Com
este título publicou o semanário regionalista A Comarca de Arganil o Editorial assinado pelo seu Director António
Lopes Machado. Foi no dia 27 de Setembro. Por nele se fazer referência a Ádela
e ao Açor, aldeias periféricas da nossa freguesia do Colmeal e do concelho de
Góis, e também a duas associadas da União Progressiva da Freguesia do Colmeal,
que muito apreciamos e estimamos, entendemos aqui proceder à sua transcrição.
“O
Açor é uma pequena ave de rapina, da família dos falcões, que deve ter existido
em grande número no alto concelho de Arganil, entre os rios Alva e Ceira, e que
deu o nome à serra.
Mas
não apenas à serra, mas a duas povoações da região, já nos vizinhos concelhos
de Góis e Pampilhosa da Serra, o que significa que o açor era por aqui muito
conhecido, como era naturalmente nas ilhas atlânticas, a que deu o nome de
Açores.
A
cinco quilómetros da Selada das Eiras, que é um ponto de derivação na Serra da
Aveleira, depois das Torrozelas, há uma pequena aldeia chamada Açor. É o Açor
de Ádela, que é a povoação que lhe fica mais próximo. Pertence à freguesia do Colmeal
e concelho de Góis; e ali perto, do outro lado do rio Ceira, há outra povoação
designada Açor, próximo das Boiças, que pertence à freguesia de Fajão e
concelho da Pampilhosa da Serra, onde já não vive ninguém. A serra imensa
estende-se por um e pelo outro lado do Ceira e a vida não será fácil vivê-la
por ali, principalmente no Inverno, e pelo seu isolamento, embora hoje já
tenham estradinhas muito razoáveis.
Ainda
conheci regionalistas ao Açor e às Boiças, que muito fizeram pela sobrevivência
das povoações, mas isso não chegou, naturalmente por falta de recursos que por
a qui não abundam.
Mas
voltando ao Açor de Ádela, onde ainda residem quase tantas pessoas como em
Ádela, apesar de ser mais pequena. O Regionalismo também por aqui teve sempre
grandes tradições.
Fui
lá visitar duas senhoras que, com elevado grau de cultura para o meio,
continuam a viver ali todo o ano ou a maior parte, apesar do seu isolamento no
meio da imensa serrania.
A
Dr.ª Lisete de Matos, funcionária superior do Ministério da Educação,
reconstruiu a casa da família e manteve-lhe o aspecto original de paredes em
xisto, com um bonito jardim e um castanheiro à porta. O castanheiro era a
árvore mais maravilhosa que tínhamos nas nossas terras serranas mas que foram
desaparecendo. Mas na serra ainda se dão, se fossem devidamente cuidados mas,
infelizmente, as árvores que proliferam livremente são o pinheiro e o
eucalipto, que dão madeira com menos tempo.
A
Dr.ª Lisete de Matos escreveu em 1990 um livro muito interessante: «Gente da
Serra do seu Quotidiano e Costumes». E depois outros se seguiram. Ocupa-se de
pequenas coisas, dos objectos e do seu significado, quase as fazendo «falar».
Gosta de escrever e interessa-se pela vida local, e logo no seu primeiro livro
sublinhou: «População por demais apegada ao torrão natal, ao seu esforço se
ficou a dever, durante décadas, a abertura de estradas, mais tarde o seu
alcatroamento; a construção de lavadouros e fontanários; à existência de
telefone, água e luz nas aldeias. Ligas de Melhoramentos, Liga de Amigos,
Uniões Progressivas, etc., estas, por sua vez, filiadas na Casa do Concelho de
Góis, casa da Comarca de Arganil, Casa das Beiras e outras agremiações
regionalistas», afirma ao falar da sua terra.
E
também ela gosta de participar. É presidente da Assembleia de Freguesia do
Colmeal e dirigente da Associação Amigos do Açor.
Vive
a vida local. Estuda os objectos e o seu significado, aparentemente
insignificante e vai guardando alguns que já não se usam com vista a um museu
local. É assim que se faz a história de um povo, que é grande ou pequeno
conforme as pessoas que nele nasceram e dele se ocuparam.
A
sua irmã, Josefina de Almeida, dedica-se à pintura a óleo e tem já uma obra
notável que tem exposto em vários locais, designadamente em Lisboa, em Arganil
e em Góis, onde ainda recentemente fez uma exposição com relativo êxito, em que
a terra e a região estão presentes.
A
serra e particularmente a região, sempre tiveram apaixonados pela Pintura,
bastando para tanto recordar Guilherme Filipe e Fernando Costa.
Passámos
por ali antes dos recentes incêndios e chamei a atenção do meu sobrinho e
motorista Manuel para a densidade florestal apreciável, permanentemente
ameaçada pelos incêndios, o grande flagelo que não raro deixa rastos
dramáticos, como ainda agora aconteceu na freguesia de Coja, o que muito se
lamenta.”
in “A Comarca de Arganil” Nº 11.975 de 27 de Setembro de 2012
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