Roque Gameiro numa excelente reconstituição da Rua Nova dos Ferros de uma Lisboa Manuelina já distante e desfigurada.
"Era esta a cidade das Descobertas, deslumbrante e enriquecida pela vontade de um rei, quando mercadores e marinheiros, cartógrafos e sábios, oriundos das quatro partidas do mundo, se acotovelavam na Ribeira, e nos ares atroavam as trombetas, charamelas, orlos, harpas, alaúdes e pandeiros dos homens do Senhor Rei D. Manuel, dos tangedoures mouriscos e as vozes harmoniosas dos grupos corais dos conventos e mosteiros; quando na rua principal da urbes medievales, renovada e engrandecida - a Rua Nova dos Ferros -, se mercanciavam os produtos do Oriente: aromas, pérolas, rubis, esmeraldas e outras pedras preciosas, a que alude o cronista Damião de Góis.
Ex-líbris da Lisboa de então, a Rua Nova dos Ferros era, de facto, só por si, mais do que Veneza, Sevilha ou Bizâncio, o principal centro mercantil da Europa, artéria ofuscante de luxos e riquezas, rodeada de estabelecimentos vários - alfaiates, boticas, livreiros, serigueiros, gravadores, casas de escambo -, e de edifícios altos, com seus telhados flamengos, rótulas e chaminés mudéjares, de lojas sumptuosas, engravidadas das mais sumptuosas tapeçarias, rases e alcatifas, de sedas da China e de brocados de Constantinopla, de lacas, de ouro, de benjoim, de âmbar e de madrepérola, porcelanas e almíscar, pratas lavradas e espelhos venezianos."...
Hoje a Rua Nova dos Ferros chama-se Rua do Comércio.
in Lisboa das Descobertas, por Ferreira de Andrade - Anuário do Turismo Português - 1960
Biblioteca da UPFC no Colmeal
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