29 novembro 2013

A Feira dos Bois




Ao lermos o recente livro sobre a vida de José Maria Alves Caetano deparámo-nos a páginas 263, no capítulo Regional – Viagens, com um seu artigo publicado em 6 de Setembro de 1922 em A Comarca de Arganil, que a seguir tomamos a liberdade de transcrever na parte que se refere a uma visita que fez a Arganil e à feira dos bois.

   “Depois, uma visita mais detalhada à feira que, apesar de me não ter desagradado, me pareceu não ter progredido. Bem pode ser que me enganasse, visto que havia 39 anos que não via a feira e a nossa vista das 19 primaveras vê as coisas com cores mais vivas, predominando a cor-de-rosa.
   Pareceu-me, no entanto, que naquele tempo havia mais entusiasmo e que a feira era mais comercial e mesmo mais abundante em diversos artigos.
   Enfim, como já disse, é provável que os meus olhos me tivessem enganado.
   Gostei imenso da feira dos bois pela abundância e pelos belos exemplares que vi expostos, alguns bastante corpulentos e belamente tratados, ficando-me especialmente na retina uma junta do lugar de Ádela.
   Noutro tempo falava-se na feira dos bois em moedas (4$800 réis) e os preços oscilavam, para juntas de bezerros e bois de trabalho, entre 10 e 15 moedas; agora falava-se em centos de mil réis e em contos. Aquela junta de belos exemplares a que especialmente me referi, ouviu, se me não engano, um conto e duzentos mil réis, e os donos não aceitaram a oferta.”

Não pudemos deixar de associar esta passagem com um excelente trabalho da Dr.ª Lisete de Matos que recordávamos ter lido no extinto/suspenso Jornal de Arganil (29 de Setembro de 2011) e que tinha por título “Os bois de trabalho”.

   “Mostravam-se, uma vez mais, garbosos como os donos, na Feira do Mont’Alto. Não seriam mais de vinte, mas eram os suficientes para permitir aos muitos observadores mais ou menos nostálgicos ou interessados pelas espécies bovinas – sempre mais homens do que mulheres – o prazer do reencontro com aqueles antigos e pachorrentos companheiros de trabalho duro e andar vagaroso.
   Alguns eram reincidentes: lindos e gigantescos, são animais de exposição e concurso, hoje que as máquinas fazem com eficiência acrescida o trabalho que lhes competia, e que as estradas, por onde os respectivos carros chiavam gemendo de esforço e lonjura, foram substituídas por outras, infelizmente nem sempre compatíveis com as exigências do presente.
   Outros não: eram bezerros para comercialização, e cada junta custava a módica quantia de 2.000,00€. Precisamente o dobro do que custava há catorze anos, quando o meu tio Acácio me dizia, esperando que eu concretizasse o sonho que a idade já não lhe consentia: “Ó menina, que lindos animais! E baratos! Por duzentos contos leva-se para casa uma junta de bois de luxo!”

Como serão futuramente as feiras dos bois e quais os preços de mercado? Estamos certos de que alguém nos dará notícia e de preferência… na nossa imprensa regional.

A. Domingos Santos


  

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