Ao longo do tempo, tenho
procurado divulgar e enaltecer os talentos criativos dos colmealenses, mas
acredito que muitos permaneçam ocultos, por discrição ou desvalorização dos
seus detentores. Partilhá-los, porém, contribuiria para o enriquecimento do património
cultural da freguesia, e para a visibilidade de grupos populacionais menos
favorecidos, em matéria de reconhecimento social e interesse científico.
Neste processo, observável no
blogue ou na reedição do artigo de Fernando Costa “A Verdade e a Lenda de
António d’Almeida Freire – Cirurgião” (Ass. Amigos do Açor, 2008), tenho
deparado com autênticas surpresas e tesouros, nomeadamente no campo da escrita.
Foi o que agora se verificou, ao folhear com cuidado uns lençóis amarelecidos
do Jornal de Arganil, cujo desgaste resulta do tempo e das dobras que o
reduziam, para caber na caixa do correio dos assinantes, na diáspora. Como à Comarca
de Arganil e, progressivamente, a outros media locais e regionais, o
semanário era esperado com expetativa e lido de fio a pavio, funcionando como
elo de ligação às origens. Para muitos, os jornais configuravam, ainda, o
principal material de leitura e contexto de escrita, visível nas notícias que
se percebe emanarem de uma vasta e ativa rede de correspondentes locais.
Descrito o suporte, voltemos à surpresa em si própria. É constituída pela crónica de umas “Férias no Colmeal”, publicada em quatro partes, no último trimestre de 1959. Trata-se do trabalho de um jovem lisboeta de dezasseis anos, que foi estimulado a escrever pelo pai. É uma peça muito interessante, tanto do ponto de vista do conteúdo, como da forma. Nela, o cronista narra as suas férias no verão daquele ano, começando pela viagem de Lisboa para o Colmeal e terminando com a de regresso. Entretanto, passeia pela povoação e arredores, refresca-se no rio, participa em desfolhadas e festas, farta-se de dançar. Grande bailarino era o nosso cronista! E andarilho, dando razão aos que assinalam as jornadas a pé pelos caminhos ínvios da serra, como um dos temas favoritos dos naturais e oriundos da região. O estilo é surpreendentemente maduro para a idade, permitindo-nos, por um lado, visualizar as situações que descreve, por outro, sentir a emoção às mesmas inerente. Encantaram-me a descrição dos ambientes, as metáforas, a graça de algumas alusões, um ou outro recurso próprio da época ou da idade.
Enquanto documento autêntico e testemunho de uma época, “Férias no Colmeal” é um artigo de leitura imprescindível para quem queira recordar ou conhecer a aventura das viagens naqueles tempos de vai e vem anual atribulado entre a aldeia e a cidade ou o inverso, a perspetiva face à aldeia de um jovem da segunda geração, a entreajuda nas colheitas, as festas dos santos padroeiros, que representavam o expoente máximo do divertimento possível. Subjazem as inacessibilidades e o isolamento e, apesar deles, a coesão social e territorial, que promovia os intercâmbios festivos entre localidades da freguesia e outras.
Com agradecimentos ao saudoso Jornal
de Arganil, segue-se o texto. Orgulhosos ficarão, também, os nossos
ausentes sempre presentes.
Lisete de Matos
Açor, Colmeal, 5 de outubro de 2021.
“Acabaram-se
as aulas! Passou mais um ano letivo cheio de trabalho e de canseiras e as
férias tão desejadas chegaram finalmente.
Estáva-se em
meados do mês de junho e portanto com três meses e meio de férias à minha
frente, para poder descansar e preparar-me para o novo ano que começou há
poucos dias.
Antes de ir
gozar as minhas férias àquela aldeia tão querida, escondida ao fundo dum vale,
entre montes cobertos de árvores que dão um aspeto agradável e acolhedor à
região, passei uns infindáveis quarenta e cinco dias tristes e monótonos, na
cidade, com o seu barulho tão característico, a que já todos estamos
acostumados e sem o qual nos parece impossível viver.
Os dias
passavam, mas tão lentamente que pareciam anos, até que por fim as últimas
folhas do calendário do mês de julho tombaram para sempre e surgiu o primeiro
dia de agosto, um sábado radioso de sol, parecendo convidar-nos a abandonar a
cidade e a procurarmos o ar puro dos campos
Então
começou a azáfama do arrumar das malas, com grande alegria para mim, pois era
sinal de que a viagem estava próxima. O dia ia quase ao fim, mas a hora de
abalarmos nunca mais chegava.
Fomos
finalmente para a estação. Digo, fomos, porque não ia só eu. Os meus pais
também iam comigo. A muito custo conseguimos subir para o comboio com a nossa
bagagem, que não era pouca e lá nos instalámos. Nem nos podíamos mexer, tal era
a avalanche, não só de pessoas, como de malas, cestos, cabazes, etc.
E o comboio
começou a deslizar, a princípio lentamente mas depois “a toda a mecha”, como se
costuma dizer. A boa disposição reinava entre todos e a aragem fresca da noite,
ao entrar pelas janelas abertas, mantinha a carruagem numa temperatura amena. À
medida que o comboio devorava quilómetros e o tempo passava, o sono começou a
invadir-nos. Fomos então obrigados a utilizar como “Wagon-Lit” aqueles macios e
confortáveis bancos de madeira de terceira classe. Mesmo assim, com este
conforto todo, dormitámos qualquer coisa.
A viagem
decorreu da melhor maneira, quase rápida e às duas e meia já estávamos em
Coimbra, a cidade universitária. Mostrava-se-nos toda iluminada, dando-nos uma
ideia, mais ou menos, do que é, se a observarmos de dia. Os seus jardins, as
suas casas antigas, o Choupal, a Sé Velha, e muitas outras coisas que a tornam
bela, sem esquecer o Mondego, as tricanas e os estudantes com as suas
serenatas.
Depois de
longa espera, o comboio recomeçou a sua marcha, mais lenta, agora, do que fora
até aqui.
As estrelas
iam desaparecendo no céu, uma espessa neblina cobria os campos e os montes e o
frio da manhã, que se fazia sentir, obrigou-nos a vestir alguns agasalhos. Já
se podiam observar melhor aqueles campos à beira da linha. Vinhas aqui, árvores
de fruto ali, milharais e hortas viçosas acolá, davam um aspeto bonito à
região, que já de si é bela.
Às seis e
pouco chegávamos à Louzã, onde estava um automóvel à nossa espera, para nos
conduzir às proximidades do Colmeal.
Agora os
assentos já eram mais confortáveis que os do comboio e fomos melhor instalados.
O automóvel seguia pelo meio do arvoredo, enquanto nós, ora olhando para um
lado, ora para o outro, não perdíamos aquelas paisagens, tão dignas de serem
apreciadas.
Víamos
casinhas alvas como a neve sobressaírem da verdura dos campos, dos vergéis
próximos, dos campos de cultura; enfim, de todos os lados se viam casas, a dar
uma nota de vida e alegria, em contraste com solidão dos montes. À beira da
estrada viam-se apesar da hora matutina, os camponeses cuidando uns das suas
terras e outros dos animais.
A paisagem é
idêntica em todo o percurso. Como no comboio pouco dormira, aproveitei a
comodidade do automóvel e … só acordei passada a Catraia do Rolão já na estrada
que nos ligará, em breve, à nossa aldeia tão querida e à vista da aldeia do
Carvalhal, aglomerado de casas onde àquela hora se elevavam umas colunas de
fumo, a indicar que o café se estava a fazer e…, a tomar, é claro.
Aldeia Velha
fica-nos ainda mais acima, e já víamos o Soito, com a sua eira verdejante e o
Colmeal lá ao fundo, com o rio Ceira a beijar-lhes os pés.
Entretanto o
automóvel parava indicando o términus, não da viagem, mas da etapa. Agora, a
última etapa era mais difícil, pois tinha de ser feita a pé.
Ultrapassámos
o Rossaio e daí a instantes estávamos à Ponte a olhar as águas límpidas do rio,
onde eu iria tomar umas banhocas.
O Colmeal
estaria à vista dentro de momentos.
O cemitério,
onde repousam os restos dos nossos antepassados e a Igreja, que dentro de meses
entrará na casa dos quatrocentos anos de existência, foram os primeiros sinais
da aldeia a mais uns passos andados …
… Já eu
estava no largo da Fonte.
Eram umas
nove horas. Pouca gente se via; decerto tinham ido à missa dominical, que àquela
hora se estava a celebrar; mas depois o largo começou a animar-se com os que
iam chegando, ora dum lado, ora doutro.
Entretanto,
eu ia tomar o pequeno almoço. Só à tarde é que vim até à “baixa”, onde alguns
rapazes se entretinham a jogar o fito.
O meu
primeiro dia no Colmeal estava quase no fim. A sombra cobria tudo com o seu
manto e o sol já há muito se tinha escondido por detrás das cercanias
distantes.
Ao outro
dia, ainda fatigado da viagem, comecei com a minha série de passeios, que se
prolongaram quase até ao fim do dia do regresso e que apenas foram
interrompidos pelas chuvas arreliadoras, que por vezes caiam do céu cinzento,
cor de chumbo.
Da parte da
manhã ia para as Seladas, para aquele sítio maravilhoso no meio do espesso
arvoredo, com a capelinha do Senhor da Amargura, onde nós vamos, por vezes,
fazer as nossas preces. Passeava por entre os pinheiros, jogava à bola no
terreiro fronteiro à capela, lia um romance ou fazia jogos com uns primos que
geralmente me acompanhavam, para onde quer que eu fosse. À hora do almoço
vínhamos para casa, porque era … horas de almoçar.
Da parte da
tarde, íamos umas vezes para o rio, ou então passeávamos pelos mais diversos
lugares, desde a Cortada, lá no fundo junto ao Ceira, até aos pinhais que
circundavam o Ribeiro.
Fomos
algumas vezes ao rio, onde tomávamos as nossas banhocas, naqueles dias de muito
calor. Nem apetecia sair da água. Era tão agradável estar debaixo das bicas, à
Ponte, com a água a cair, límpida e cristalina, sobre as nossas costas … Depois
comíamos o lanche que sempre levávamos, pois sabíamos que a água nos abria o
apetite.
Um dia, de
passeio, fomos até aos Cavões. Depois de colher e saborearmos alguns frutos,
viemos para a Cortada, onde nos demorámos até à hora do almoço, a pescar.
Éramos três, os pescadores, e fizemos uma grande pescaria; nós somos bons! ...
Ao outro dia
era a festa da Malhada e nós não pudemos faltar. Levantámo-nos cedo para irmos
pela fresca e percorremos o caminho que separava as duas povoações, sem nos
custar nada. Caminhávamos alegremente, pois “íamos para a festa”.
A princípio
estava fresco, mas à medida que o sol subia no horizonte, o calor começou a
apoquentar-nos.
Os foguetes,
estralejando no ar e o desusado movimento nas ruas enfeitadas, davam a
indicação de que a aldeia estava em festa.
Subimos até
à capelinha de Nossa Senhora de Fátima, onde assistimos às cerimónias
religiosas e donde pudemos estender os nossos olhos pelos montes distantes, com
povoações e estradas por aqui e por ali.
O baile
começava daí a pouco e nós lá fomos, como não podia deixar de ser, dar umas
voltinhas. As pernas principiaram-nos a doer mas já o dia ia quase no fim.
Assistimos ao fogo de artifício e depois viemos todos embora em cima de uma
camioneta até ao Rossaio. Fazia frio, tal como acontecera de manhã. Quando
chegámos a casa, cada um caía para seu lado, pois “vínhamos da festa”.
Alguns dias
mais tarde, eles vieram-se embora e eu …
… Lá fiquei
sozinho.
Sozinho, é
como quem diz, sem companheiros para os meus passeios; mas eles não tardaram
muito, pois a festa ia-se aproximando e quase todos os dias chegavam ao Rossaio
automóveis com colmealenses que iam visitar a sua terra natal.
Quinze dias
iam passados desde a minha chegada. Quando, por semana, não tinha nada para
fazer, ia até junto dos pedreiros que trabalhavam na ampliação do largo, passar
uns momentos de distração a vê-los trabalhar. (é mais agradável ver do que
trabalhar) e eles ao verem-me já diziam – “Lá vem mais um engenheiro”.
Aos
domingos, da parte da tarde, havia bailarico e então passava um bocado bastante
animado. Começávamos o baile cerca das quatro horas e só parávamos depois da
meia noite, quando as pernas já não podiam mais. Com a ida dos lisboetas, os
bailes tornaram-se mais animados. A mocidade d’outros tempos parecia querer
rivalizar com a de agora e diga-se a verdade, eram muito mais alegres e sabiam
divertir-se muito melhor do que os de hoje.
Um domingo
os “veteranos” fizeram um baile e foi sem dúvida o melhor de quantos lá vi.
Pulavam e cantavam como se fossem vinte anos mais novos. As suas danças eram
muito diferentes das de hoje. O verde-gaio marcado, o ladrão, o vira balsado, e
outras que só eles sabem dançar levavam a palma comparadas com as de agora.
Os dias
passavam. A festa dos Cepos chegou por fim. Eu e mais uns rapazes e raparigas
combinámos ir e não faltámos. Chegámos àquela aldeia por volta das nove horas e
fomos assistir à cerimónia religiosa, depois da qual viemos comer qualquer
coisa, pois a caminhada abrira-nos o apetite. Um passeio pela aldeia serviu
para fazer horas para o almoço. A seguir a este, fomos para o largo onde
estavam a leiloar as fogaças. Findas estas, iniciou-se o baile, o qual só
terminou quando viemos embora às duas da madrugada. Ao som dos discos toda a
tarde bailámos e regressámos ainda com vontade de ficar. Pelo caminho, mesmo às
escuras e aos tropeções, sempre cantámos e descansando aqui e ali chegámos ao
Colmeal quase às quatro horas.
Uma semana
depois era a nossa festa.
Ainda não
rompera a manhã, a alvorada fez-se ouvir com os seus vinte e um tiros e daí em
diante os foguetes e os morteiros não mais deixaram de estalar. O dia
apresentava-se-nos enevoado com o céu bastante cinzento. O autocarro com a música
que abrilhantaria a festa chegava daí a pouco à ”estação” (Rossaio). Em seguida
dirigimo-nos a caminho da Ponte, onde recebemos a “Filarmónica Lousanense”, que
depois acompanhámos na sua volta à povoação, como que a cumprimentar todos os
colmealenses.
A procissão
a caminho das Seladas fazia-se mais tarde e com o Senhor d’Amargura voltámos à
igreja. Entretanto começava a chover e com a chuva chegava também um numeroso
grupo de cepenses, que veio dar uma grande animação, principalmente ao baile,
pois traziam toda a espécie de instrumentos.
Enquanto se
celebrou a missa e pregou o sermão, sempre choveu, mas depois estiou. Foi só
para apagar o pó dos caminhos e o sol mesmo a custo apareceu por entre as
nuvens pesadas. A seguir ao sermão reorganizou-se a procissão, agora acrescida
com os santos existentes naquela igreja. Com o guião vermelho à frente
dirigimo-nos outra vez p’rás Seladas onde ficou o Senhor d’Amargura.
Regressámos à igreja e depois a nossas casas onde o almoço nos esperava.
O relógio da
torre já tinha dado as quatro horas quando fui até ao largo da Fonte. Este
encontrava-se completamente cheio de pessoas que naquele momento dançavam o
fado ao som das guitarras, das concertinas e das violas. O baile esteve sempre
muito animado e prolongou-se até às cinco horas da manhã, quando já rompia a
aurora.
Ao outro dia
só para nos contrariar, sempre choveu. E o baile que estava destinado fazer-se
…
… Não se
fez.
O tempo
estava incerto. Nunca se sabia se chovia ou se fazia sol. Logo num dos
primeiros dias de setembro caiu uma grande tromba de água sobre a serra da
Louzã, a qual fez subir o nível das águas do rio e estas, que até aqui tinham
estado sempre límpidas, tomaram uma cor barrenta, cancelando assim os banhos
que habitualmente lá ia tomar. Os colmealenses, entretanto, começavam a
abandonar a sua terra e a regressar à capital, pensando já no verão de mil
novecentos e sessenta, altura em que a igreja comemorará o seu 4º centenário.
Os dias,
agora mais pequenos, passavam mais rapidamente.
O tempo das
debulhas e das esfolhadas aproximava-se. As terras de milho já tinham perdido a
sua cor esverdeada e apresentavam-se agora com uma cor dourada, onde por vezes
se viam pequenos grupos de raparigas a colher as espigas.
Nas
esfolhadas e nas debulhas juntava-se a mocidade da aldeia e então passavam-se
uns momentos bastante animados; mas um dia ia acontecendo precisamente o
contrário.
O milho
tinha-se apanhado da parte da tarde e a esfolhada combinou-se para essa noite.
Tinha-se falado à rapaziada nova e esta não faltara. Um pouco depois de todos
já estarmos instalados, sentiu-se o soalho dar um estalido. Ficou tudo
alarmado; o peso era muito, a casa era velha e o sobrado também e este não
estava escorado.
Verificou-se,
então, que três caibros se tinham partido. Passado o pior e depois deste ser
escorado voltámos outra vez ao trabalho, o qual se prolongou ainda por algum
tempo.
Depois, as
chuvas outonais vieram interromper estes momentos de boa disposição, pois não
havendo sol o milho não se podia secar.
A primeira quinzena
do mês de setembro passara e o dia do regresso ia-se aproximando, com grande
tristeza para mim, pois via as minhas férias acabadas.
O derradeiro
dia chegou finalmente. Eram umas quatro horas quando eu comecei a fazer as
despedidas e a abandonar a aldeia.
Quando
embarcámos no Rossaio, eu ao olhar para trás, senti as saudades de deixar
aquela aldeia hospitaleira, mas tinha que ser, pois as obrigações assim mo
determinavam.
O carro
pôs-se em andamento e às sete horas chegámos à Louzã, onde três horas depois
tomámos o comboio que nos conduziria a Coimbra. Ainda não era meia noite já nós
lá estávamos, mas apenas às quatro da madrugada, depois de muito esperar,
conseguimos apanhar lugar no último comboio com destino à capital.
Outra vez a
cidade com o seu bulício. Que diferença! … agora que eu vinha tão habituado ao
sossego da aldeia, da aldeia que trazia no coração.
Adeus
Colmeal! Até à vista. P’ró ano lá estarei a fazer-te mais uma visita.
A.S. “
3 comentários:
Belo texto ! Emocionante até ! Pois nele me revejo, nas férias que passei, não no Colmeal, mas em Ádela. Passava todos os anos três meses, e, embora eu ajudasse os avós e tia nos trabalhos do campo, não perdia as festas dos Cepos, Colmeal e Açor, assim como os bailes de Domingo, usuais na época. Tempos vividos, partilhados, e que foram felizes ! ❤️
Muito obrigada, Lisete, por esta incrível viagem no tempo...
Lembro-me de acordar de madrugada, nessas viagens cheias de peripécias, com a corneta do guarda da estação, gritando «ALFAREEEEELOS!!!»
Lembro-me da expectativa da miudagem, pelo impacto sofrido pela "carruagem de Serpins", onde viajávamos, quando a automotora lhe era atrelada, em Coimbra, levando-nos até à Lousã;
Lembro-me do prazer de espreitar pela janela, cabelos ao vento, e da cara e dentes enfarruscados, com o fumo do comboio a carvão;
Lembro-me da camioneta de caixa aberta, do meu padrinho Arménio, que nos levava da "Ti Martinha" até um pouco antes da ponte do Colmeal, novamente os cabelos ao vento e à poeira da estrada, que ainda não era alcatroada;
Lembro-me da sopa deliciosa (ainda lhe sinto o cheiro!) da prima Hermínia "da Eira", com que nos recebia carinhosamente, como galinha a proteger os seus pintos debaixo da asa...
Lembro-me do primeiro mergulho no rio, para lavar toda aquela sujeira...
Lembro-me das colegas em Lisboa que, em Outubro, no recomeço das aulas, me diziam tristemente, «...eu fiquei cá, não tenho terra...» e eu tinha tanta pena delas!
Gostei muito de ler. Apreciei a grande sensibilidade deste jovem. Relembrei a minha juventude, os bailaricos, as caminhadas. As idas à praia da Cruz Quebrada, a pé desde a Amadora. O regresso nas camionetas do Chora. Belos tempos em que o tempo corria mais lento e eu sentia pena de não ter uma terra longe para visitar.
14 outubro, 2021
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