12 dezembro 2021

UNIÃO PROGRESSIVA – Um caminho de noventa anos – lll


Decorre ainda 2021, ano em que a União Progressiva da Freguesia do Colmeal completou nove décadas de existência. Temos aos poucos tentado, como se de uma escavação arqueológica se tratasse, procurar na imprensa regional desse tempo, relatos de acontecimentos relevantes da nossa União.




Encontramos na edição nº 2385 do então bissemanário A Comarca de Arganil, de 1 de Outubro de 1937, um pormenorizado relato do que fora a inauguração do chafariz no Colmeal, dias antes, em 26 de Setembro.

Foi a primeira obra que a União Progressiva, fundada em 20 de Setembro de 1931, fez no Colmeal.

 

Inauguração do chafariz no Colmeal


«COLMEAL, 26. – Procedeu-se hoje, como estava marcado, à cerimónia da inauguração do chafariz desta localidade, melhoramento levado a cabo pela União Progressiva da Freguesia do Colmeal, com a comparticipação do Estado. Foi uma festa simples mas simpática, pelo alto significado que encerra.




Como é já do conhecimento dos leitores, organizou-se em Lisboa uma excursão de conterrâneos nossos que vieram propositadamente com o fim de assistir àquele acto; e entre os excursionistas, vinham os srs. António Domingos Neves e António Martins Mendes, respectivamente secretário e tesoureiro da União, representando a colectividade a que pertencem.

Constituíam a excursão mais as seguintes pessoas: Alfredo Bastos, Horácio Tavares de Sousa, Ludovina da Conceição Mendes, Emília Fernandes, Maria Amélia Ferreira Mendes, Leopoldo Fernandes, Manuel Simões da Costa, Alfredo Silva, Luís Neves, Júlio Domingos, Manuel Domingos, Manuel da Fonte, Maria Jesus Almeida, Ermelinda Antunes Almeida, Manuel Duarte, Maria Preciosa, Maria Gertrudes, Manuel Machado, Noémia Mendes Ferreira, Patrocínia de Jesus, Maria das Neves, Manuel Silva Valério, Joaquim Luíz Pinto, Américo Ferreira Mendes e Maria dos Anjos.




Eram 16 horas quando se procedeu à inauguração. A mesa foi constituída pelos srs. Padre André d’Almeida Freire, António Domingos Neves e António d’Almeida Freire, respectivamente presidente e secretários.

Este último leu a correspondência recebida, que constava dum ofício do sr. Presidente da câmara municipal de Góis, uma carta de “A Comarca de Arganil”, que representava; um ofício do sr. administrador do concelho, outro do presidente da direcção da União Progressiva e outro do sócio António Domingos Júnior, os quais lamentavam não poder assistir ao acto, por motivos de força maior disso os impedirem.

Com a assistência dos habitantes da freguesia e dos povos circunvizinhos, que enchiam o vasto recinto, promoveu-se, nesta altura, ao descerramento duma lápida com a seguinte inscrição “U.P.F.C. – Comparticipação do Estado – 26-9-1937”

Ao ar sobem foguetes e há palmas e vivas à União Progressiva, Estado Novo, aos srs. Presidente da República e dr. Oliveira Salazar, etc., etc. E é entre aclamações do povo que começa a série de discursos, à qual deu princípio o sr. António dos Santos Duarte, representando o presidente da assembleia geral da União.

Falou, depois, o sr. João Mendes, congratulando-se com o povo do Colmeal.

Seguiu-se o sr. Manuel d’Almeida Estevam, saudando os empreendedores desta obra, os quais, disse, “gostava de ver todos juntos neste acto, para mais de perto lhes dar os seus agradecimentos”.

Falou a seguir o sr. António Martins Mendes, que começou por convidar os colmealenses a integrarem na União, para, deste modo, se poderem fazer muitas obras iguais à que se estava inaugurando. Elogiou o construtor do chafariz, elogio aliás bem merecido.

O sr. José Henriques d’Almeida enalteceu a acção da União, que tão bem levou a cabo este melhoramento e elogiou também o Estado Novo e o seu ilustra chefe, sr. Dr. Oliveira Salazar, pelo modo como se está interessando pela iniciativa particular.

A seguir, o sr. Manuel Simões Costa disse estar satisfeito por ver no novo chafariz uma obra boa, bem digna do povo do Colmeal. Apelou para os colmealenses no sentido de se agregarem à União, para que ela possa levar a efeito outros melhoramentos de que a nossa terra carece.

O sr. Francisco Luís, espírito bairrista, regionalista acérrimo, leu um discurso em que pôs em evidência o amor que dedica ao regionalismo. Disse que a União alguma coisa tem feito, mas muito mais faria, se todos os colmealenses ingressassem nas suas fileiras. Recorda a cerimónia do assentamento da primeira pedra para o chafariz, feita há dois anos, e as afirmações feitas nesse dia, hoje felizmente cumpridas. Convidou todos para sócios da colectividade, para juntamente com o Estado Novo, se levarem a cabo muitos mais melhoramentos. Por último descreveu o custo da obra do chafariz.

O sr. António Domingos Neves, como representante da União, de que é secretário, saudou a assistência e agradeceu ao sr. Presidente da sessão a sua presença e a boa vontade com que acedeu ao convite para aquela cerimónia. Aludiu à excursão de há dois anos e ao pessimismo que notou da parte de alguns habitantes. Agradeceu em seu nome e da direcção ao empreiteiro a forma como executou as obras, manifestando à delegação local os mesmos agradecimentos por se ter empenhado cabalmente da sua missão. Pediu, por último, um voto de agradecimento, por aclamação, ao sr. José Francisco Mendes, por desinteressadamente ter cedido todo o terreno necessário às obras do chafariz e lembrou para se enviar um telegrama ao sr. Ministro das Obras Públicas, ideia que foi muito aplaudida pela assistência.

Pediu, depois, a palavra, o executor da obra, sr. Cristiano Alves Baptista, do Sarzedo, para agradecer as referências que lhe estavam sendo dispensadas, agradecendo à União e em especial à delegação o auxílio que lhe prestaram para a boa execução dos trabalhos.

Por fim, o sr, presidente da mesa, numa voz forte e clara, fez um elogio aos que tanto trabalharam e se sacrificaram com esta obra, convidando os colmealenses a unirem-se à colectividade como sócios, demonstrando duma maneira bem significativa que “a união faz a força”.

Todos os oradores foram muito ovacionados e todos eles levantaram vivas aos srs. Presidente da República e do Conselho, ministro das Obras Públicas, presidente da câmara municipal de Góis. À União Progressiva, etc., etc., os quais foram freneticamente correspondidos pela numerosa assistência.

Seguiu-se a leitura da acta da inauguração, a qual foi assinada por muitos dos assistentes.

No meio do estralejar de foguetes, iniciou-se, depois, um baile, no Largo da União, o qual decorreu com muita animação até alta madrugada.

E assim terminou a festa da inauguração do nosso chafariz, orgulho dos habitantes do Colmeal.

Bem hajam, pois, os que tanto trabalharam em prol deste melhoramento, pioneiros infatigáveis do progresso da freguesia. Oxalá seja bem compreendido o esfôrço dispendido, para que, todos compenetrados do seu dever, possam fazer mais e muito mais. – A. P.»

Conhecemos e recordamos com saudade muitos dos que são mencionados neste relato. Com alguns deles privámos mais de perto e deles recebemos ensinamentos que nos ajudaram a continuar o caminho por eles iniciado.

É muito provável que ao lerem estas linhas encontrem o nome de um familiar ou de alguém de quem ainda se lembram. Muitos foram aqueles que ao longo de noventa anos trilharam esse caminho. Todos merecem o nosso respeito e a nossa gratidão. A caminhada tem que continuar.

A. Domingos Santos

Lisboa, 21Nov2021

  

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