17 junho 2018

Caminhada da União



A União Progressiva da Freguesia do Colmeal realizou no passado dia 5 de Maio a sua caminhada pelos trilhos antigos.
Todos os anos tem sido necessário recuperar estes antigos caminhos, inacessíveis, porque caídos em desuso, pois já não há quem os percorra diariamente, como há anos atrás, para ir às suas fazendas deitar as águas ou cuidar dos seus mimos. Já não há fazendas e as poucas pessoas, que ainda vivem/resistem nas nossas aldeias já não se atrevem a percorrê-los.
Durante dois ou três fins-de-semana, os habituais “carolas” lá foram tentar tornar praticáveis, e este ano com maior dificuldade, face aos efeitos provocados pelos incêndios e pelas chuvas recentes, os trilhos por onde se iria passar. Ainda na véspera, foi necessário ir verificar/melhorar alguns pontos mais problemáticos.










A manhã de sábado surgiu radiosa e favorável em termos de temperatura para a caminhada que iria ter início, junto ao Centro de Cultura e Convívio, onde foi servido o pequeno-almoço, dadas as boas vindas aos participantes e transmitidas as habituais recomendações a ter em conta. Havia alegria e boa disposição, sinal de que tudo correria pelo melhor.      
Com início no Colmeal e passando por Vale das Cortinas, Portela, Gaeiras, Ribeira, Vale da Lobeira, Malhada do Açor, Vale do Açor, Porto das Bancas, Lomba da Carvalheira, Coiços do Munho, Costa, Eira, terminando em Ádela.












Os incêndios florestais que assolaram e devastaram a região em Junho e em Outubro últimos, deixaram-nos uma paisagem muito diferente das que encontrámos nas edições anteriores. Mas como no meio do deserto surge sempre um oásis, a meio da caminhada fomos surpreendidos com um gesto de simpatia preparado pelo Artur da Fonte e pelo Carlos Fontes. Uma mesa com pão, broa, bolos, chouriço assado, vinho, águas, sumos, enfim, o que de melhor se poderia encontrar naquele lugar, hoje tão inóspito. E o Artur fez questão de explicar o porquê daquela surpresa e naquele sítio. A casa em ruínas era onde ele vinha duas vezes por dia, cuidar das cabras. Nos tempos de escola, vinha só uma. As caminhadas dele, nesse tempo, eram diferentes. E havia lenha para levar, mato para roçar, água para deitar…






















Ádela, que foi das aldeias que mais sofreu com os incêndios de Outubro do ano passado, foi a nossa primeira e única opção quando se planeou fazer a caminhada anual. A sua Comissão de Melhoramentos que simpaticamente nos recebeu na sua Casa de Convívio, que também não ficou incólume aos incêndios, teve a gentileza de alterar a data do seu almoço de convívio para não coincidir com esta nossa iniciativa.








Os participantes foram de seguida conduzidos até à vizinha aldeia de Cepos, onde no Restaurante de Chão da Cabeça, foi servido o almoço, num ambiente muito cordial e simpático.

Para finalizar, breves intervenções dos presidentes da União Progressiva da Freguesia do Colmeal, União Recreativa do Cadafaz, Junta da União das Freguesias de Cepos e Teixeira e da nossa Presidente da Assembleia-Geral.
Esta caminhada foi como que uma justa homenagem aos pais dos pais dos nossos pais, e hoje nos questionamos como foi possível, sem meios e sem conhecimentos, conseguirem movimentar tão grandes quantidades de pedra que arranjaram e carregaram para fazerem as paredes dos barrocos e dos socalcos, as levadas, os caminhos, os currais e as casas.





A. Domingos Santos
Texto e fotos

1 comentário:

Anónimo disse...

Em meu nome pessoal e em nome da Assembleia-Geral da União Progressiva da Freguesia do Colmeal (UPFC), saúdo todos os que integraram este evento. Muito sensibilizada com a expressividade da presença, envolvendo tantas pessoas, gerações e terras, reitero dois agradecimentos: aos participantes, pela adesão e disponibilidade para estarmos juntos; à direção da UPFC, por mais este contexto de entretenimento saudável, convívio e reforço de pertenças. Parabéns a todos e, muito especialmente, à D. Conceição, do Sobral, que fez o percurso com a sua bonita idade e muita sabedoria. Um exemplo!
Retomo o que disse no almoço. Enquanto residente, gostaria de a todos termos proporcionado um território mais aprazível e mágico, como eram os sítios por onde a caminhada passou e a Chã da Cabeça, onde tão bem fomos acolhidos, em Cepos. Tal como, dizem-me, em Ádela e na “casa” do Artur.
Mas é o território que temos, depois da devastação que afetou as pessoas – lembremos as que perderam a vida -, a biodiversidade animal e vegetal, a propriedade e o património construído. Evidencia o que podem ser os efeitos nefastos da conjugação de fenómenos ambientais adversos, primeiro do fogo, depois e por causa deles, da chuva que nem sequer foi torrencial. Em parte, fenómenos ambientais minoráveis, se todos e os que mais podem quisessem!
Ao mesmo tempo, um território agora muito eloquente sobre as imposições e limitações que a natureza impôs aos nossos antepassados e sobre as imposições e transformações que eles lhe impuseram para nela sobreviverem. Transformações engenhosas, que falam do papel do homem na construção da paisagem, mas também da sua história, dispondo e fazendo uso de tecnologias e recursos distintos. “Pelos estradões, andava-se bem. Mas, a subir e a descer por aqueles carreiros estreitos e em cima de fragas, as pernas já me tremiam!” Quanta diferença: os primeiros foram rasgados por máquinas potentes e resistentes, os segundos, abertos manualmente ou simplesmente cotiados pelos pés carregados que passavam!
Um lugar é um sítio ou espaço geográfico dotado do espírito e da vida de que os homens o imbuíram. Neste registo, seguramente que os caminhantes sentiram o espírito e a presença das muitas pessoas que ao longo do tempo povoaram os lugares por onde passaram e a Chã da Cabeça, onde todos estivemos. Pessoas que estão muito gratas pela visita e pela oportunidade de ressurgimento. Embora fugazes, fizeram-nas sentirem-se mais acompanhadas, menos esquecidas.
Voltem sempre.
Lisete de Matos
Açor, Colmeal.