04 maio 2012

Em abril águas mil



Chegou finalmente a chuva. Diz a minha prima Maria Amélia que já choveu num mês o que devia ter chovido em três.

Com a chuva, a serra florida rejubilou, a terra e as terras sequiosas rejuvenesceram, o rio e os barrocos recobraram, as plantações e sementeiras amuaram, o telefone e a internete abalaram, faz tanto tempo e não voltaram. Silenciadas uma vez mais, algumas terras e vidas ficaram ainda mais distintas e distantes, o tempo mais desigual e díspar no devir do próprio tempo.




Em contrapartida e para animar, voltaram as poupas, que andam por aí despreocupadas, o casal sempre junto a alimentar-se, a observar a paisagem ou à procura de casa. São aves muito tontas, que convivem relativamente bem com as pessoas, não raro optando, quando pousadas, por se alapar no chão, em vez de fugirem.




Também voltaram o cuco misterioso e as rolas comuns, que são muito ariscas, os chapins, que são um mimo de pequenez e desassossego e os tentilhões que passam a vida a cantar ou a comer trinca. Há outros, mas nunca fomos apresentados.



Dos pássaros que passaram o inverno connosco, os gaios continuam a rasgar as roupas coloridas que vestem, os melros a debicar comida de pardal, enquanto esperam que a terra agora molhada crie minhocas, o peto pica pau às risadas descaradas …


Enfim, em abril águas mil e em maio também, embora neste momento o sol até brilhe por entre as nuvens que correm apressadas para leste. Bom fim de semana.

Lisete de Matos
Açor, Colmeal, 4 de maio de 2012.

1 comentário:

Soito aldeia preservada disse...

Excelentes fotos e texto da Drª. Lisete Matos, publicado no Blog da UPF Colmeal. De salientar o atual caudal do rio Ceira, após cerca de 3 semanas de chuva bem caída na nossa zona, o que constitui um bom prenúncio da época balnear que se avizinha e que esperamos traga muita gente à Freguesia do Colmeal, ao Concelho de Góis e a toda a Beira Serra.
Parabéns à autora.