António
Lopes Machado acaba de publicar a sua mais recente obra a que deu o título de “As Últimas Crónicas” e que dedica “aos
seus amigos e companheiros do Movimento Regionalista Arganilense, com quem
conviveu ao longo de cerca de sessenta anos, sempre em fraternal convívio e
amizade”.
Sem
qualquer preocupação do tempo ou do lugar, resolveu reunir as últimas Crónicas
que lhe pareceram com mais interesse. Ao falar do Regionalismo Arganilense,
refere-se naturalmente ao movimento que surgiu, englobando os três concelhos
que formavam a Comarca de Arganil, ou seja, os concelhos de Arganil, Góis e
Pampilhosa da Serra.
Recorda
que “Eram muitas as carências em toda a região da Beira interior em que estamos
situados, e que hoje designamos por Beira Serra, longe de uma capital de
distrito, Coimbra, perante o analfabetismo que grassava e a assistência à saúde
que era muito precária. E viviam nessa altura muitas pessoas nas nossas aldeias
serranas, à volta de uma agricultura de subsistência, hoje quase totalmente
desertificadas.
Embora
pouco desenvolvidos culturalmente, os naturais das aldeias serranas começavam a
aperceber-se de que as suas terras não tinham futuro. E partiram. Para o Brasil
e para a América, para os campos da borda d’água e principalmente para Lisboa,
o grande destino. Gente simples, pouco letrada, que deixava na terra a mulher e
os filhos. Viviam em Lisboa em «Casas da Malta», dividindo entre si as
despesas, na zona da velha Mouraria e pela encosta até ao Castelo e S. Tomé.
Queriam
trabalhar e aceitavam trabalhos duros sem olhar a sacrifícios: moços de
esquina, limpa-chaminés, engraxadores, varredores de rua, estivadores,
guardas-nocturnos, cangalheiros.” Como se lhes referiu Miguel Torga, o
médico-escritor «E se a fome aperta, que remédio senão abalar! Em colónias, que
é o tipo de emigração beiroa, o irmão a chamar o primo e o primo a chamar o
amigo, não há sítio no mundo onde não chegue o seu braço. Qualquer trabalho lhe
serve…».
Diz-nos
Lopes Machado que “é quem está longe da sua terra que mais a sente e que mais
gosta de a ver progredir”. Depois da fundação da primeira colectividade muitas
outras vão surgindo. Nas décadas de 30, 40 e 50 assiste-se a uma multiplicação,
primeiro ao nível de freguesia e de concelho, depois por cada localidade. O
Regionalismo transforma-se assim num grande Movimento de Solidariedade que se
mobiliza em festas e encontros com o fim de convívio e angariação de fundos
para fazer face a diversas iniciativas – a estrada, a escola, a residência para
a professora e o abastecimento de água estavam nas primeiras aspirações.
O
Regionalismo dos tempos actuais já é muito diferente e o autor aponta a
direcção “… as nossas colectividades regionalistas têm um grande papel a
desempenhar no campo cultural.”
O
livro está organizado em quatro partes. Na primeira, como não podia deixar de
ser estão os “Temas Regionalistas”.
Na segunda, “Viagens” relata-nos a
sua ida à Europeade de Folclore na Suíça e a Porto Seguro, ao encontro de um
conterrâneo. Ocupa a terceira parte com a “Divagação
pelas Ordens Militares e Religiosas” e finaliza com “A Comarca de Arganil – Uma dúzia de Editoriais”.
António
Lopes Machado teve a gentileza de nos oferecer um exemplar deste seu livro,
para a Biblioteca da União, no Colmeal.
Fotografia de A. Domingos
Santos
Sem comentários:
Enviar um comentário