13 agosto 2014

Anos 40-50 do século passado



Era assim o Cimo do Lugar, um dos pequenos “bairros” existentes no Colmeal. Casas escuras de pedras e de loisas, encaixadas na pequena encosta. Apenas de permeio uma rua de terra batida. Casas diferentes das de agora. Tinham vida. Tinham gente. Tinham alegria, dor, tristezas, bulício da pequenada, felicidade, lembrança e saudade dos que estavam longe, animais para tratar, leiras para cultivar, tinham vozes que se ouviam e que por vezes ecoavam pela aldeia.

Hoje, tudo é tão diferente. Apenas o silêncio. As casas abandonaram a escuridão e as pessoas abandonaram as casas. Uns por necessidade e outros pela lei da vida. A rua, agora calcetada, mas sem pessoas que a calquem. O chinelar das tamancas pertence ao passado tal como o cântaro à cabeça e o chiar do carro de bois. Já não se lança o pião nem se joga ao agarra ou às escondidas. Já não há quem passe com o sarrão à cabeça para ir ao “munho” ou a cesta de roupa para lavar no rio.

Olhando para a fotografia vêm à memória muitos dos que ali moravam. Já a caminho das Seladas e do Senhor da Amargura, a última casa era o que se podia chamar de “uma casa cheia”. Ali viviam Libânia e Germano com os seus dez filhos – Etelvina, Arménio, Fernando, Joaquim, Belmira, Alquecina, Manuel, Lúcia, Fátima e Carminda. Um pouco antes, ao Forno, a Emília e a Laurinda, que eram do Marmoiral. Logo a seguir, na Mina, a Maria e também o Alfredo “Malacho”, pai do nosso amigo “Tenente”.

José Antunes André, de Aldeia Velha e que foi um dos fundadores da nossa União Progressiva vivia com a esposa Maria Olinda e a filha Alice que com Mário de Almeida enriqueceram a casa com os jovens Fernando, Etelvino e Maria Helena.
Ao lado, a casa que ainda hoje mantém as características desse tempo e onde viviam Augusta e o marido, que todos conhecíamos como “Ti Zé do Quelho”. Um pouco acima e do fontanário vivia a “Ti” Rosa que recebia com muita alegria a visita dos seus netos vindos da Eira, o Fernando, a Graça e a Adosinda.

Descendo um pouco a rua recordamos a “Ti” Maria do Vale d’ Égua e ao cimo das escadas que a separavam de Gracinda e dos filhos Victor, Maria Idália, Samuel e Cecília vivia Manuel Madeira, a esposa e os três filhos, a Alice, o José e o Américo. Seguia-se Maria e Fortunato Joaquim que tiveram cinco filhos – Aires, Manuel, Ilda, Arménio e António, com o seu pequeno estabelecimento de mercearias e bebidas (ainda recordo os pirolitos com o berlinde) onde esteve instalado ocasionalmente o posto público do telefone. Logo a seguir e no topo de umas íngremes escadas viviam o “Ti” Zé do Quintal e Patrocínia de Jesus. Os seus três filhos, Manuel, Armando e António já nesses tempos labutavam por Lisboa. António Martins, Guilhermina e a filha Aurora também faziam parte daqueles que davam vida a esta parte da aldeia.

Do outro lado do caminho que nos levava ao Largo encontrava-mos a Alice e os filhos Maria Alice, Miquelina e Bernardino. Na casa próxima, o “Ti” Manuel Domingos, que muitas vezes víamos a carpinteirar na sua bancada colocada no exterior.

Começando a descer as escadinhas da Reigota, logo ao cimo, ali estava outra “casa cheia”. Hermano dos Santos, mais conhecido pelo “Ti” Hermano “o moleiro”, Maria dos Anjos de Almeida e os cinco filhos, Américo, Aníbal, Joaquim, Maria da Natividade e o Fernando. No final das escadas, um pouco à direita, a Lucinda “da padaria”.

Era assim o Cimo do Lugar. Que eu conheci.

A. Domingos Santos

3 comentários:

Anónimo disse...

Bonito e comovente abraço às pessoas. Para que as não esqueçamos e não nos esqueçamos.

Lisete de Matos

Açor, Colmeal,13 de Agosto de 2014

Catarina Domingos disse...

É com alguma nostalgia que leio este lindo texto, acerca do que foi o cimo do lugar...a minha idade não me permite lembrar de todas as pessoas referidas, mas recordo-me de algumas e recordo-me igualmente, de muitas que residiam em outras partes na nossa aldeia e é com alguma tristeza, que hoje, na maior parte dos dias, paramos, olhamos em nosso redor, contemplamos a paisagem e apenas se ouve o silêncio, em toda a nossa linda aldeia...
Será bom não esquecer os nossos antepassados e lembrá-los com o carinho que merecem.
Parabéns pelo artigo e pela sua memória,
Beijinhos

Anónimo disse...

Uma fotografia que encerra uma grande beleza e que é uma autêntica pérola de arquivo.
Bem haja ao seu autor e a quem a guardou para nos possibilitar ver como era o Colmeal antigamente.
São pedras negras que guardam segredos da vida.
Parabéns.