em primeiro lugar, aos habitantes da freguesia do Piódão. Recordar o seu passado é também uma forma de contribuir para a construção do seu futuro.
Quanto aos turistas que nos visitam, fazemos votos de que este espaço os ajude a entender um pouco melhor a alma do lugar. É importante sentirem que aqui – no coração de pedra da montanha – cada casa tem uma respiração própria, cada objecto uma história para contar e cada pessoa a dignidade de uma vida por detrás.”
A Mata da Margaraça, classificada como Reserva Natural da Rede Nacional de Áreas Protegidas e Reserva Biogenética do Conselho da Europa, está localizada próximo da povoação de Pardieiros, entre os 600-850m de altitude.
Constitui um raro testemunho da vegetação espontânea e uma importante reserva de fauna e flora, tal como existiria séculos atrás. Trata-se de um testemunho quase único em Portugal, autêntica relíquia da cobertura florestal da região. Apresenta-se como uma floresta muito antiga dominada pelo castanheiro e pelo carvalho-alvarinho, que coexistem com outras espécies como o azereiro, o loureiro, o azevinho, entre outras.
Num recanto de xisto e de vegetação muito própria, em plena Mata da Margaraça, a Fraga da Pena revela-se ao visitante por entre uma paisagem luxuriante. Constitui um interessante acidente geológico atravessado por uma linha de água, na Barroca de Degraínhos, resultando num belo conjunto de quedas de água. Este local conserva na margem direita alguns exemplares antigos de carvalho-alvarinho, castanheiro, medronheiro e folhado para além de outras espécies de cariz mediterrânico.
Monte Redondo. De acordo com o Foral de Folques, os seus primeiros moradores terão vindo da fronteira aldeia das Torrozelas em 1225 e centrado a sua actividade na pastorícia, nos trabalhos da floresta e na agricultura de subsistência. Uma estrada sinuosa não foi impeditiva que chegássemos ao cimo, visitássemos a antiga casa da professora, hoje propriedade de um antigo Comando, e pudéssemos confirmar a vista invulgar e bela que da aldeia se contempla.
A Comissão de Melhoramentos do Monte Redondo recebeu condignamente e com muita simpatia todos estes aventureiros descobridores da serra do Açor e na antiga escola presenteou-nos com uma divinal chanfana, um “ex-libris” da nossa gastronomia serrana e agora candidata finalista às Sete Maravilhas.
No final do repasto os dirigentes da União Progressiva ofereceram à Comissão do Monte Redondo uma lembrança alusiva a esta visita.
O grupo ficou instalado no Hotel Arganil, uma unidade hoteleira integrada em zona de montanha, numa região de beleza natural excepcional e que a todos surpreendeu pelas suas excelentes instalações. Também agradavelmente surpreendidos ficamos ao depararmo-nos na recepção e nas várias salas, com belos trabalhos executados em linho, quadros de autêntica pintura, da nossa associada Josefina Almeida, do Açor.
1 comentário:
Afinal, eram comandos e “comandas”! Bonito grupo!
Com tão bom acolhimento e beleza – a natural e a tal pintada a linha sobre linho por Josefina Almeida – não admira que assim se tenham rendido à serra e às suas gentes de que alguns farão parte!
Voltam sempre.
Lisete de Matos
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