04 janeiro 2014

Estrada do Colmeal


Leves considerações sobre a falta da acção municipal

   Está de parabéns a freguesia do Colmeal devido à sua briosa e prestante «União Progressiva». Vai, finalmente, ter uma estrada de ligação com a estrada de Coimbra a Castelo Branco, vendo assim realizada a sua velha aspiração.
   Grandes e muito apreciáveis têm sido os benefícios realizados pela «União Progressiva», justificando louvavelmente a razão do seu título.
   Desde que conhecemos o povo do Colmeal, e há mais de 50 anos, ouvíamos clamar pela estrada e por um chafariz. Teve o Colmeal, um influente político, pelo menos “eleiçoeiro”, mas nunca se viu um melhoramento público de valor, porque mais se cuidava do interesse pessoal.
   Felizmente as coisas modificaram-se, o povo olhou para si e viu quanto valia, se se unisse e ei-lo no bom e criterioso caminho. Colmeal não quis ficar indiferente, e os seus filhos, numa compreensão inteligente, fundaram a sua comissão de melhoramentos a que deram o título feliz e sugestivo de União Progressiva da Freguesia do Colmeal.
   Honrado o título, reuniram-se, e de tal modo têm sabido actuar que grandes e valorosos são já os benefícios públicos realizados no Colmeal e em diversas povoações da freguesia.
   O Colmeal foi dotado com um belo chafariz e um marco fontanário, com água abundante de boa qualidade e em condições higiénicas, para só citarmos o melhoramento de maior importância, tão grande e de tão reconhecida utilidade, que, só por si, honraria a «União Progressiva».
   Agora, porém, outro melhoramento de grande vulto está já em activo andamento; a estrada do Rolão ao Colmeal, em grande parte já estudada e dotada com uma apreciável verba: 49.618$00.
   Claro está que, tal estrada, não será apenas um ramal de ligação do Colmeal à estrada Nacional 40-2ª. Isso seria muito pouco e não é esse, decerto, o desejo da freguesia do Colmeal.
   Em tempo dizia-nos um patrício que muito se tem interessado pelos melhoramentos da sua terra, ou melhor, muito tem pugnado pelos melhoramentos dos pobres povos que a eles têm incontestável direito, que as Câmaras Municipais estavam descurando um assunto muito importante, do qual, desprezado como estava sendo, podia resultar a ruína das sedes dos concelhos. É uma verdade incontestável.
   A vila de Góis, depois de ligadas as freguesias do Cadafaz e Colmeal com a estrada Nacional 40-2ª, fica privada, comercialmente, da freguesia dos povos das freguesias da serra, os quais só irão à sede do seu concelho para pagamento de contribuições e impostos. Na freguesia de Alvares, como muito bem nos dizia um nosso conterrâneo, nascem e morrem algumas criaturas, embora com idade avançada, sem conhecerem a sede do seu concelho. No entanto, conhecem perfeitamente Lousã, Pedrógão Grande e Coimbra, devido a terem com essas vilas e cidade mais fácil meio de comunicação.
   Não devia Góis ter deixado de insistir pela construção da estrada de ligação directa com as freguesias do Cadafaz e Colmeal, tendo procurado atrair a si, para tão importante e útil melhoramento, as colectividades organizadas para melhoramentos dessas freguesias, cuja importância não era para desprezar.
   Quer-nos parecer que, conjugados os esforços das Comissões de Melhoramentos, com os da Câmara Municipal e o auxílio do Estado, a estrada de Góis a Cebola, de que tanto se falou mas faltou que a iniciativa partisse de onde devia partir, teria sido levada até onde fosse possível, embora para isso fosse necessário dar-lhe uma nova feição e finalidade.
   Se se tivesse pensado a sério na utilidade da ligação das freguesias à sede do concelho, ter-se-iam reunido todos os recursos e boas vontades para esse fim, e as freguesias não se teriam disposto à acção isolada, ficando do mesmo modo sem facilidade de comunicação com a sede do concelho e da comarca.
   O Colmeal, enquanto lhe não for possível prolongar a sua estrada até ligar a Celavisa, fica do mesmo modo a lutar com dificuldade para obter um socorro urgente, para transportar um sinistrado ou doente em estado grave ao hospital mais próximo. Continua a transitar por veredas, quase intransitáveis, para ir às sedes do concelho e da comarca.
   Quando um dia, atentas as dificuldades de continuar a construção da estrada de Góis ao Colmeal, seguindo a margem do rio, alvitrámos a construção de uma estrada, partindo da Portela da Cerdeira para as freguesias do Cadafaz e Colmeal, levantou-se grande alarido, porque queríamos assim matar a vila de Góis, afastando dela os elementos de vida comercial. A estrada havia de fazer-se, mas partiria da vila como era natural e de justiça.
   Achámos muito bem, e pena, temos, que tão justa indignação se ficasse apenas numa manifestação platónica de palavreado.
   A Liga de Melhoramentos da Freguesia do Cadafaz viu-se na necessidade de lançar mão do recurso por nós alvitrado e não tardará a gozar o benefício da sua acertada resolução.
   Agora mesmo acabámos de ter a agradável notícia de estar já feito o estudo até CôrteRedor. E o nosso amigo, sabendo quanto nos satisfazem tais notícias, acrescenta:
   Estamos a pensar no prosseguimento para a Cabreira e Sandinha, e também numa Casa do Povo com posto médico, um grande salão e uma divisão privativa com secretária e estante para arquivo de cada um dos seguintes serviços: Junta, Regedoria, Juízo de Paz, Registo Civil, etc. Pensámos noutro posto médico com torre de relógio para Cabreira, cujo projecto desencantei em Coimbra, e no telefone para o Cadafaz que, senão nos enganarem, deve ser montado este ano.
   Muito nos satisfazem tão agradáveis notícias que nos denunciam vitalidade e acção de um povo, que trabalha e vai até ao sacrifício para obter um mínimo de comodidades exigidas pelo progresso, engrandecendo a sua terra e colocando-a a par da civilização social.
   Os povos do Colmeal e Cadafaz são dignos da nossa maior admiração pela forma como estão trabalhando em benefício do bem comum, agindo conforme lhes é indicado pelos seus inteligentes e dedicadíssimos orientadores, reconhecendo quanto esses trabalham e a energia que despendem em benefício das suas terras.
   Muitas vezes temos dito e repetimos: Haja união em torno das boas vontades e obteremos o que desejamos.

ALVES CAETANO
in A Gazeta das Serras, nº 88, 20 de Abril de 1939
O Apostolado Cívico pela Escrita, pág. 464 e 465, Lisboa 2013 

1 comentário:

Anónimo disse...


Bem que um empenho e uma união semelhantes a favor do bem comum seriam necessários atualmente! Na referida estrada, os buracos no piso foram tapados na zona do Colmeal pouco antes das últimas eleições autárquicas, mas continuam, passados mais de dois meses, abertos e ameaçadores no troço Colmeal-Ádela.

Lisete de Matos

Açor, Colmeal