Prometíamos continuar
pela Baía das Gatas e terminamos o segundo bloco sobre a nossa recente viagem a
Cabo Verde, com o poema “Cais”, de Manuel Lopes.
Começamos este, com
Onésimo da Silveira, poeta e diplomata, nascido também na Ilha de São Vicente,
em 10 de Fevereiro de 1935.
Lá vem nhô Cacai da ourela do mar
Acenando a sua desilusão
De todos os continentes!
Ele traz o peito afogado em maresias
E os olhos cansados da distancia das
horas...
Lá vem nhô Cacai
Com a boca amarga de sal
A boiar o seu corpo morto
Na calmaria da tarde!
Nhô Cacai vem alimentar os seus filhos
Com histórias de sereias...
Com histórias das farturas das
Américas...
Os seus filhos acreditam nas Américas
E sabem dormir com fome...
(Hora grande, 1962)
E agora estamos prontos
para ir até à Baía das Gatas. É uma pequena localidade onde todos os anos se
realiza, no primeiro fim-de-semana de lua cheia de Agosto, um festival de
música internacionalmente famoso. Uma bela baía, uma enorme piscina natural de
águas calmas e cristalinas, protegida por rochas que fazem uma barreira. O seu
nome deriva da abundância nas suas águas de uma espécie de tubarão, o
tubarão-gata. Ninguém quis perder a oportunidade de tomar um refrescante banho
e confirmar a excelência daquelas águas cristalinas. O almoço estava divinal.
Alegria e boa disposição estiveram sempre presentes.
A leste da Baía das
Gatas fica a Praia Grande ou Praia do Norte, com o seu areal a perder de vista.
Salamansa e Calhau, antes de iniciarmos o regresso ao Mindelo, sempre com o mar
por perto.
Uma breve paragem no Cemitério, junto à campa de Cesária Évora, a “diva dos pés descalços”, que maior reconhecimento internacional teve em toda a história da música popular cabo-verdiana. Quem não conhece “Sodade”?
No mesmo cemitério encontram-se sessenta e quatro campas de soldados das tropas expedicionárias portuguesas que ali morreram, a maior parte por doença, durante a 2ª Guerra Mundial. Alguns, militares das duas baterias de antiaérea de Monte Sossego, quartel que havíamos visitado de manhã.
A caminho do Hotel, um pequeno desvio pela casa onde viveu Cesária Évora.
São Vicente foi sempre
uma ilha fértil em termos culturais. A cidade do Mindelo é informalmente
considerada a capital cultural de Cabo Verde e as suas noites são famosas pelos
seus bares animados com música ao vivo, nos quais, por exemplo, teve início a
carreira de Cesária Évora. Além da música, a cultura são-vicentina destaca-se
em diversas áreas como o teatro e a literatura.
As noites do Mindelo
constituem, talvez, o maior atractivo turístico desta ilha. Uma perfeita
miscelânea com música, dança e gastronomia. O nosso jantar típico iria
contemplar tudo isso. Degustando a famosa “cachupa”, e ouvindo e dançando
mornas e coladeras, embalados no calor da noite. E com um aniversário para
festejar.
Para recordar os 50
anos da chegada do seu pelotão ao Mindelo, o nosso presidente, então jovem
oficial de cavalaria, ofereceu a todos os participantes uma placa alusiva.
As noites do Mindelo são
realmente diferentes.
Sobre a visita que
vamos fazer pela cidade do Mindelo, uma cidade universal onde as culturas e os
costumes se cruzaram e se cruzam e o calor humano das suas gentes acolhe aquele
que chega, vos daremos conta no próximo “capítulo”.
UPFC
Fotos
de vários participantes
1 comentário:
Esta segunda reportagem,trás à lembrança as horas passadas em S. Vicente e no Mindelo, foram momentos divertidos. Bem comidos, bebidos e dançantes com as coladeiras e mornas ao som da bela música. O mar e as praias sempre por perto. Nós os viajantes, sendo um grupo heterogéneo, mas de uma camaradagem exemplar. Bem haja ao Colmeal.
Saudações.
Manuel Lemos
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