18 maio 2012

O FASCÍNIO DAS PLANTAS



Celebra-se hoje, pela primeira vez, o Dia internacional do Fascínio das Plantas. A iniciativa é da European Plant Science Organization (EPSO), visando conseguir que um maior número de pessoas se fascine pelas plantas e compreenda a sua importância para a agricultura, a preservação do ambiente, a produção sustentável de alimentos, a horticultura, a silvicultura, mas também para a produção de bens como o papel, a madeira, os produtos químicos, a energia e os produtos farmacêuticos.

Encontrei o Dia por acaso, ao visitar o sítio do Instituto Tecnológico de Química e Biologia da Universidade Nova de Lisboa. A pouca divulgação de que foi objecto deve prender-se com o facto de o mercado ainda não ter tido tempo para o apropriar como mais uma oportunidade de consumo para uns e consumismo para outros. Muito louvavelmente, foi divulgado o Dia Internacional dos Museus que decorre desde há muito a 18 de maio.

Para me associar ao evento, decidi partilhar o meu próprio fascínio – que não qualquer tipo de conhecimento científico - pela beleza e pela riqueza do património natural que nos cerca, configurando um recurso de excelência.

Como fazê-lo? Primeiro pensei celebrar com um grande ramo de herbáceas, essa miríade fantástica de plantas tão pequenas, singelas e tímidas, que não raro passam despercebidas ao passar desatento dos que passam. Depois - tendo embora consciência de estar a privilegiar a visibilidade dos maiores em detrimento da dos pequenos! – optei por um molho de subarbustivas, com destaque para as urzes que povoam a serra, matizando-a de cores e formas que lembram telas de pintores exímios. Feita esta opção, poder-se-á dizer que estou a festejar com um molho de mato, agora que já poucos o roçam como alimento e cama, que os animais transformavam no fertilizante que adubava a terra.

Alternando com o verde ou o pardo das zonas onde as árvores foram cortadas, a serra apresenta-se maioritariamente florida do amarelo da carqueja e do vermelho tinto da queiró. 



Nas avesseiras, ainda se veem já secos o branco da moiteira branca e o vermelho agora esbatido da moiteira preta ou vermelha que floriram cedo. [1]



A olho nu, a queiró, que está agora florida, distingue-se da moiteira preta ou vermelha pelo porte mais avassourado, pela forma das campainhas minúsculas que são arredondadas, enquanto as da moiteira lembram sinos, e pela época de floração. 



Em junho/julho, quando a queiró estiver prestes a secar, florirá a negrela, que é mais pequena das plantas do grupo das urzes.


Em pleno verão, florirá ainda a magurice, que aqui na zona também é chamada ponteira, cuja flor é vermelho/arroxeado e muito raramente branca, conforme constatei. Sendo a última a desabrochar numa época em que as flores já escasseiam, a magurice contribui decisivamente para as caraterísticas organoléticas do mel das Serras do Açor e Lousã.




No que toca as outras cores que presentemente enfeitam a serra, o amarelo também pode ser das duas espécies de tojo que abundam por aí, do sargaço dito branco, que é pouco frequente, e das giestas.




Brancas são as flores das estevas, que alguns chamam chagas, devido às cinco manchas em forma de coração que ostentam, as dos estevões e dos sargaços. Há giestas de flor branca, mas só se dão em algumas zonas.




Azul, só me lembro da flor da diminuta e rara polígala (microphylla), cuja flor já meio seca ainda se pode ver, por exemplo, perto do Colmeal. Que nome vulgar terá?



Lisete de Matos

Açor, Colmeal, 18 de maio de 2012.


[1] A denominação comum de muitas plantas difere de região para região e até de povoação para povoação, razão pela qual é possível conhecê-las por outro nome. Por exemplo, a moiteira preta ou vermelha também é chamada chamiça ou torga, de onde vem o pseudónimo de Torga.



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