Na manhã de domingo, dia 8 de Junho, o
autocarro saiu pontualmente às oito horas de Sete Rios, com seis dezenas de
sócios e amigos da União Progressiva, rumo a Tomar, para uma visita ao Convento
de Cristo. O motivo principal para esta visita prendia-se com a curiosidade de
já se poder apreciar a Charola, durante muitos anos vedada ao público e que
agora se apresenta integralmente restaurada.
A Charola, célebre por ser, na sua
origem, um dos mais extraordinários exemplos da arquitectura templária,
pertence à campanha de obras românica e gótica, dos séculos XII e XIII.
Trata-se de um edifício poligonal, com oito faces no tambor central,
desdobradas em dezasseis faces no exterior, que pretende reproduzir idênticos
edifícios de planta centralizada, conhecidos dos templários e inspirados na
Igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém. Concluída no século XII, possuía porta a
nascente que se manteve em funcionamento até à reforma manuelina.
Sob o impulso do Infante D. Henrique, quando este foi governador da Ordem de Cristo, 1420 – 1460, procedeu-se à primeira alteração do edifício, com abertura de dois tramos a poente, de modo a instalar-se aí o coro e a tribuna. Desta época datará também o tubo de órgão de madeira e couro, ainda visível na parede norte da Charola. A maior campanha de obras é promovida mais tarde por D. Manuel I, entre 1495 e 1521, durante a qual se rasgam completamente dois, dos dezasseis tramos da parede externa, abrindo o espaço a Ocidente, através do grande arco triunfal que unirá este espaço à nova igreja manuelina. É desta época, também, o programa decorativo que acentua a riqueza do local.
O enriquecimento do programa
iconográfico da Charola, transformada em capela-mor da nova igreja, incluiu
escultura, pintura sobre madeira e sobre couro, pintura mural e estuques.
Particularmente importante foi a descoberta, nos nossos dias, de pinturas
contemporâneas de D. Manuel I, que cobriam a abóbada do deambulatório, e que
haviam sido recobertas de cal em época posterior. Foram removidas na campanha
de obras para recuperação da Charola realizada no final dos anos 80 do século
XX. A Charola é um conjunto espectacular, testemunho não só da arquitectura
templária, como, também, exemplar magnífico do esplendor manuelino constituindo
motivo de visita obrigatória do Convento de Cristo.
Na visita que se efectuou durante cerca de duas horas e em que percorremos todo o Convento, detivemo-nos diante da Janela do Capítulo, o mais conhecido exemplo de arquitectura manuelina, ilustrativo do naturalismo exótico e dos pormenores marítimos. Passeamos pelos vários claustros, originalmente góticos, com estrutura de arcadas quebradas sobre colunas grupadas. O Grande Claustro iniciado nos anos 50 do século XVI reflecte a paixão de D. João III pela arte italiana. Escadas em espiral ocultas nos cantos conduzem ao Terraço da Cera. Outros claustros como o da Lavagem, do Cemitério, da Micha, dos Corvos, da Hospedaria, de Santa Bárbara e o de D. João III, todos eles rectangulares mereceram particular atenção dos participantes. O refeitório e a cozinha, distinguiam-se também pela sua dimensão.
Terminada a visita, o grupo acrescido com mais cinco associados que se deslocaram propositadamente do Colmeal, rumou até à Barragem do Cabril, onde a paisagem e a gastronomia regional o esperavam. Bucho e maranhos iam fazer as honras da casa…
O Bucho tem a carne de porco como base e o frango,o arroz, o pão e a laranja
como outros ingredientes. O recheio farto, macio e aromatizado constitui um dos
elementos do sucesso desta iguaria tão portuguesa. O Maranho tem como
ingredientes principais as carnes de cabra de porco, presunto, chouriço, arroz e hortelã.
Após o almoço que decorreu em ambiente
de alegria e de boa disposição subimos ao Monte de Nossa Senhora da Confiança,
fronteiro ao restaurante, onde pudemos apreciar a paisagem deslumbrante sobre a
barragem e de toda a zona envolvente.
A Sertã aguardava-nos para a próxima paragem. Junto da vulgarmente conhecida por Ponte da Carvalha, Ponte Velha ou Ponte da Várzea, que sempre assumiu uma importância fundamental e estratégica como uma das portas de entrada na vila, aproveitámos para tirar mais umas fotografias e admirar toda aquela área, sempre a ser alvo de melhorias constantes.
A visita que a seguir fizemos ao Centro Geodésico de Portugal significou estarmos no centro do país. Com uma altitude de 600 m, permite a quem o visita uma visão de 360º sobre um horizonte vastíssimo, em que se destaca a Serra da Lousã e, com tempo limpo, a Serra da Estrela, esta quase a 100 km de distância. O Museu da Geodesia com uma sala de exposição temática, pequeno auditório, loja de recordações e bar, enriquece este espaço num local que é uma das referências do concelho.
O nosso programa seria concluído com uma visita ao Sardoal, só possível graças à colaboração que nos foi prestada pelo Departamento de Turismo e Cultura da Câmara Municipal e à simpatia e empenho de dois dos seus Técnicos que nos acompanharam na visita guiada. Conhecida como a “Vila Jardim”, tivemos possibilidade de visitar a Igreja Matriz e a Igreja da Misericórdia. Dedicada a São Tiago e São Mateus, a Matriz do Sardoal foi fundada nos últimos anos do século XIV, sendo objecto de intervenções nas centúrias seguintes. Da campanha quatrocentista subsiste a estrutura exterior. A imponente torre sineira com coruchéu, foi já edificada no século XVI. O interior do templo divide-se em três naves de cinco tramos e as naves laterais albergam retábulos em pedra de estrutura maneirista. Ladeando o arco triunfal foram construídas duas capelas, das quais se destaca a Capela do Sagrado Coração de Jesus, onde se encontra colocado o retábulo primitivo da matriz, da autoria da oficina de Vicente Gil e Manuel Vicente, executado no primeiro quartel do século XVI. Do conjunto das sete tábuas que compõem o retábulo avulta "o notável Cristo Abençoado, um dos melhores quadros dessa Escola, pela qualidade do desenho, densidade do olhar sofrido e sentido vigoroso do pathos espiritual". Na capela-mor sobressai o imponente retábulo joanino, de talha dourada. No conjunto integram-se as imagens de São Tiago e São Mateus, patronos do templo, em mísulas laterais, e a Imaculada Conceição ao centro. O espaço é revestido por painéis azulejares atribuídos a Gabriel del Barco. Estas composições, apresentando a Aparição da Virgem do Pilar a São Tiago e São Tiago Mata-Mouros, são consideradas a última obra do azulejador espanhol.
As primitivas origens da igreja da Misericórdia remontam ao ano de 1370, ano em que o Rei D. Fernando, acompanhado pela rainha D. Leonor, se refugiaram em Abrantes devido à peste que assolava a cidade de Lisboa. Por ter gostado muito do local, mandou erguer uma pequena ermida. A pequena capela foi entretanto ampliada, sendo substituída pela actual igreja que data de 1551. A imagem da Virgem da Misericórdia recua até ao século XV. Destaca-se da fachada principal o pórtico renascentista, de pedra de Ançã, da oficina de João de Ruão.
O interior da igreja é de nave única, decorada a azulejo azul e branco, com motivos de albarradas. O altar-mor é em talha dourada, de estilo Joanino, com trono actualmente decorado com uma escultura de S. José da Sacola.
A finalizar, uma visita ao “Cá da Terra”, um espaço agradável e acolhedor onde se faz a promoção e comercialização de produtos locais. Depois foi o regresso a Lisboa.
UPFC
Fotos de A. Domingos Santos e Francisco Silva
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