Brevemente
à sua disposição na Biblioteca da União, no Colmeal, um livro que lhe
aconselhamos vivamente. PORTUGAL O Sabor da Terra é uma
excelente obra de autoria de José Mattoso, Suzanne Daveau e Duarte Belo.
Do seu Prefácio
retiramos “Em termos de «identidade», nada é simples. Vamos abandonar a o nosso
território? Vamos esquecer a terra? É
nela que nos apoiamos, dela que nos alimentamos, ela que configura o nosso
espaço, ela que condiciona as nossas comunicações físicas.
Nela moraram os nossos
antepassados. Marcados pelo território, transmitiram-nos as estruturas sociais
com que nos organizamos, as técnicas agrícolas que em parte a dominam, e tudo o
mais que foi moldando as nossas comunidades até hoje. O território é o elemento
permanente da identidade. Por isso acentuámos a presença da terra e procurámos, por meio da
fotografia de paisagens e monumentos, representar os sinais de permanência ou
da longa duração. É verdade que estamos cada vez menos condicionados pela
Natureza. Mas talvez seja sensato não a ignorar. (…) Apesar de a etnografia se
tornar uma disciplina cada vez mais «arqueológica», nem por isso se podem
esquecer os dados que fornece, aliados aos da geografia e da história regional.
Por outro lado, há uma história nacional que só se compreende devidamente
quando se tem presente a diversidade de comportamentos próprios das regiões, e
a influência que estes tiveram nas alterações de rumo do país. (…) Voltamos,
assim, a juntar a nossa voz ao coro dos portugueses, que persistem em tentar
perceber-se a si mesmos.”
No capítulo que se
refere á Beira Litoral (págs. 275/319), para além do riquíssimo texto pode
encontrar fotografias antigas que lhe mostram a Mata da Margaraça, povoações da
serra do Açor, o real Neveiro, o Talasnal ou Góis, “que se situa na margem
direita do rio Ceira, a montante de uma pequena várzea, no sopé do monte
Rabadão. Ainda consideradas pertencentes à Beira Litoral pela proximidade de
Coimbra, as vilórias do sopé da cordilheira Central, já possuem toda a rudeza
das terras da Beira Interior. Quem de Coimbra se dirigir para Castelo Branco,
inicia aqui a travessia de dois recortados alinhamentos montanhosos entre os
quais corre, em vale cavado, o rio Zêzere. É uma estrada sinuosa e demorada,
lugar de serranias solitárias.”
…
“Quanto ao Pinhal Interior Sul, os problemas são bem diferentes. A gente das
serras do Zêzere pensou ter encontrado no fim do século XIX e meados do século
XX uma nova riqueza com a mineração do volfrâmio. Nas minas isoladas da
Panasqueira chegaram a trabalhar mais de três mil operários. Mas a miragem
acabou, aparentemente sem deixar benefícios duradoiros para a áspera região em
que surgiu. Ficaram as histórias de mineiros, com a memória do seu duro
trabalho, e as narrativas das aventuras de contrabandistas. Com o
aproveitamento do volfrâmio para fins militares durante a Segunda Guerra
Mundial, multiplicaram-se os obscuros negócios da venda oculta a uns ou outros
dos países beligerantes. Apareceram os novos-ricos, que fizeram fortuna de um
dia para o outro, e depois a perderam, com a mesma rapidez; pelo meio, as
vinganças, fraudes, perseguições e peripécias que a ganância sempre traz
consigo.
Depois
do volfrâmio veio o pinheiro. A madeira constitui hoje uma quase monoprodução
regional, o que não pode deixar de trazer um sério problema para a região. Este
resulta dos efeitos que a falta da organização da produção e da comercialização
impõe a uma economia deste género, e dos interesses desencontrados que ela
suscita. Acresce o aspecto mais conhecido e dramático desta monocultura, que
são os incêndios. Num clima regional muito seco, marcado por Estios quase
sempre prolongados e escaldantes, os incêndios são um flagelo terrível, com
consequências devastadoras não só pelos prejuízos económicos que acarreta, mas
também pela perturbação e desânimo que traz às populações daquela área.
Considerada
como uma das regiões europeias mais favoráveis à produção florestal, a zona do
Pinhal Interior precisaria, para tirar um efectivo proveito da matéria-prima
que produz, de criar uma melhor estruturação interna. Ora as serras do Zêzere
são hoje uma das regiões mais despovoadas de Portugal. A circulação é aí lenta
e difícil. A sua maior riqueza, o rio, com as suas águas abundantes e puras, deixou
de ter qualquer significado para a região a partir dos anos 50 do século XX,
quando foram captadas e armazenadas em grandes albufeiras, que só beneficiam a
região de Lisboa. Destinadas, primeiro, a fornecer electricidade às indústrias
da margem sul, servem hoje principalmente para abastecer a região Metropolitana
de Lisboa de água de boa qualidade.
Sendo
um lugar de encontro entre correntes de civilização vindas do Norte ou do Sul,
e ao mesmo tempo uma zona de transição climática, não admira que a Beira Baixa,
abandonada pelas grandes formações políticas medievais durante um período tão
longo, se tivesse tornado um reservatório de formas arcaicas da vida rural. Foi
aí, de facto, que se manteve mais tempo a transumância de Inverno do gado
lanígero descido da serra da Estrela. Aina se praticava nos anos 50 do século
XX.”
in
Portugal – O Sabor da Terra, pags 392/393 - Março 2011 - Temas e Debates – Círculo
Leitores
1 comentário:
Excelente Aquisição!
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