Amor a dobrar
Belinda era uma menina com sorte. Tinha duas avós. À avó da cidade chamava Vó. À do campo chamava Vivó.
Belinda vivia na cidade; por isso, via a Vó muitas vezes. Esta tomava conta dela quando a mãe estava ocupada.
Belinda e a Vó tinham muitas frases só delas e faziam coisas especiais.
— Anda lá, Vó! — Vamos fazer um tingalaio.
— Tingalaio! Meu burro pula, meu burro salta, meu burro bate com sua pata — dizia a avó, enquanto levava Belinda às cavalitas.
A Vó levava a neta muitas vezes ao parque, e ambas dançavam por entre as árvores, de mão dada. Quando chegavam a casa, Belinda tomava limonada e comia as suas bolachas favoritas, feitas com gengibre.
Nas férias, a menina via a Vivó.
Toda a família ficava em casa da avó. Como era uma casa pequenina, a mãe e o pai encaixavam-se no quarto de hóspedes, enquanto Belinda dormia numa caminha extra. Belinda e a Vivó tinham muitas frases só delas e faziam coisas especiais.
— Põe um pato no sapato! — dizia Belinda.
E a Vivó levava a neta a ver os patos e as galinhas.
Também faziam piqueniques no campo atrás da casa. A Vivó levava sumo de maçã e as bolachas favoritas de Belinda, as de queijo. Quando acabavam de comer, a menina pedia:
— Anda, Vivó! Vamos brincar às rodinhas!
Depois de muito andarem à roda, caíam no chão uma em cima da outra.
Quando estavam na cidade, a Vivó telefonava todos os domingos e falava sempre com Belinda. Até parecia que estava mesmo ali ao lado.
Belinda gostava muito das suas duas avós.
Quando nasceu o seu irmãozinho, fizeram uma festa na casa da cidade. Todos vieram à festa, incluindo a Vivó. Foi a primeira vez que Belinda teve as duas avós ao mesmo tempo com ela. Divertiram-se tanto!
Mas a Vó não foi a correr buscar limonada para Belinda. E a Vivó não lhe deu sumo de maçã.
Ficaram sentadas e quietas… até que Belinda caiu.
Bateu com a cabeça e ficou sem respiração. Começou a chorar. A Vó e a Vivó puseram-se ao lado dela, rápidas como um relâmpago. Embalaram-na entre elas, como se fosse uma sanduíche. Belinda teve direito a um beijo da cidade numa face e a um beijo do campo na outra.
Segurou as mãos das avós e não queria largá-las.
— Vamos! — disse, puxando por elas.
— Aonde? — perguntaram as avós.
— Para o outro quarto. Vamos divertir-nos! — pediu Belinda.
A Vó pôs uma gravação.
— Vivó, sabe dançar esta música?
A Vivó ensaiou alguns passos e voltas.
E dançaram as três, ao som do ritmo.
De repente, começou a ouvir-se uma velha canção. A Vó e a Vivó começaram a cantar.
Depois, a Vó pôs Belinda às cavalitas da Vivó.
— Tingalaio! — exclamou Belinda, e lá foram as três pela casa fora, a trotar e a saltar.
Depois, foi a vez da rodinha. Fizeram uma rodinha e acabaram por cair umas em cima das outras, rindo e batendo palmas.
— Tem de vir mais vezes visitar-nos — sugeriu a Vó à Vivó.
— Tem de vir passar férias connosco — sugeriu a Vivó à Vó.
Belinda estava radiante. Quando as duas avós se juntam, diverte-se a dobrar e tem amor a dobrar.
Bernard Ashley
Double the Love
London, Orchards Books, 2003
Tradução e adaptação
O Clube de Contadores de Histórias
Biblioteca da Escola Secundária Daniel Faria - Baltar
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