A cidade do Mindelo possui
um desenvolvimento e uma prosperidade raros nas outras ilhas, sobretudo graças
ao seu porto de águas profundas – o Porto Grande – que serve de escala
transatlântica para navios de todas as nacionalidades.
Na Praça Amílcar
Cabral, começamos por visitar o Museu de Arte Tradicional que se encontra
instalado num edifício histórico da cidade do Mindelo. Construído entre os anos
de 1890 e 1895 por Augusto Vera-Cruz, benfeitor e altruísta, natural da ilha do
Sal e que, como Senador foi representante de Cabo Verde no parlamento português.
Durante 22 anos o
palacete foi sua residência. Nos finais da década de 30, dá lugar ao Clube
Recreativo da alta sociedade mindelense, e passou a ser denominado de Grémio do
Mindelo. Na 2ª Guerra Mundial, foi cedido, a título temporário, ao exército,
transformando-se num quartel militar. Quando terminou a guerra, volta a acolher
o Grémio do Mindelo, onde só se abria para sócios e para as pessoas de elite da
ilha, as chamadas gentes de morada.
Reuniam aqui, e aqui instalaram, nos anos 50, a Rádio Barlavento, que foi um
importante veículo de comunicação para o povo são-vicentino. Muitos artistas,
entre os quais Cesária Évora, gravaram os seus primeiros discos na Rádio
Barlavento. Mais tarde, Centro Nacional de Artesanato.
O passeio pela Avenida
Marginal, contornando a baía até á Praia da Laginha, permite observar o recorte
da cratera vulcânica submarina. Aí nos deparamos com uma réplica da Torre de
Belém onde se encontra instalado o Museu do Mar. Do seu terraço temos uma
espectacular visão a 360º sobre a cidade do Mindelo e o Porto Grande.
Mindelo é o resultado
de duas grandes influências, a colonial portuguesa e a britânica, detectáveis
ao dobrar de qualquer esquina. Nos seus arruamentos e na arquitectura dos seus
belos edifícios. Destacam-se o Palácio do Governador, de dois andares, muito
bem conservado, no estilo colonial. A Câmara Municipal, a Pracinha da Igreja,
berço da cidade onde as primeiras casas foram construídas e traçadas as
primeiras ruas. O Fortim d’el-Rei, a construção mais antiga e elevada da
cidade, o Mercado Municipal, o Mercado do Peixe e a Alfândega Velha, hoje
Centro Nacional de Artesanato. O Monte Cara, em frente à cidade, é o seu
ex-libris. Também já foi chamado Monte Washington ou Cabeça de Washington.
Almoçamos em ambiente
muito simpático e acolhedor, num restaurante fronteiro à baía. Sempre com boa
disposição. E alegria.
Nunca é demais referirmo-nos
à gastronomia cabo-verdiana, de raízes marcadamente africanas, extremamente
variada, com alguns pratos de confecção simples e outros mais exóticos e
elaborados para gostos mais refinados.
A cachupa, considerado
o prato nacional, que no jantar da noite anterior nos deliciou, é feita com
milho, feijão, carne de porco, mandioca, batata-doce e couve, podendo levar
mais ingredientes, consoante o nível económico de cada família.
Num país como Cabo
Verde, rodeado de mar, o peixe ocupa um lugar importante na sua gastronomia,
com realce para o atum, peixe-serra, espadarte ou a lula, embora as suas águas
sejam ricas em outras espécies de peixe da mais variada qualidade.
O marisco abunda, com
particular destaque para a lagosta, percebes, búzios e cracas. Os frutos
tropicais mais conhecidos e abundantes, de acordo com a época, são as bananas, as
mangas e as papaias.
Os grandes nomes da
música cabo-verdiana, como Cesária, Bana, Luís Morais e Chico Serra, são
oriundos de São Vicente, a mais cultural e a mais cosmopolita das ilhas de todo
o arquipélago.
A música de Cabo Verde
é a expressão mais pura de todos os sentimentos de um povo que canta o amor, o
sofrimento, a saudade e a nostalgia com tanta alegria como melancolia. Símbolo
de identidade cabo-verdiana, a música é um dos distintivos do arquipélago e
como linguagem privilegiada, afirma-se como o principal embaixador do país, na
divulgação e promoção de Cabo Verde no exterior.
Mar Eterno
Oh mar eterno sem fundo sem fim
Oh mar das túrbidas vagas oh! Mar
De ti e das bocas do mundo a mim
Só me vem dores e pragas, oh mar
Que mal te fiz oh mar, oh mar
Que ao ver-me pões-te a arfar, a arfar
Quebrando as ondas tuas
De encontro às rochas nuas
Suspende a zanga um momento e escuta
A voz do meu sofrimento na luta
Que o amor ascende em meu peito
desfeito
De tanto amar e penar, oh mar
Que até parece oh mar, oh mar
Um coração a arfar, a arfar
Em ondas pelas fráguas
Quebrando as suas mágoas
Dá-me notícias do meu amor
Que um dia os ventos do céu, oh dor
Os seus abraços furiosos, levaram
Os seus sorrisos invejosos roubaram
Não mais voltou ao lar, ao lar
Não mais o vi, oh mar
Mar fria sepultura
Desta minha alma escura
Roubaste-me a luz querida do amor
E me deixaste sem vida no horror
Oh alma da tempestade amansa
Não me leves a saudade e a esperança
Que esta saudade é quem, é quem
Me ampara tão fiel, fiel
É como a doce mãe
Suavíssima e cruel
Nas mágoas desta aflição que agita
Meu infeliz coração, bendita!
Bendita seja a esperança que ainda
Lá me promete a bonança tão linda
Eugénio Tavares
E depois deste belo
poema imortalizado numa morna que os mais antigos recordam de a ouvir passar na
rádio, nos programas de discos pedidos, em meados do século passado, um último
olhar para o Hotel Oásis Porto Grande.
O voo para o nosso
regresso à ilha do Sal seria dentro de momentos.
UPFC
Fotos
de diversos participantes
1 comentário:
Como foi bom ler os textos e ver as fotografias desta reportagem bem elaborada.
Recordar S. Vicente é voltar 50 anos atrás.
Como dizem os naturais de S. Vicente, quem não conhece esta ilha, não conhece Cabo Verde.
Obrigado à Direcção do Colmeal.
Associado
Manuel Lemos
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