As levadas e os barrocos espumavam de água cintilante, formando
cascatas ruidosas que corriam apressadas para a ribeira, e ela para o rio, que
ainda flui farto e verde, no Colmeal.
Caídas, as árvores cansadas de morrerem de pé obstruíam os
caminhos e as estradas, as pessoas limpavam-nas para poderem passar.
Faltavam a eletricidade, o telefone fixo e o móvel, o
isolamento e a solidão tolhiam e sufocavam. Por aí, idosos na escuridão, um
deficiente movimentado à força pouca dos braços da irmã e do cunhado, cidadãos
sem transporte próprio, cidadãos incontatáveis. Pairavam a desolação e o medo.
Da GNR ou da chamada proteção civil, nem sinais. Quanta
fragilidade a das infraestruturas e dos serviços que nos servem, quanta
vulnerabilidade a das nossas condições de existência! Desta vez, um pouco por
toda a parte.
Os telefones foram recuperando, embora o fixo tenha desertado
de novo com a neve de ontem, a eletricidade regressou ao fim de três dias e
duas noites de ausência. Regressou quando o Jorge já tinha chegado com um
gerador para refrescar as arcas e os congeladores, e quando, com a ajuda da
Paula e do Fernando, já o tinha ligado precisamente em minha casa.
Os efeitos do temporal passarão (ou não), mas o gesto de
solidariedade e generosidade do Jorge não. Perdurará na nossa memória e nos
nossos corações, a mitigar a dor das faltas, e a lembrar que temos de ser uns
para os outros, como costuma dizer!
Um consolo!
Lisete de Matos
Açor, Colmeal, 23/01/2013
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