03 outubro 2009

Clube de Contadores de Histórias (VII)

A rapariga que se enfeitava demais
Os pais de Aree davam-lhe tudo o que ela queria. Cumulavam-na de presentes. — Aree, estas argolas de oiro haviam de ficar tão bem nas tuas orelhas delicadas. Temos de tas comprar! — Aree, aquela pulseira de prata havia de ficar tão bem no teu braço fino. Temos de ta comprar! — Aree, aquele anel de rubis havia de ficar tão bem nos teus dedos esguios. Temos de to comprar! Sempre que viam um corte de seda especialmente bonito, exclamavam: — Oh, Aree, que bem há-de ficar-te esta cor! Temos de te comprar esta seda! O quarto de Aree estava cheio de guarda-jóias e de arcas a abarrotar de tecidos. Um dia, Aree ouviu falar de um baile na aldeia que ficava para lá das montanhas. — Eis uma excelente oportunidade para exibir as minhas roupas requintadas! Mas, que cor hei-de usar? Cor-de-rosa, fúcsia, escarlate? Azul celeste ou verde-claro? Talvez violeta… ou púrpura… ou magenta. Talvez amarelo-torrado… ou verde-esmeralda. Penso que vou usar cor-de-rosa. Vestiu um vestido cor-de-rosa brilhante. Mas havia um outro vestido, cor de esmeralda. — Este verde é tão elegante! Talvez possa usar os dois! Vestiu o verde por cima do rosa. — Assim, posso exibir dois dos meus vestidos de seda! Só que este fúcsia é o mais alegre de todos. Penso que o vou usar também. Pôs o fúcsia por cima do verde e começou a voltear. — Vou ser a rapariga mais bonita do baile! Mas não se ficou por ali. — Este amarelo-torrado é especialmente bonito. E vejam só este azul brilhante…Ninguém tem sedas tão caras como as minhas. Já agora, porque não usá-las todas? A azul clara…a violeta…esta púrpura com fios de oiro puro. Se usar todos os meus vestidos, vou ser, de certeza, a rapariga mais bonita do baile. A vaidosa Aree vestiu tudo o que tinha no armário. Como as roupas eram pesadas, ficou sem conseguir mexer-se. — São um pouco pesadas, mas vejam só! Sou a rapariga mais bela do baile! E a escolha continuou: — E que pulseira usar? A de ouro? Sim. A de prata? Claro. A de jade? É a minha favorita. E os anéis? O de rubis? O de safiras? O de esmeraldas? O de pérolas? O de opalas? Todos eles, sem dúvida alguma! Aree pôs todas as jóias que possuía. As amigas chegaram pouco tempo depois. — Aree! Pareces… Nem sabiam o que dizer. Aree saiu de casa aos tropeções, carregada de sedas, anéis, pulseiras e brincos. Mal podia andar. Mas sentia-se orgulhosa. — Vejam só as minhas belas roupas. Vejam só o meu oiro e as minhas jóias. Vou de certeza ser… a rapariga mais bela do baile! Parecia tão pateta que as amigas fizeram um esforço para não se rirem. Partiram em direcção à aldeia. Mas Aree não conseguia acompanhá-las. Cedo começou a bufar de irritação. — Esperem por mim! Esperem por mim! Não consigo subir a colina! As amigas vieram ajudá-la. — Podíamos empurrar-te pela colina acima. — Não me empurrem porque podem amarrotar os meus vestidos! — Podíamos puxar-te pela colina acima. — Não me puxem porque podem sujar as minhas roupas de seda. As raparigas decidiram deixar Aree para trás. Esta cambaleou durante algum tempo sozinha até que as chamou de novo. — Esperem por mim! Esperem por mim! Não consigo subir a colina! As amigas voltaram para trás. — O que vocês têm é inveja das minhas roupas requintadas. Se fizer o que me dizem, já não serei a rapariga mais bela do baile. Aree recusou-se a tirar fosse o que fosse. As amigas deixaram-na ficar ali e foram ao baile sozinhas. Durante o dia todo, Aree arrastou-se pela colina acima debaixo de um sol escaldante. Chegou ao cume à noitinha. Parou, demasiado exausta para dar mais um passo, enfiada naquelas roupas tão pesadas. Quando as amigas regressaram do baile, Aree ainda estava demasiado cansada para poder mexer-se. Foram buscar os pais dela e, quando estes chegaram, Aree já não se sentia vaidosa. — Pai, mãe, vesti coisas a mais! Não preciso destas roupas todas! — Tira então alguns desses vestidos e algumas dessas jóias pesadas. Ensinámos-te a querer demasiado. Tens de aprender a contentar-te com menos. Jóia a jóia, vestido a vestido, Aree despojou-se de todas as suas coisas. Da vez seguinte que foi a um baile, estava lindíssima no seu vestido simples.
Margaret Read MacDonald The Girl Who Wore Too Much Arkansas, August House, 1998 Tradução e adaptação
O Clube de Contadores de Histórias Biblioteca da Escola Secundária Daniel Faria - Baltar

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