Era assim o Cimo do
Lugar, um dos pequenos “bairros”
existentes no Colmeal. Casas escuras de pedras e de loisas, encaixadas na
pequena encosta. Apenas de permeio uma rua de terra batida. Casas diferentes
das de agora. Tinham vida. Tinham gente. Tinham alegria, dor, tristezas,
bulício da pequenada, felicidade, lembrança e saudade dos que estavam longe,
animais para tratar, leiras para cultivar, tinham vozes que se ouviam e que por
vezes ecoavam pela aldeia.
Hoje, tudo é tão
diferente. Apenas o silêncio. As casas abandonaram a escuridão e as pessoas
abandonaram as casas. Uns por necessidade e outros pela lei da vida. A rua,
agora calcetada, mas sem pessoas que a calquem. O chinelar das tamancas
pertence ao passado tal como o cântaro à cabeça e o chiar do carro de bois. Já
não se lança o pião nem se joga ao agarra ou às escondidas. Já não há quem
passe com o sarrão à cabeça para ir ao “munho”
ou a cesta de roupa para lavar no rio.
Olhando
para a fotografia vêm à memória muitos dos que ali moravam. Já a caminho das
Seladas e do Senhor da Amargura, a última casa era o que se podia chamar de “uma casa cheia”. Ali viviam Libânia e
Germano com os seus dez filhos – Etelvina, Arménio, Fernando, Joaquim, Belmira,
Alquecina, Manuel, Lúcia, Fátima e Carminda. Um pouco antes, ao Forno, a Emília
e a Laurinda, que eram do Marmoiral. Logo a seguir, na Mina, a Maria e também o
Alfredo “Malacho”, pai do nosso amigo
“Tenente”.
José Antunes André, de
Aldeia Velha e que foi um dos fundadores da nossa União Progressiva vivia com a
esposa Maria Olinda e a filha Alice que com Mário de Almeida enriqueceram a
casa com os jovens Fernando, Etelvino e Maria Helena.
Ao lado, a casa que
ainda hoje mantém as características desse tempo e onde viviam Augusta e o
marido, que todos conhecíamos como “Ti Zé
do Quelho”. Um pouco acima e do fontanário vivia a “Ti” Rosa que recebia com muita alegria a visita dos seus netos
vindos da Eira, o Fernando, a Graça e a Adosinda.
Descendo
um pouco a rua recordamos a “Ti” Maria do Vale d’ Égua e ao cimo das escadas
que a separavam de Gracinda e dos filhos Victor, Maria Idália, Samuel e Cecília
vivia Manuel Madeira, a esposa e os três filhos, a Alice, o José e o Américo.
Seguia-se Maria e Fortunato Joaquim que tiveram cinco filhos – Aires, Manuel,
Ilda, Arménio e António, com o seu pequeno estabelecimento de mercearias e
bebidas (ainda recordo os pirolitos com o berlinde) onde esteve instalado ocasionalmente
o posto público do telefone. Logo a seguir e no topo de umas íngremes escadas
viviam o “Ti” Zé do Quintal e
Patrocínia de Jesus. Os seus três filhos, Manuel, Armando e António já nesses
tempos labutavam por Lisboa. António Martins, Guilhermina e a filha Aurora
também faziam parte daqueles que davam vida a esta parte da aldeia.
Do
outro lado do caminho que nos levava ao Largo encontrava-mos a Alice e os
filhos Maria Alice, Miquelina e Bernardino. Na casa próxima, o “Ti” Manuel
Domingos, que muitas vezes víamos a carpinteirar na sua bancada colocada no
exterior.
Começando
a descer as escadinhas da Reigota, logo ao cimo, ali estava outra “casa cheia”. Hermano dos Santos, mais
conhecido pelo “Ti” Hermano “o moleiro”, Maria dos Anjos de Almeida e
os cinco filhos, Américo, Aníbal, Joaquim, Maria da Natividade e o Fernando. No
final das escadas, um pouco à direita, a Lucinda “da padaria”.
Era
assim o Cimo do Lugar. Que eu conheci.
A. Domingos Santos
3 comentários:
Bonito e comovente abraço às pessoas. Para que as não esqueçamos e não nos esqueçamos.
Lisete de Matos
Açor, Colmeal,13 de Agosto de 2014
É com alguma nostalgia que leio este lindo texto, acerca do que foi o cimo do lugar...a minha idade não me permite lembrar de todas as pessoas referidas, mas recordo-me de algumas e recordo-me igualmente, de muitas que residiam em outras partes na nossa aldeia e é com alguma tristeza, que hoje, na maior parte dos dias, paramos, olhamos em nosso redor, contemplamos a paisagem e apenas se ouve o silêncio, em toda a nossa linda aldeia...
Será bom não esquecer os nossos antepassados e lembrá-los com o carinho que merecem.
Parabéns pelo artigo e pela sua memória,
Beijinhos
Uma fotografia que encerra uma grande beleza e que é uma autêntica pérola de arquivo.
Bem haja ao seu autor e a quem a guardou para nos possibilitar ver como era o Colmeal antigamente.
São pedras negras que guardam segredos da vida.
Parabéns.
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