10 maio 2008

DEPOIS DA CAMINHADA, A CAMINHO DO FUTURO!

Sob o lema Cepos e Colmeal em movimento, inscrito nas camisolas brancas e frescas que muitos dos participantes orgulhosamente vestiam, realizou-se recentemente a caminhada “Trilhos da Ribeira de Ádela, caminhos da escola”. A sua organização envolveu a colaboração de várias entidades (União Progressiva da Freguesia do Colmeal, Centro Social, Comissão de Melhoramentos e Junta de Freguesia de Cepos), que certamente muito contribuiu para o sucesso da iniciativa.

Deliciados e confortados com as filhós e o café servidos em Cepos, os caminhantes partiram à descoberta da serra e do caminho, que os esperavam, eles próprios ansiosos de se verem de novo afagados por pés revitalizantes do desuso, e das almas e corpos que se pretendem sãos. Alguns pareciam faunos divertidos, com o lenço da mão armado em carapuço de quatro bicos a proteger-lhes a cabeça do sol escaldante inesperado!




Formada por mais de duzentas pessoas, devido à estreiteza dos caminhos, a caminhada era um cordão humano, extenso, serpenteante e ruidoso, que alegrava a serra espantada, e fazia lembrar as visitas pascais de antigamente, quando se faziam a pé, de aldeia em aldeia, com uma multidão de gente a acompanhar, e a “alumiar”o Senhor, em cumprimento de promessa satisfeita ou por razões de convívio. Eram homens e mulheres, crianças, jovens e idosos, gente de aldeias e cidades, nacionais e estrangeiros, profissionais de múltiplos ramos de actividade, autarcas de municípios e freguesias, todos irmanados no objectivo comum de caminhar caminhando, pelas veredas do percurso e da vida, cada qual no exercício mais empenhado do seu papel. Como dizia uma participante, cabra manca não tem sesta e se a tem pouco lhe presta, sobretudo quando é a realidade social que manqueja!

Depois desta referência pictórica, que os relatos e as fotografias já publicadas e a publicar nos “blogues”http://upfc-colmeal-gois.blogspot.com/ http://comelhoramentoscepos.blogspot.com/ permitirão aprofundar, passo a sublinhar alguns dos aspectos a que fui particularmente sensível, por considerar que constituem uma mais valia portadora de esperança, no âmbito da estrutura socio-económica e cultural que caracteriza a zona. É que vejo a caminhada como oportunidade de festa, reencontro e convívio, mas também como manifestação, (ex)pressão colectiva e desocultação, dos recursos e potencialidades da serra. Recursos e potencialidades que poderão alicerçar a viabilidade e o desenvolvimento sustentado. Entre outros, a que olhos e perspectivas distintas terão sido sensíveis, destaco os seguintes: solidariedade e entreajuda comoventes, traduzidas no apoio que muitos prestaram a outros, a justificarem reciprocidade e subsidiariedade política; hospitalidade e arte de bem receber, que tanto se recomendam quando o turismo pode ser uma das vias para o desenvolvimento; competências e saberes diversos, à espera de libertação pelo génio da iniciativa e do investimento; produtos endógenos de grande qualidade, cuja fabricação pode ser optimizada; capacidade de mobilização, e de se deixar mobilizar, o que constitui condição essencial para a mudança; capacidade (por parte dos organizadores) de trabalho conjunto e superação das fronteiras fictícias, a demonstrar a bondade das parcerias autênticas e da maximização dos territórios e interacções sociais, na aldeia dita global em que vivemos; paisagem deslumbrante e património natural e construído muito rico e diversificado, disponíveis para serem preservados, e colocados ao serviço da atractividade e da economia. Diria, finalmente, que a caminhada também revelou que afinal existe gente, capital humano, como dizem os peritos. Não é maioritariamente residente? Pois, é verdade! Mas esse é um dos factores que fazem da serra e da região, em geral, uma realidade social tão singular, porque também feita de ausentes que podem tornar-se cada vez mais presentes. Depois da caminhada, a caminho do futuro!
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Açor, 9 de Maio de 2008
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Lisete de Matos

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