Quem deu o nome de Colmeal à terra onde existem colmeias foi feliz e profundo.
Na realidade, ainda hoje se encontram numa das típicas varandas da povoação, e será esse o sinal evidente da felicidade da designação.
Quanto à profundeza do acerto, não sabemos se se deverá pensar na fertilidade que embeleza montes e vales ou se nos devemos referir à franca e acolhedora hospitalidade de cada colmeia, de cada casa.
Do colorido leito do rio Ceira, meigo e fresco a quebrar ardências solares, até à repousante e sobranceira Ermida do Senhor da Amargura, os caminhos tortuosos, mas limpos, deixam ver uma vegetação variada e sente-se a protecção segura das florestas que culminam essa encosta e a que se lhe opõe. Até os terrenos abandonados, com vergonha da nudez, se cobrem de espontânea relva, sorriso irónico da fecundidade do solo. Repousa-se a vista e, quando nos decidimos à escalada, a máquina respiratória, pouco habituada a esforços, recompõe-se em curta paragem. Ali se reconhece então o verdadeiro significado do «ir a ares».
Solo rico em beleza panorâmica e ambiente tonificante, o amanho de pequenas courelas não consente, por si só, a subsistência de elevada proliferação e os filhos numerosos abandonam o seu querido Colmeal em busca de novos recursos. Apesar disso, não o esquecem. Ainda que à custa de enormes sacrifícios, longe da terra natal, os seus naturais preocupam-se em converter suores no arranjo ou na construção de habitações quase sempre desabitadas.
Porém, quando se abrem, as suas portas ficam franqueadas, lhana maneira de suavizar a míngua da terra encantadora, excelsa prova de que não esqueceram a lição ministrada pelas simpáticas abelhas que só gostam de viver em sociedade.
VITOR COELHO
In Boletim “O Colmeal”, Ano X, N.º 106, Outubro de 1970
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