16 março 2019

Conversa de amigos. Um livro. Um autor.




As conversas são como as cerejas, sempre se ouviu dizer. Mas, isso era no tempo em que as pessoas falavam, porque hoje comunicam, teclam e… 

Numa recente visita a uns amigos, às tantas falava-se de livros, de Saramago, do seu modo de escrever, da dificuldade na leitura e de uma sua obra que tem por título “As Intermitências da Morte”. Que eu não lera. A curiosidade levou-me a adquiri-lo poucas horas depois e já ultrapassei as primeiras vinte páginas.
É uma recente edição na Porto Editora.

Espero não cometer nenhuma infracção grave face aos impedimentos legais de reprodução, mas não resisto a transcrever as primeiras linhas

“No dia seguinte ninguém morreu. O facto, por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenómeno semelhante, passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas, contadas entre diurnas e nocturnas, matutinas e vespertinas, sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada. Nem sequer um daqueles acidentes de automóvel tão frequentes em ocasiões festivas, quando a alegre irresponsabilidade e o excesso de álcool se desafiam mutuamente nas estradas para decidir sobre quem vai conseguir chegar à morte em primeiro lugar.”

José Saramago está presente na Biblioteca da União Progressiva no Colmeal, com algumas das suas obras.

Das badanas do livro acima referido retiramos a seguinte informação:
“Autor de mais de 40 títulos, José Saramago nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga.
As noites passadas na biblioteca pública do Palácio Galveias, em Lisboa, foram fundamentais para a sua formação. «E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou.»
Em 1947 publicou o seu primeiro livro que intitulou A Viúva, mas que, por razões editoriais, viria a sair com o título de Terra do Pecado. Seis anos depois, em 1953, terminaria o romance Claraboia, publicado apenas após a sua morte.
No final dos anos 50 tornou-se responsável pela produção na Editorial Estúdios Cor, função que conjugaria com a de tradutor, a partir de 1955, e de crítico literário.
Regressa à escrita em 1966 com Os Poemas Possíveis.
Em 1971 assumiu funções de editorialista no Diário de Lisboa e em Abril de 1975 é nomeado director-adjunto do Diário de Notícias.
No princípio de 1976 instala-se no Lavre para documentar o seu projecto de escrever sobre os camponeses sem terra. Assim nasceu o romance Levantado do Chão e o modo de narrar que caracteriza a sua ficção novelesca.
Até 2010, ano da sua morte, a 18 de Junho, em Lanzarote, José Saramago construiu uma obra incontornável na literatura portuguesa e universal, com títulos que vão de Memorial do Convento a Caim, passando por O Ano da Morte de Ricardo Reis, O Evangelho segundo Jesus Cristo, Ensaio sobre a Cegueira, Todos os Nomes ou A Viagem do Elefante, obras traduzidas em todo o mundo.
No ano de 2007 foi criada em Lisboa uma Fundação com o seu nome, que trabalha pela difusão da literatura, pela defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, tomando como documento orientador a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Desde 2012 a Fundação José Saramago tem a sua sede na Casa dos Bicos, em Lisboa.
José Saramago recebeu o Prémio Camões em 1995 e o Prémio Nobel de Literatura em 1998.”

Na União Progressiva da Freguesia do Colmeal, associação regionalista do concelho de Góis, fundada em 20 de Setembro de 1931, desempenhou o cargo de 1º Secretário da Direcção, de 18 de Janeiro de 1948 a 17 de Dezembro de 1950 e de 24 de Abril de 1954 a 27 de Dezembro de 1955.

E tal como Saramago, leia, desenvolva o seu gosto pela leitura.

A. Domingos Santos

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim, a leitura permanece fonte imprescindível de prazer e fruição estética, de reflexão e divertimento, apesar do atual protagonismo da imagem e da evolução no plano dos suportes. Sem prejuízo, naturalmente, do seu papel, igualmente incontornável, como ferramenta de aquisição, atualização e desenvolvimento dos conhecimentos e competências de que carecemos para fazer face à mudança social. Nesta última perspetiva, tantos anos passados, ainda me ocorre o impacto daquele cartaz da Unesco (1990) que, a propósito da alfabetização que possibilita e promove a leitura (e a escrita), mostrava um indivíduo a caminhar afoito sobre uns lápis-andas, sonhando e deixando escritas na vida pegadas indeléveis de realização e felicidade. Não consegui transpor a imagem para o comentário, mas tentarei partilhá-la, um dia.
No que toca às "Intermitências da Morte", para além da reflexão irónica sobre a morte que faz parte da vida, gostei, muito especialmente, da escrita. Como noutras obras de Saramago.
Lisete de Matos
Açor, Colmeal.







Lisete de Matos
Açor, Colmeal.