10 dezembro 2009

Clube de Contadores de Histórias (XI)

D. Florinda
Tem setenta anos a D. Florinda. E num dia de cada mês há correspondência na sua caixa de correio. — Vem na hora certa — diz a D. Florinda, sorrindo para o gato que anda sempre atrás dela. D. Florinda veste roupa nova, penteia melhor o cabelo ralo, branco e curto. Calça os sapatos de pano e borracha, fecha a porta com muito cuidado, e mete a chave num saco bastante coçado. Truc, truc, truc... lá vai ela muito direita. Lá vai ela a caminho do banco. Quando entra, entrega a carta ao empregado, e diz baixinho: — É a minha reforma! Recebe o dinheiro e, truc, truc, truc..., lá vai ela muito direita. Lá vai ela a caminho da livraria do Zé. Depois de entrar percorre as estantes com o olhar. Demora-se, indecisa na escolha. E acaba por descobrir o livro, que paga e manda embrulhar. Outra vez na rua, truc, truc, truc..., lá vai ela a caminho da casa onde mora o Rodrigo, o seu neto. Toca à campainha, aparece o Rodrigo, e ela estende o embrulho e diz: — É para ti, rapaz. Mais um livro para a tua biblioteca!
António Mota Segredos Porto, Desabrochar Editorial, 1996
O Clube de Contadores de Histórias Biblioteca da Escola Secundária Daniel Faria - Baltar

1 comentário:

Anónimo disse...

Uma pequena história que deveria ser lida por todos e seguida por muitos.
Em pequenino ensinaram-me que "um livro é o nosso melhor amigo".
Nunca esqueci esta pequena frase, esta sugestão ou este conselho.
Ler faz bem.