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Bem querem a Maria Leonarda Tavares, a Diana, a Azinheira e o Carriço, o Fred Catabugalhos, o Bobi e a Felicidade, a Mariazita e os muitos outros personagens que tecem e enredam o universo narrativo de Bem-me-querem. Bem lhe querem também os leitores, por mais esta obra com que a autora acaba de os presentear, com eles partilhando os valores e os encantos que a comprometem e movem, na vida e nas causas sociais que abraça.
Bem-me-querem é um conjunto de histórias de generosidade e afecto, no relacionamento de pessoas e animais, animais entre si e com outros elementos da natureza. Maioritariamente, são histórias reais que a autora recorda e recria, ficcionando-as e conferindo-lhes a magia da personalidade escrita. Os protagonistas são bichos, mas são também pessoas e, sobretudo, a autora, cuja emoção e poder comunicativo nos permitem visualizar situações, (re)visitar tempos e lugares, viver amores e amizades possíveis e aparentemente impossíveis, chorar e conter as lágrimas, acalentar o sonho de continuar a sonhar … Lendo-a, celebramos, com S. Francisco de Assis e tantos outros pensadores, a irmandade, a igualdade e a interdependência de todos os seres vivos, cada um existindo e valendo por si próprio, independentemente do valor e da utilidade que o homem lhe atribui.
Misto de crónica e fábula, Bem-me-querem são histórias que a memória e o passado alicerçam para afirmar e questionar o presente: “Todos os que amei estão vivos porque os guardo na memória” (P. 86). “Terei alguém na velhice que me queira tanto? A quantos de nós humanos o destino consente uma velhice tão estimada e tão digna como a tua?” (P.93). História alicerçadas na memória também para prenunciar o futuro, e o obrigar a cumprir-se favoravelmente, pelas lições de vida e solidariedade que comportam. Dizia alguém que a grandiosidade de uma nação e o seu progresso moral se podem medir pelo modo como trata os animais. Já agora, também os idosos e as crianças.
Ao ler o livro de Maria Leonarda Tavares, lembrei-me, entre outros, de obras e autores como A minha Família e outros Animais, de Gerard Durrell, Bichos, de Miguel Torga, Cão como nós, de Manuel Alegre, História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar, de Luís de Sepúlveda, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado, Romance da Raposa, de Aquilino Ribeiro … Grande plêiade! Embora diferentes quanto ao estilo e ao contexto em que se desenrolam, são obras que vêem e admiram a diversidade dos seres vivos, irmanando-os, na singularidade de cada um, pela nobreza das qualidades com que agem ou pela falta dela.
Encantada e seduzida, gostei muito de ler Bem-me-querem, inclusive porque encontrei no livro muitos dos ingredientes que fazem a essência humana: a inteligência e a magnanimidade de espírito, a compaixão, a felicidade, o amor, a ternura, o encantamento, a ingenuidade, a pureza, a solidariedade, o respeito pelas diferenças e pela diversidade … Deixe-se encantar e seduzir você também! O livro encontra-se disponível na Biblioteca Municipal Miguel Torga (Av. das Forças Armadas. 3 300-011, Arganil), podendo ainda ser encomendado através dos telefones 235202462 966581635.
Tomando de empréstimo a metáfora com que a autora se despede do esquilo, “Sinto-me maravilhada por nos termos encontrado na vastidão do mundo” (P. 74).
Lisete de Matos
Açor, Colmeal, 14 de Dezembro de 2010.
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