05 março 2009

O papel da imprensa regionalista no progresso da Beira-Serra

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Quem percorrer hoje a vasta região da Beira-Serra, apesar das suas múltiplas carências, não imagina o isolamento em que as suas populações viviam antes dos anos trinta. As poucas vias de comunicação do país ligavam apenas as grandes cidades; o telefone era luxo possível só aos que viviam nos maiores centros; os serviços postais funcionavam, na melhor das hipóteses, uma ou duas vezes por semana; a doença curava-se com as ervas que o barbeiro prescrevia; a água ia-se buscar à fonte de chafurdo que as raparigas limpavam uma vez por mês. Nascia-se, vivia-se e morria-se emparedado entre duas serras, sem se imaginar que para além da linha do horizonte a vida oferecia aos homens outras condições mais humanas que passam pela escola, pelo hospital e por um trabalho minimamente compensador. A exiguidade dos recursos foi, sem dúvida, a causa principal do êxodo de muitos, sobretudo para Lisboa, onde havia um ordenado e a possibilidade de aprender a escrever e a fazer contas. O contacto com a cidade, junto a um amor umbilical que prendia estes homens à pequena aldeia que os vira nascer, fizeram-lhes ver que a única solução era unirem as vontades, os esforços e as capacidades, para arrancarem as suas terras da letargia e do esquecimento a que eram votadas pela máquina governativa. Nasceram assim as Ligas, as Uniões e as Comissões de Melhoramentos. O que os homens da política não souberam realizar – esquecidos de que o país era muito mais do que a meia dúzia de centros urbanos da orla marítima – fizeram-no os regionalistas numa conjugação de esforços, sabendo que as dificuldades se vencem com a persistência e com a tenacidade dos que não voltam as costas ao combate. As primeiras ligações telefónicas, os primeiros fontanários e lavadouros públicos, as primeiras estradas e até as primeiras escolas, foram fruto desta união e deste desejo de verem as suas aldeias providas de um mínimo de condições que as tornassem habitáveis. Por detrás deste esforço é de justiça salientar o papel da imprensa regionalista, que sempre apoiou as iniciativas em curso e serviu de voz pública, junto dos homens do poder, a respeito das carências que afectavam muitos dos povos disseminados por toda a Beira-Serra. Um outro papel da imprensa foi o de estimular a própria criação de novos núcleos regionalistas. A informação do êxito dos primeiros levou outros a pensarem que era aquela, naquele momento, a única via para se sair do ostracismo a que as condições geográficas e o desinteresse do executivo político haviam votado toda a região. Podemos dizer, no entanto, que o papel da imprensa regionalista teria sido muito melhor desempenhado se não tem havido por parte de muitos dos que ali escreviam uma colagem servil aos ditames de uma determinada política. O louvor infundado àqueles que, ao darem alguma coisa, mais não faziam que um acto de justiça, não deixava de ser ultraje para muitos dos que, no silêncio, e apenas por amor às suas terras, dedicavam o melhor de si mesmos à grande causa do Regionalismo. Os tempos eram outros. Mas a Imprensa, sobretudo a Regionalista, não cumpre bem o seu dever se não se colocar, sempre, do lado dos mais carecidos de apoio. Apesar destes desvios, muitas vezes significativos, cumpre dar a cada um aquilo que lhe é devido. E a Beira-Serra deve muito do que hoje é aos jornais regionalistas, sempre interessados em fazer chegar às cúpulas da governação as necessidades e os desejos dos povos. A César o que é de César!
JESUS RAMOS (Chefe de Redacção de «O CORREIO DE COIMBRA»
in Boletim “O Colmeal”, Nº 175, de Julho/Agosto de 1981 Este artigo de opinião foi escrito para o Boletim “O Colmeal”, número especial comemorativo dos cinquenta anos da União Progressiva da Freguesia do Colmeal. Tal como então, o papel da imprensa regional continua a ser importantíssimo e não pode nem deve ser ignorado. A. Domingos Santos

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