Celebra-se hoje, pela primeira vez, o Dia
internacional do Fascínio das Plantas. A iniciativa é da European Plant Science
Organization (EPSO), visando conseguir que um maior número de pessoas se
fascine pelas plantas e compreenda a sua importância para a agricultura, a
preservação do ambiente, a produção sustentável de alimentos, a horticultura, a
silvicultura, mas também para a produção de bens como o papel, a madeira, os
produtos químicos, a energia e os produtos farmacêuticos.
Encontrei o Dia por acaso, ao visitar o sítio
do Instituto Tecnológico de Química e Biologia da Universidade Nova de Lisboa. A
pouca divulgação de que foi objecto deve prender-se com o facto de o mercado
ainda não ter tido tempo para o apropriar como mais uma oportunidade de consumo
para uns e consumismo para outros. Muito louvavelmente, foi divulgado o Dia
Internacional dos Museus que decorre desde há muito a 18 de maio.
Para me associar ao evento, decidi partilhar
o meu próprio fascínio – que não qualquer tipo de conhecimento científico - pela
beleza e pela riqueza do património natural que nos cerca, configurando um
recurso de excelência.
Como fazê-lo? Primeiro pensei celebrar com um
grande ramo de herbáceas, essa miríade fantástica de plantas tão pequenas, singelas
e tímidas, que não raro passam despercebidas ao passar desatento dos que
passam. Depois - tendo embora consciência de estar a privilegiar a visibilidade
dos maiores em detrimento da dos pequenos! – optei por um molho de subarbustivas,
com destaque para as urzes que povoam a serra, matizando-a de cores e formas
que lembram telas de pintores exímios. Feita esta opção, poder-se-á dizer que estou
a festejar com um molho de mato, agora que já poucos o roçam como alimento e
cama, que os animais transformavam no fertilizante que adubava a terra.
Alternando com o verde ou o pardo das zonas onde
as árvores foram cortadas, a serra apresenta-se maioritariamente florida do
amarelo da carqueja e do vermelho tinto da queiró.
Nas avesseiras, ainda se veem já secos o
branco da moiteira branca e o vermelho agora esbatido da moiteira preta ou vermelha
que floriram cedo. [1]
A olho nu, a queiró, que está agora florida, distingue-se
da moiteira preta ou vermelha pelo porte mais avassourado, pela forma das
campainhas minúsculas que são arredondadas, enquanto as da moiteira lembram
sinos, e pela época de floração.
Em junho/julho, quando a queiró estiver
prestes a secar, florirá a negrela, que é mais pequena das plantas do grupo das
urzes.
Em pleno verão, florirá ainda a magurice, que
aqui na zona também é chamada ponteira, cuja flor é vermelho/arroxeado e muito
raramente branca, conforme constatei. Sendo a última a desabrochar numa época
em que as flores já escasseiam, a magurice contribui decisivamente para as
caraterísticas organoléticas do mel das Serras do Açor e Lousã.
No que toca as outras cores que presentemente
enfeitam a serra, o amarelo também pode ser das duas espécies de tojo que
abundam por aí, do sargaço dito branco, que é pouco frequente, e das giestas.
Brancas são as flores das estevas, que alguns
chamam chagas, devido às cinco manchas em forma de coração que ostentam, as dos
estevões e dos sargaços. Há giestas de flor branca, mas só se dão em algumas
zonas.
Azul, só me lembro da flor da diminuta e rara
polígala (microphylla), cuja flor já meio seca ainda se pode ver, por exemplo,
perto do Colmeal. Que nome vulgar terá?
Lisete de Matos
Açor, Colmeal, 18 de maio de 2012.
[1] A denominação comum
de muitas plantas difere de região para região e até de povoação para povoação,
razão pela qual é possível conhecê-las por outro nome. Por exemplo, a moiteira
preta ou vermelha também é chamada chamiça ou torga, de onde vem o pseudónimo
de Torga.
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