No fim-de-semana de 3 e
4 de Junho, a União Progressiva da Freguesia do Colmeal rumou ao Alentejo,
concretizando uma das viagens programadas para o presente ano no seu Plano de
Actividades.
Campo Maior e Elvas
foram os destinos de eleição para esta “escapadinha”,
que nos permitiu melhor ficar a conhecer uma região marcada pela natureza e
pelo seu rico património. Uma imensa paisagem natural que se estende da
planície às agrestes serras fronteiriças, tal como pudemos comprovar, quase no
final da nossa visita, do alto do Forte da Senhora da Graça.
O Município de Campo
Maior encontra-se localizado no nordeste alentejano, distrito de Portalegre.
Sentinela de fronteira, a história de Campo Maior é uma história de guerra, de
que resta, como testemunho, a sua poderosa Fortaleza. Passou por todas as
guerras, privações e desastres. Se foi brilhante a defesa da praça, em 1712 e
em 1762, foi heróica a resistência face aos sítios que a fizeram capitular em
1801 e 1811. Mas a explosão em 1732, do paiol instalado na velha Torre de
Menagem, que, num ápice, fez desaparecer dois terços da vila, foi uma
verdadeira hecatombe.
Começámos este nosso
primeiro dia com uma visita ao Centro de Ciência do Café, um espaço de características
únicas na Península Ibérica.
Aqui se pretende
mostrar e percorrer todo o ciclo do grão do café, desde a plantação em terras
longínquas, passando pela fase de torrefacção, até ser bebido.
Conhece-se também a
história da Delta e do seu fundador, Comendador Rui Nabeiro.
A caminho da Igreja
Matriz e da Capela dos Ossos, admirámos o belo edifício da Câmara Municipal, da
época de Quinhentos, erguido na actualmente designada Praça Velha, e o
pelourinho, que lhe fica fronteiro.
Esta praça constituiu,
desde meados do século XVI às primeiras décadas do século XVIII, o centro
político, administrativo, comercial e cívico do concelho de Campo Maior.
A Igreja Matriz de
Campo Maior ou Igreja de Nossa Senhora da Expectação começou a ser construída
no final do reinado de D. Sebastião (1557-1578). É monumental com os seus nove
altares barrocos e duas tribunas (de meados do século XVIII). Ocupa um local
central, destacando-se no perfil urbanístico do Centro Histórico, e veio
substituir a antiga matriz trecentista intramuros, que era já pequena para
albergar um número cada vez maior de fiéis. Obra sóbria e harmoniosa da
arquitectura maneirista sofreu obras de restauro e remodelação em épocas
subsequentes à da sua consagração.
A Capela dos Ossos,
monumento que data de 1766, fica adjacente à Igreja Matriz. Foi construída em
memória das vítimas da explosão do paiol da pólvora de 1732. A visita a este
espaço justifica-se pelo facto de ser a segunda maior capela deste género em
Portugal e por, ainda hoje, ao contrário das suas congéneres, conseguir
mobilizar fiéis. Convida à reflexão sobre o efémero da existência. “Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos
esperamos”, lê-se numa placa que recebe todos os seus visitantes.
O almoço foi servido no
restaurante “A Muralha”, no Hotel Santa Beatriz, onde tivemos o primeiro
contacto com a rica gastronomia alentejana. Depois, seguimos para a visita ao
Lagar-Museu e ao Museu Aberto.
O Lagar-Museu, criado a
partir do antigo lagar de azeite que funcionou até meados do século XX, no
agora designado por Palácio Visconde d’Olivã, um dos mais antigos edifícios da
vila, foi inaugurado em 2005. Hoje, chamado de Visconde, por ter sido o
Visconde de Olivã o seu último proprietário, mas antes designado por Casa do
Barata e antes ainda, por Paço. Ali se dá um maior realce aos equipamentos, às
peças e aos objectos que nele eram utilizados, documentando deste modo as fases
de produção do azeite. Trata-se de ilustrar uma das mais antigas tecnologias
ligadas à agricultura, actividade dominante da economia campomaiorense até
meados do século passado. À despedida e muito simpaticamente, a senhora que nos
guiou na visita, explicou-nos como se fazem as flores de papel. E ficou
prometida a nossa ida às Festas do Povo, onde cada rua trabalha o seu motivo,
as suas cores, as suas flores de papel, transformando Campo Maior num imenso
jardim florido.
O Museu Aberto
explica-nos o passado histórico da vila desde as suas origens até à
actualidade. Nele têm sido recolhidos vários documentos de interesse histórico
e de valor etnográfico que mostram aspectos do modo de viver das gentes de
Campo Maior ao longo dos diversos períodos da sua história.
A Praça Militar de
Campo Maior tinha tal importância estratégica na defesa da fronteira leste de
Portugal que, nos finais do século XVIII, foi dotada de um “Assento de
Provisões de Boca” que podia garantir a defesa da vila, se sujeita a cerco, por
vários meses, ou apoiar um exército numeroso como aconteceu no cerco que o
duque de Wellington pôs à cidade de Badajoz, ocupada pelos franceses, em 1812.
A construção e
concepção do Assento, onde está instalado o Museu Aberto, são atribuídas ao
engenheiro militar Tomás de Vila Nova, num relatório militar de 1796.
Na paisagem bela e
incólume que é a planície alentejana de Campo Maior, Siza Vieira ergueu um
edifício original, um volume horizontal, um rectângulo de 40x120 metros, caiado
a branco, dividido em dois pisos na sua maior extensão, e um terceiro piso para
a vertente mais social e pública do vinho. Aí foi criada a sala de provas que
se abre para um terraço panorâmico com relvado e um espelho de água central. Este
terraço panorâmico permite observar a vinha e o olival da herdade bem como
avistar Espanha e a Serra de Portalegre. A serenidade que emana deste volume
simples, contrasta com a complexidade que alberga no interior, onde convivem
espaços monumentais destinados à produção e ao armazenamento, e a abertura das
zonas sociais, concebidas para a prova e fruição do vinho.
Localizada junto às
vinhas, na Herdade das Argamassas, a Adega Mayor é o sonho antigo do Comendador
Rui Nabeiro tornado real pelas mãos do português Siza Vieira, um projecto que
pretende colocar Campo Maior na rota internacional do Enoturismo, uma homenagem
à arquitectura do vinho e da vida.
Ouguela foi a nossa
última paragem antes de rumarmos a Elvas. Ouguela, que já foi vila, é hoje uma
pequena aldeia com cerca de 60 habitantes. Localizada num monte a cerca de 270
metros de altitude, continua a manter o seu ambiente calmo e medieval.
Durante o séc. XVII, o
antigo recinto medieval é profundamente transformado de forma a participar na
defesa moderna da fronteira portuguesa. Recebe uma nova linha de defesa,
preparada para a artilharia moderna e é transformado em aquartelamento militar.
É assim que se desmantela o edifício da Igreja que, pelo menos desde os finais
do séc. XV, dominava a praça do Castelo e o espaço, é transformado em praça
d’armas, fronteira à Casa da Câmara e rodeada pelos aquartelamentos militares e
outros edifícios de apoio. Nesta praça é construída uma Cisterna, reservatório
de águas pluviais, sendo a Igreja transferida para um edifício no canto
Noroeste da muralha, originalmente aberta para praça.
O Castelo de Ouguela era
uma das mais importantes fortalezas militares de defesa da região. Fazia parte da 1.ª linha defensiva do
Alentejo, com as Fortificações de Elvas, Campo Maior, Olivença e Juromenha. De
arquitectura militar, medieval e moderna, constituía-se em elemento essencial à
sobrevivência dos defensores perante um cerco. O grosso das muralhas medievais sofreu
grandes transformações pelas obras setecentistas que lhe conferiram o perfil
actual.
O Hotel D. Luís, em
Elvas, com localização privilegiada em frente ao imponente Aqueduto da
Amoreira, foi a última paragem deste primeiro dia. Para jantar e dormir. Em
sala reservada para o Grupo UNIK/UPFC, degustámos novamente a gastronomia
regional. No final, uma surpresa. Um aniversariante. Apagadas as luzes e cantados
os parabéns. António Santos, com visível emoção ouviu as palavras proferidas e
o poema lido por Santos Almeida, que lhe entregou uma prenda dos colegas da
União. Depois, com a lágrima por perto, a todos agradeceu, sensibilizado, por
tão grata surpresa.
UPFC
Fotos
de Carlos Gama e A. Domingos Santos
Apoio
Turismo do Alentejo - ERT
2 comentários:
Brilhante reportagem fotográfica, com muitos motivos de interesse: Gastronomia,Património,Arquitectura,Museologia,Poesia, etc., etc.,
Foram dois dias bem passados e com excelente companhia de todo o grupo e de todos aqueles guias que nos informaram com muito dos seus conhecimentos e saber.
A nossa cultura individual ficou mais rica.
Bem haja à direcção do Colmeal, que nos proporcionou, este belo passeio.
Manuel Lemos - Associado.
Gostei muito das fotos que mostram, deve ter sido um passeio agradável, desta vez não fui porque cheguei dois dias antes de Espanha e também porque é uma zona que conheço muito bem, espero pelo aniversário da União, aí só mesmo motivo de força maior me fará não ir
Rosário Cardoso
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