29 dezembro 2012

NATAL NO COLMEAL


Domingo, 23 de dezembro de 2012. Quando cheguei, a sala encontrava-se repleta. Tive de pedir ao senhor Manuel, de Ádela, a quem agradeço, o favor de ceder o seu lugar sentado ao meu pai. Celebrava-se, na sala do Centro Paroquial, o convívio de Natal, organizado pela União Progressiva da Freguesia do Colmeal (UPFC), uma iniciativa que leva a cabo há uns anos, como contexto para a distribuição dos brinquedos às crianças, que data de haverá umas seis décadas. 



Esperavam-se este ano menos participantes, devido ao facto de o convívio ter tido lugar mais tarde, mas, a mim, pareceu-me sensivelmente o mesmo número. É verdade que faltavam os residentes que já se tinham juntado às suas famílias para o Natal, mas estavam outros, alguns aparentemente pela primeira vez. Praticamente havia pessoas de todas as terras da freguesia, as quais também se encontravam representadas através de dirigentes das suas coletividades, numa manifestação inequívoca da coesão e da união dos colmealenses em torno dos valores e dos atores que verdadeiramente os congregam e unem. Recordo aqui que a UPFC foi criada em 1931, para promover a melhoria das condições de vida na freguesia como um todo, só mais tarde se tendo verificado o surgimento de coletividades por aldeia ou agrupamentos de aldeias. Sem prejuízo da natural necessidade de afirmação individual a par com o esforço coletivo, todos não eram demais para levar o progresso e o bem-estar às suas terras de origem e, ao tempo, ainda de destino final.


Igualmente presentes, a desejar Boas Festas e um bom Ano Novo, o senhor Vice-Presidente da Câmara Municipal, Dr. José Rodrigues, o Presidente da Junta de Freguesia e os restantes membros do seu executivo, deputados e a Presidente da Assembleia de Freguesia.

Muito surpreendente, foi a situação que se me deparou ao fundo da sala, quando ali cheguei, depois de uns tantos “com licenças” e encontrões delicados. Parecia a cena de um outro filme! As crianças eram tantas, que o espanto se apoderou de mim, enquanto as observava bebés e mais crescidas, morenas, louras e ruivas, lindas, representando vida e renovação demográfica, presença intercultural e multilinguística.


Embora nem todas fossem visíveis, seriam dezasseis no total, de proveniência, nomeadamente, portuguesa, alemã, italiana e inglesa. Entre elas encontravam-se a Mariana e o Vasco, do Sobral, que recordo de tenra idade e agora já são uns encantadores jovens desabrochados. A UPFC já não precisa de uma carrinha para trazer os brinquedos, como antigamente, mas a presença daquelas crianças e de os seus jovens pais constitui uma promessa e, talvez, um sinal sobre os contornos do futuro da freguesia.

Sem que a máscara seja necessária porque as crianças são bem vindas, a Rose dedicava-se a pintá-las com obras de arte efémeras. Não era a primeira vez que a via a divertir os miúdos daquele modo, mas só desta senti necessidade de a felicitar pelo seu trabalho de criação e animação. Tal como ela, também o Josh se apresentava vestido de palhaço. Ambos vivem na Foz da Cova.



Quando todos já se tinham deliciado com as saborosas iguarias da Anabela e outras senhoras, coube-me a honra de iniciar a distribuição das prendas, com a entrega de um ursinho não a quem parece, mas ao bebé ternurento que o António tem ao colo.










Sendo a infância e a longevidade os protagonistas da festa, os mais idosos presentes - a D. Lucinda Almeida, do Colmeal e o Jaime, do Açor, ela com 85 e o meu pai com 95 anos, também foram chamados ao palco do reconhecimento e dos afetos, para serem brindados com as lembranças que os adultos receberam.


Mais tarde, dei comigo a pensar em como aquela sala se tinha transformado, por iniciativa da UPFC - a demonstrar a pertinência e a atualidade do regionalismo -, em expressão de continuidade e mudança, plataforma de encontro entre o presente, o passado e o futuro. Reunidos sob o mesmo teto, estávamos gente que sempre esteve, gente recém-chegada, gente que um dia partiu e regressou para ficar, gente que regressa, mas não fica, porque as razões que a levaram a partir ou às suas famílias, persistem adaptadas aos tempos de hoje … Gente que partiu e parte por necessidade económica, à procura de melhores condições de vida, gente que vem por disponibilidade ou desprendimento económico e gosto, também à procura das condições de vida que não tinha. Globalidade e localidade, mobilidade e fixação, proximidade e distância, isolamento e cosmopolitismo, singularidade e diversidade, velhos e novos valores… Fantástico! Diria a minha mãe Brancaflor que é por isso que o mundo não tomba!

Gosto muito deste convívio da UPFC. Porque é uma festa intergeracional e intercultural, como disse lá, mas também porque é familiar e íntima. E que este ano foi ainda uma manifestação de coesão, face ao risco de diluição que pesa sobre a nossa identidade. Parabéns à União pela organização do evento e por persistir nela, parabéns aos participantes pela sua presença que justifica a festa. Bem hajam todos pela generosidade, solidariedade e partilha.

Açor, Colmeal, 28 de Dezembro de 2012.

Lisete de Matos

Fotos de Catarina Domingos




1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns para Lisete de Matos que aqui apresenta e nos brinda a todos com um excelente texto cheio de ternura e de carinho. Vê-se que escreve com o coração.
Parabéns também para a União que ao fim de tantos anos continua a juntar à sua volta mais novos e mais velhos num convívio cheio de amor para os que ainda vão resistindo ao isolamento. Uma ternurinha ver as criancinhas a receber os seus brinquedos (para quantas delas não terá sido o seu primeiro brinquedo?) e sem perceberem o que se estava a passar, porque a sua língua é outra. Amor e carinho não faltaram e isso foi e é importante.
Bem hajam todos os que ali estiveram e possibilitaram estes belos momentos.
Até para o ano.